O Artista Docente na Atualidade: Reflexões e Experiências na Dança

Na contemporaneidade, a figura do artista docente emerge como um importante elo entre a criação artística e o campo do ensino. A dança, enquanto linguagem viva, exige do docente não apenas domínio técnico, mas também uma postura reflexiva e inovadora para inspirar novas gerações. Como bailarina profissional e professora de dança, ballet e poéticas corporais, minha trajetória, desde atuações em companhias como a Cia Brasileira de Danças Clássicas, minha graduação em Danças e mestrado em Artes da Cena, até minha docência na Faculdade Paulista de Artes, reflete os desafios e as potencialidades dessa atuação integrada.

Arte e Docência: Um Campo de Troca e Transformação
A arte da dança é, por si só, uma prática de dedicação e autodescoberta. No entanto, ao transpor essa vivência para a sala de aula, o papel do docente transcende a técnica. A formação de artistas exige a transmissão de saberes acumulados em metodologias que valorizem a individualidade, promovendo um espaço de criação e reflexão. Nas minhas aulas, procuro aliar a experiência como intérprete às práticas pedagógicas, priorizando tanto a técnica quanto o estímulo à autonomia criativa.
Atuar em instituições de ensino técnico e superior amplia o alcance da formação artística. No ensino técnico, a ênfase na prática convive com reflexões sobre ética, saúde corporal e expressão artística. Já no ensino superior, o papel do professor se expande, integrando pensamento crítico, conexão com contextos socioculturais e a formação de artistas conscientes. Essa abordagem é essencial para lidar com temas como gênero, diversidade e tecnologia, que impactam diretamente o campo da dança.

Dança das Vozes: Integração Corpo-Voz em Poéticas Corporais
Um exemplo claro de como a dança pode dialogar com múltiplas dimensões artísticas foi a disciplina Poéticas Corporais: Movimentos e Sons Dançantes, ministrada por mim, no primeiro semestre de 2024 no curso de Licenciatura em Dança da Faculdade Paulista de Artes. A proposta, fundamentada na integração entre corpo e voz, desafiou os limites tradicionais da dança. Por meio de práticas baseadas nos Fatores Expressivos do Movimento (Peso, Espaço, Tempo e Fluxo) e nas Ações Básicas de Esforço de Rudolf Laban (Deslizar, Chicotear, Flutuar, Pressionar, Pontuar, Sacudir, Socar e Torcer), os estudantes exploraram a relação entre movimento e sonoridade.
Os alunos também foram convidados a criar Haicais (micropoemas) inspirados na pergunta “Por que eu danço?”, utilizando essa reflexão como ponto de partida para suas criações. O processo culminou na mostra Dança das Vozes, um evento que apresentou ao público o resultado dessa pesquisa interdisciplinar. A apresentação revelou a potência expressiva do corpo e da voz, integrados como ferramentas de transformação artística e pessoal.

Reflexões Sobre o Papel do Artista Docente
A experiência na disciplina e o trabalho cotidiano como docente reafirmam que o ensino da dança é um espaço de constante aprendizado e troca. Enquanto ensino, aprendo com os alunos, com suas dúvidas, perspectivas e criações. Esse ciclo de interação reflete a essência do papel do artista docente: inspirar e ser inspirado.
A atuação docente no campo artístico, especialmente na dança, é também um ato de resistência e compromisso com a continuidade da arte. Transmitir não apenas técnica, mas a essência do que significa ser um artista, é plantar sementes para futuras gerações. Projetos de criação como Dança das Vozes mostram como abordagens inovadoras podem potencializar essa missão, conectando o ensino às demandas e transformações contemporâneas.

Conclusão
O artista docente da atualidade precisa ser flexível, criativo e atento às mudanças do mundo. Incorporar questões sociais, culturais e tecnológicas ao ensino é fundamental para formar artistas mais conscientes e preparados para enfrentar os desafios do mercado e da sociedade. Ser bailarina e professora, nesse contexto, é um privilégio e uma responsabilidade que abraço com entusiasmo.
Iniciativas como a disciplina Poéticas Corporais: Movimentos e Sons Dançantes demonstram que a dança é mais do que movimento: é diálogo, reflexão e expressão em sua forma mais profunda. Assim, o trabalho do artista docente é reafirmado como um campo de possibilidades, onde ensino e criação se entrelaçam em uma jornada de transformação pessoal e coletivo.

Estudantes: Adara Dahbur, Malu Santos, Eliza Silva, Lara Souza, Gustavo Melo, Catacarvalho, Julia Amoroso, Juliana Gonçalves, Dalila Santiago, Pyetra Carvalho e Thaís Pontes

Camila Cres

Camila Cres

Ver Perfil

Bailarina formada pela Especial Academia de Ballet de São Paulo. Começou seus estudos na dança aos 5 anos de idade, fazendo aulas de ballet, jazz e sapateado. Graduada em Dança pela Faculdade de Artes do Paraná Curitiba. Especialização em Interpretação em Teatro Musical e mestrado em Artes da Cena, pela Escola Superior de Artes Célia Helena. Fez curso em Londres na Royal Academy of Dance e dançou na Áustria pela cia SIBA. Professora de ballet, jazz e sapateado em escolas de formação e também ministra aulas online de dança.