#50 colunas

Um ano, 50 textos, entre o “obrigado pela leitura” e o “tem alguém do outro lado?” 

Recentemente, a 3º sinal completou um ano. E essa semana, chegamos ao 50º texto! A coluna surgiu em uma conversa sobre os espaços onde se fala da dança, e as discussões que a gente gostaria de ter (sobre a dança, a partir da dança) em tantos lugares onde ela quase não aparece.

Publicar online é desses projetos esquisitos. A maior parte do tempo, eu me sinto batendo no vidro da tela, enfiando a cara na câmera pra tentar ver do outro lado: alô? tem alguém ai? vocês tão me ouvindo?

Um texto novo, toda semana. O desafio nunca pareceu realmente fácil, mas de tempos em tempos eu tenho umas semanas complicadas. O compromisso e a regularidade são desses fatores completamente fundamentais na organização dos tempos de hoje. E extremamente complexos, no meio de todo o resto da vida.

É uma questão bem além de ter assunto. Eu tenho uma lista salva de uns 40 e tantos temas potenciais pra discutir por aqui, e sempre listando mais coisas. Mas entre o tópico estar listado e eu conseguir, nesse dia, nesse prazo, nessa semana, desenvolver aquilo de alguma forma que me faça sentido, já é outra história.

Quantos textos ficaram pela metade no caminho? Toda semana, o risco é o de não avançar o bastante. Ser superficial. Não dar conta. Não contemplar o tanto de ângulos e de possibilidades que a gente vê em tudo que é da nossa área.

O risco soa maior quando a gente não tem muita câmara de eco. A 3ºsinal veio como uma ideia pra um espaço onde esse tipo de iniciativa não existia. Existe agora, mas se essa coluna pára, ela se torna só mais um de uma lista enorme de projetos de dança que não continuaram. A continuidade é o desafio de todo mundo que vive e trabalha nas artes.

A regularidade, o escrever toda semana, me coloca de frente com esse paralelo, que os artistas da dança contornam há gerações. Eu fico aqui, assombrado com um ano, com 50 textos, e olhando pras companhias fazendo 20 anos, 30 anos, 50 anos, e sempre em choque. Nesse ambiente tão árido, de onde é que essa gente tira força pra tanto tempo, tanto trabalho, tanta arte?

Empresto um pouco deles. Respiro fundo. Deixo um texto começado de lado. Penso no tema pra outro. Penso no tema pro próximo. Penso no trabalho em frente, e no tanto de coisa que é preciso conversar, criticar, debater, registrar, pontuar, problematizar, especular, inventar, escrever da nossa área.

Ainda maior que isso, tem um tanto de coisa que é preciso dançar, mas esse trabalho fica pra outros. Da minha parte, esperando que tenha alguém lendo do outro lado, eu fico pensando nos próximos 50 textos, e torcendo pelos próximos anos. Obrigado pela companhia.


* Henrique Rochelle é crítico de dança, membro da APCA, doutor em Artes da Cena, e Professor Colaborador da ECA/USP. Editor dos sites da Quarta Parede, e Criticatividade.

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*Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete a opinião do Portal MUD.


Henrique Rochelle

Henrique Rochelle

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Crítico de dança, Doutor em Artes da Cena (Unicamp), Especialista em Mídia, Informação e Cultura (USP), fez pós-doutoramento na Escola de Comunicações e Artes (USP), onde foi Professor Colaborador do Departamento de Artes Cênicas. Editor do site Outra Dança, é parecerista do PRONAC, redator da Enciclopédia Itaú Cultural, Coordenador do método upgrade.BR de formação em dança, e faz parte da Comissão de Dança da APCA desde 2016.