
Na foto: Clyde Morgan
Produção brasileira que documenta a potência da dança negra contemporânea ganha destaque internacional com exibição inédita na cidade de Lyon
O documentário Danças Negras, dirigido por João Nascimento e Firmino Pitanga, será exibido dia 26 de junho na Maison de La Danse em Lyon — instituição pública vinculada ao Ministério da Cultura da França, dedicada ao estudo, criação, formação e difusão da dança na Europa.
O filme nasceu de uma reflexão iniciada por João Nascimento há cerca de dez anos, no contexto de sua trajetória com a Cia Treme Terra, companhia que fundou em 2006 e que se tornou referência nacional na pesquisa de dança contemporânea. A partir da necessidade de registrar vozes, corpos e ideias que fundamentam uma estética e uma política da dança negra no país, surgiu o impulso para a realização do documentário.
Com uma abordagem que articula arte, ancestralidade, política e antropologia, Danças Negras registra expressões corporais e sonoras oriundas das diásporas africanas e seus desdobramentos no Brasil. A narrativa do filme se destaca tanto pela força dos depoimentos quanto pela linguagem visual que coloca os corpos dançantes como protagonistas da história.
Entre os entrevistados estão nomes fundamentais das artes do corpo, da capoeira, dos terreiros de candomblé, do movimento negro e do meio acadêmico. Entre eles, destacam-se participações exclusivas de Raquel Trindade (falecida em 2018), Makota Valdina (falecida em 2019) e Mestre Lumumba (falecido em 2023).

Na foto: Edileusa Santos
Segundo João Nascimento:
“Danças Negras trilha caminhos poéticos fundamentados na ancestralidade, nas memórias marcadas em corpos que dançam histórias, movimentações estéticas, políticas e sonoras oriundas das diásporas africanas no Brasil e outros desdobramentos urbanos marcados pela transculturalidade.”
Registrar as matrizes negras da diáspora africana na dança contemporânea é, segundo os diretores, um ato de resistência contra o silenciamento e a invisibilização das nossas identidades.
“Desde o período escravocrata, as estratégias coloniais tentaram apagar nossas histórias. No Benin, antes de atravessar a ‘porta do não retorno’, nossos ancestrais eram submetidos ao ‘ritual de esquecimento em volta do Baobá’”, pontuam os diretores.
O antropólogo Kabengele Munanga, em seu depoimento no filme, reforça:
“O racismo é uma ideologia que consiste em inferiorizar os outros, negar a humanidade dos descendentes de africanos, a sua capacidade de produzir obras de arte e culturas. As artes africanas foram consideradas primitivas, inferiores. Foi preciso tempo para se reconhecer que a arte negra tem raízes profundas na cultura de um povo. Porque arte não cai do céu.”
Desde seu lançamento oficial em 2020, Danças Negras foi exibido em mais de quinze salas de cinema no Brasil e circulou amplamente por mostras, cineclubes, universidades, escolas públicas, canais de televisão, espaços culturais e festivais.
Agora, o filme alcança um novo marco ao integrar a programação oficial do projeto Camping, do Centre National de la Danse (Pantin), no contexto do Ano França–Brasil / Brasil–França, com exibição na Maison de la Danse, em Lyon — uma das principais plataformas europeias dedicadas à dança. A participação consolida o reconhecimento internacional da produção, que tem se firmado como uma das referências centrais da dança negra contemporânea brasileira.

Cena do Filme Danças Negras
SINOPSE
Danças Negras é um documentário poético de 72 minutos que se aprofunda na ancestralidade e nas estéticas negras em movimento. Corpos que dançam histórias, políticas e sonoridades originadas nas diásporas africanas. Com entrevistas inéditas de mestres e mestresas da cultura negra, a obra propõe um mergulho em memórias vivas e resistências em dança.
Entrevistados(as):
Clyde Morgan, Makota Valdina, Edileusa Santos, Raquel Trindade, Lia Robatto, Kabengele Munanga, Helena Katz, Dinho Nascimento, Salloma Salomão, Mestre Felipe de Santo Amaro, Fernando Ferraz, Mestre Lumumba, Carlos Moore, Firmino Pitanga e outros nomes da cena artística.
FICHA TÉCNICA
Brasil, 2020 | 72 min | Cor
Direção: João Nascimento e Firmino Pitanga
Roteiro e Trilha Sonora: João Nascimento
Montagem e Edição: Denison Luz
Produção Executiva: Fernanda Rodrigues
Produção: Kalakuta Filmes
:: SOBRE OS DIRETORES ::
JOÃO NASCIMENTO
Artista multidisciplinar, capoeirista, cineasta e pesquisador das culturas negras em diáspora. É diretor-fundador da Cia Treme Terra, onde dirigiu espetáculos como Cultura de Resistência, Terreiro Urbano, Pele Negra, Máscaras Brancas, Anonimato – Orikís aos Mitos Pessoais Desaparecidos e Florestas de Odé. Em 2022, concebeu e interpretou o espetáculo Caminhos Abertos. Em 2023, coordenou o projeto Corpo Mocambo no Centro de Referência da Dança de São Paulo e idealizou a Escola Livre de Dança Negra Contemporânea (ELDANC).
FIRMINO PITANGA
Coreógrafo, licenciado em Dança pela UFBA, onde tornou-se professor no departamento de técnicas corporais (2005 e 2006). Integrou o grupo de dança contemporânea da UFBA, sob direção de Clyde Morgan, apresentando-se no II FESTAC em Lagos (Nigéria, 1977). Nesta mesma época dirigiu o corpo de dança do programa Axé Se Liga Brasil, da TV Band. Fundou o Grupo Bata-Kotô e a Companhia Balé de Arte Negra, da Umes. Desde 2010 é diretor da Cia Treme Terra, dirigindo os espetáculos Terreiro Urbano, Pele Negra, Máscaras Brancas e Anonimato – Orikís Aos Mitos Pessoais Desaparecidos. Realizou a direção do documentário Danças Negras.
REDES SOCIAIS E TRAILER
Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=Cttak2wKzJI
Site Centre National de la Danse: https://www.cnd.fr/fr/program/4858-danas-negras
Instagram: @dancas.negras
Instagram: @ciatremeterra