Crédito das Fotos: Batalha de improvisação cênica no encerramento do curso métodos de Improvisação, Contact Improv e View Points, Campinas/SP, 2016. Foto de Tais Mazzoco.
Às leitoras e leitores do Portal MUD quero apresentar hoje um pouco do universo da formação em Improvisação de Dança. Ainda que presente de forma transversal a praticamente todas as modalidades de dança, a Improvisação ganhou autonomia desde a metade do século XX, na constituição do que conhecemos hoje como Dança Contemporânea (Louppe, 2012).
Improvisar é fazer escolhas em tempo real, mas sempre a partir de parâmetros bem definidos pelas técnicas manejadas por quem dança e aspectos da composição instantânea. Mais do que um meio para levantar material que depois pode ser organizado coreograficamente, a Improvisação pode ser em si mesma um ato coreográfico.
Erroneamente muitos bailarinos e bailarinas acreditam que improvisar significa realizar algo sem ensaios, treinamentos ou reflexões. Longe disso, o desenvolvimento técnico dentro do campo da Improvisação leva bastante tempo e exige dedicação. Encontrar interesses legítimos que dão vida ao trabalho do corpo no espaço é algo que pode ser aprendido e desenvolvido. E, como tudo, requer método.
Imersa em diferentes métodos de Improvisação com a intenção de ajudar aos que me procuram para se aperfeiçoarem, acabei por desenvolver, ao longo de 7 anos na extensão universitária da UNICAMP, uma pedagogia artesanal orientada pelo estudo do movimento de Steve Paxton (1972), o Contact Improvisation, que ficou conhecido no Brasil como Contato Improvisação (CI). Como parte da pedagogia, meus estudantes adentram a ARTE DE FORMULAR PERGUNTAS para a prática, alimentando o cultivo da relação direta entre quem dança e a dança improvisada.
Convido leitoras e leitores a conhecerem uma das listas organizadas na Formação Contato 2017, reveladoras de aspectos que estão em jogo na construção de danças improvisadas a partir de Contact Improv. Essa lista foi publicada originalmente no “Chão de Dança, ideias movediças”, blog integrante da Rede de blogs de divulgação científica da Universidade Estadual de Campinas. Desfrutem!
Lista de Perguntas
1. Como se organiza e desorganiza a relação com a gravidade?
2. Empatia é a mesma coisa que sintonia?
3. Dança, dentro de você onde estou e para onde vou?
4. Quem sou eu na prática e por que queria ser alguém na prática?
5. De que modo propor movimentos generosamente?
6. Como desenvolver a escuta na dança?
7. Como as preparações na chegada energética e na chegada física (UnderScore de NSS) podem ser guiadas para um corpo com maior escuta, favorecendo as qualidades empáticas?
8. Como se conectar mais e melhor com os outros improvisadores?
9. O que produz empatia?
10. Como perceber uma possível sistematização do estudo quando este é mais orgânico?
11. O que você tem a oferecer ao grupo?
12. Como fluir com?
13. Existe um movimento para o entre, nos possíveis alinhavos entre os múltiplos de dois?
14. Como desenvolver a percepção? Como aceitar?
15. Onde eu vou chegar com você?
16. Como sair da minha zona de conforto na minha prática?
17. Como ser generoso sem ser só conduzido?
18. Como eu me desequilibro no outro e para o outro?
19. O que fazer com o olhar que espera, o olhar espectador?
20. É necessário manter uma intenção no movimento para que a prática mantenha uma qualidade?
21. O que há entre o jogo e a sensação?
22. Como transformar a intuição em movimento?
23. Como sustento a improvisação quando cai minha energia?
24. Como escutar o sim e o não do contato?
25. Em que espaço eu posso arriscar mais?
26. Como introduzir as pausas nas danças?
27. Quais são as vias de melhor acesso no meu corpo que me colocam em atenção ou potencializa minha atenção?
28. Durante a última roda noturna a observação dos que dançavam produziram alguma inspiração estética?
29. Como incorporar os diferentes elementos trabalhados do CI, como os que percorremos ontem (toque, pequena dança de Steve Paxton, exercícios de jogo em cena, música) simultaneamente durante a dança?
30. O que é um princípio?
31. Como romper padrões de movimentação e emocionais que impedem maior entrega e desenvolvimento das improvisações a fim de criar cenários mais complexos?
32. Numa JAM eu espero o espaço ou eu devo buscar o espaço que quero ocupar?
33. O idioma energético é fractal em movimento?
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Referências
Carneiro, M. Perguntas de improvisadores em formação. Campinas, 29 mar 2018, Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/chao/perguntas-de-improvisadores-em-formacao/. Acessado em 11dez2018.
Louppe, L. A poética da dança contemporânea. Tradução de Rute Costa. Lisboa: Orfeu Negro, 2012.
Paxton, S. Contact Improvisation: Método para o estudo do movimento do corpo humano na superfície da Terra. Nova Iorque, 1972.
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