Roseli Rodrigues e o jazz dance no Brasil

É escassa a bibliografia relacionada à história do jazz dance no Brasil, mas o fato é que a grande mestra Roseli Rodrigues é indiscutivelmente a grande disseminadora e uma das precursoras desta dança em nosso país.

Comprovamos empiricamente essa afirmação ao convidarmos renomados professores de jazz para compartilharem suas metodologias no Laboratório da Dança. Jhean Allex, Anderson Couto, Edson Santos, Andrea Sposito…todos eles possuem um ponto comum em suas trajetórias: Roseli Rodrigues.

O jazz, assim como as danças urbanas e a dança do ventre, começou a aparecer no Brasil, mais especificamente em São Paulo, com a redemocratização na década de 80. O início do fenômeno da globalização, impulsionado pela televisão e posteriormente pela internet, contribuiu com a divulgação e propagação desta linguagem artística.

Roseli Rodrigues (1955 – 2010) começou na dança tardiamente, aos 21 anos. Cursando a graduação de educação física, se apaixonou pela experiência que a dança proporcionava em seu corpo. Matriculou-se no Joyce Ballet, da grande mestra Joyce Kerrmann que inaugurou o jazz no Brasil, e posteriormente tomou aulas de balé clássico no Ballet Stagium. Fundou em 1981 a academia Long Life, que reunia as práticas de dança, ginástica e musculação, o que ressaltava a sua formação multidisciplinar.

Foi no festival competitivo chamado Encontro Nacional da Dança (Enda) que Roseli foi premiada como melhor coreógrafa por uma coreografia performada por 16 bailarinos – todos advindos da faculdade de educação física, que teve como trilha a música Raça, de Milton Nascimento. Nasceu assim a Raça Cia de Dança, que se consolidou como uma cia oficial de jazz dance brasileiro e espalhou fãs e seguidores por onde passou.

A academia se transformou na escola de dança Raça Centro de Artes e se destacou ao expor o entendimento de Roseli de que qualquer corpo podia dançar bem. Segundo Marcela Benvegnu, “O trabalho de Roseli foi sendo reconhecido pela facilidade com que bailarinos inexperientes adquiriam consciência corporal, isso porque a coreógrafa misturava técnicas e às apropriava ao padrão de corpo brasileiro composto por características particulares.”

A contemporaneidade dos anos 2000 promoveu uma transição na linguagem da cia. A fim de se adaptar à dança contemporânea, Roseli convidou coreógrafos como Henrique Rodovalho, Mário Nascimento, Luis Arrieta e Ivonice Satie, mas sempre manteve a preocupação de não perder a movimentação em seus espetáculos em consideração ao seu fiel público, que se manteve durante essa mudança gradual.

Roseli levou seu trabalho nacional e internacionalmente e recebeu diversas premiações. Faleceu precocemente ao 55 anos em 2010, mas sua família, até hoje, trabalha para manter seu patrimônio vivo. Tanto o Grupo Raça como o Raça Centro de Artes estão em atividade e se dedicam ao desafio de, nas palavras de seu filho Renan Rodrigues, atual diretor da escola, “trazer o estilo à contemporaneidade sem abandonar o compromisso com a excelência técnica, originalidade na concepção das obras e comunicação afetiva com o público, itens marcantes no DNA da Família Raça. “ 

Generosa, acolhedora, exigente, genial…os elogios de quem conviveu com Roseli Rodrigues se repetem. O seu legado vive ainda hoje no corpo de cada um dos inúmeros alunos, assistentes e bailarinos que trabalharam com ela, perpetuando, assim, a sua assinatura particular e a sua maneira de pensar.

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REFERÊNCIAS

BENVEGNU, Marcela. Reflexões sobre jazz dance: identidade e (trans)formação. Consulta feita em 07/11/2018 (file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/57465-Texto%20do%20artigo-72881-1-10-20130624.pdf)

Site do Raça Centro de Artes. Consulta feita em 07/11/2018 (https://racacentrodeartes.com.br/fundadora)

Grupo Raça busca nova linguagem explorando dança contemporânea. Matéria publicada na Folha de São Paulo em 22/04/2004. Consulta feita em 07/11/2018 (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac2204200405.htm)

Natália Gresenberg

Natália Gresenberg

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É gestora cultural, idealizadora e diretora do Portal MUD. Advogada formada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pós-graduada em Gestão Cultural pelo Centro Universitário SENAC. Especialista em leis de incentivo à cultura e direito do entretenimento. É consultora em elaboração de projetos e fomentadora de ações de mediação e formação de público.