MUSEU DA DANÇA

A expressão que nos move é saber que estamos NumCorre

Imagem: Beto Assem | Segunda, 23 de Outubro de 2023 | por PPG Artes da Cena/UNICAMP |

Por Kevelyn Pestana

Em uma ensolarada tarde de domingo, do dia 17 de setembro, a Bienal Sesc de Dança 2023 reuniu um público diverso, composto por famílias, amantes da dança e observadores, no Jardim do Galpão do SESC, para prestigiar o espetáculo "NumCorre". "NumCorre", foi apresentado pela companhia Núcleo IÊÊ, com direção artística de Rafael Oliveira, composta por seis intérpretes, dois musicistas e um poeta. Este espetáculo nos levou de volta às nossas lembranças de infância, às brincadeiras de pega-pega, estátua, vivo ou morto, cirandas e corridas. A coreografia foi fundamentada na capoeira e nas vivências periféricas, trazidas pelos integrantes do Núcleo, do Itaim Paulista, Zona Leste de São Paulo. A apresentação incorporou a ginga, a mandinga, as danças urbanas e os movimentos circulares, incluindo quedas, recuperações, acrobacias, pausas e corridas. No entanto, o que tornou a apresentação ainda mais cativante foi a proposta de interatividade do Núcleo IÊÊ.

Considerando que o espetáculo aconteceu ao ar livre, era natural que houvesse ruídos da plateia e do ambiente ao redor. No entanto, desde o início, o Núcleo conseguiu prender a atenção do público, marchando em cena e recitando poesia. Na medida em que o espetáculo avançava, o público era convidado a participar das brincadeiras e das canções, tornando-se parte integrante da performance.

Sabemos que uma apresentação ao ar livre e interativa tem seus desafios e contratempos, e já que estamos falando de brincadeiras o Núcleo IÊÊ não deixou a “peteca cair” em nenhum momento. As crianças se tornaram protagonistas, e os intérpretes mostraram uma notável atenção e cuidado com elas, a ponto de uma criança pegar um pandeiro e tocar no palco durante boa parte do espetáculo, e dos intérpretes a incluíram harmoniosamente na apresentação. Em outro momento, outra criança se aproximou de um dos intérpretes que estava dançando e iniciou uma conversa, e o intérprete, mesmo dançando, interagiu e respondeu à criança sem perder o compasso.

Alguns podem indagar: - “Ah, mas se deixar o público tão livre corre o risco de prejudicar a execução da proposta do grupo!

No entanto, o Núcleo IÊÊ conseguiu equilibrar essa interatividade na medida certa. Eles mantiveram sua energia e fluidez, souberam chamar a atenção do público. Eles mudaram de posição, alternando momentos de dança para momentos musicais e de poesia, combinando as três linguagens. Além disso, introduziram elementos da capoeira e ensinaram canções e deram vida às brincadeiras.

Toda essa dinâmica permitiu que o Núcleo IÊÊ transmitisse e ensinasse mais sobre a cultura da capoeira e suas vivências periféricas. Apesar de o espetáculo ser destinado às crianças, sua mensagem e reflexões tiveram um impacto significativo no público adulto.

Vivemos em constante movimento, seja no trabalho, nos estudos, na família. A vida nos impulsiona a correr, e o tempo nunca para. No entanto, "NumCorre" nos lembra da importância de manter a leveza e a alegria, de relembrar quem já fomos e as tradições que nos precederam. Devemos brincar como crianças, não deixar que o tempo nos engane e não enganar o tempo e buscar qualidade em nossos momentos, valorizando o "corre" que nos move no dia a dia, pois é esse movimento que nos faz sentir verdadeiramente vivos. Então a expressão que nos move é saber que estamos NumCorre! 


* Kevelyn Pestana é formada em Licenciatura em Dança pela Universidade Cândido Mendes- Rio de Janeiro. É coordenadora do Projeto Dança em Ação, onde desenvolveu parceria com o Departamento de Cultura da cidade de São João da Boa Vista. É integrante do grupo de pesquisa Dança em TrêsTempos, onde realiza sua pesquisa corporal através do Universo Feminino.  É professora de jazz e heels dance no projeto social Núcleo de Formação Artística da cidade de Aguaí.

** Esta resenha foi feita dentro da disciplina "Tópicos Especiais em Arte e Contexto: Produção Crítica em Dança", sob a orientação da Profa. Dra. Maria Claudia Alves Guimarães, no Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Unicamp. A disciplina teve como foco a 13a. Bienal Sesc de Dança, contando com a parceria do Sesc Campinas. 

 

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