Dia mundial da dança 2023: Qual a trajetória do corpo que dança?

Crédito das Fotos: Experimento em risografia, realizado na Universidade de Artes Aplicadas em Viena, Áustria

No dia 29 de abril, comemoramos o dia mundial da dança. A data é uma homenagem ao Jean-Georges Noverre (1727-1810), considerado o pai do Ballet como conhecemos. Mas, se me permite, gostaria de agregar algumas perspectivas sobre essa data e difundir ainda mais o seu significado.

Gostaria de pontuar 3 assuntos, o caminho que a dança percorre no corpo que dança, o corpo que vê na dança um caminho de experiência profissional e a dança como contexto do seu tempo. O último tópico parece destoar, mas calma que vamos chegar lá!

A dança é uma experiência única para todos os seres vivos, tudo que se move, de alguma forma, também dança. O movimento é a construção de ações sensíveis que agregam emoção e sensação que nos permite acessar novas lógicas a partir dos sentidos da visão, audição, paladar, olfato e tato. Essa experiência caminha contra a mecanização do nosso corpo, recriando a forma como enxergamos as nossas atitudes no palco, na rua e na vida.

A partir dessa lógica, o movimento que a dança faz em nosso corpo, é fonte primária do significado da palavra emoção: ato de deslocar, mover-se. A vida se torna parte dessa dança e isso afeta as nossas escolhas. O que nos leva ao segundo assunto, quando escolhemos a dança como trajetória profissional.

Ao escolher a dança como profissão, assumimos o papel de experimentar a linguagem da dança, seja nos palcos, nos bastidores, na academia, nas escolas e em todos os lugares que ocupamos com os nossos corpos e ideias. Assim, como a dança passeia em nosso corpo, em forma de sensações, o nosso corpo passeia com a dança pela vida.

Qual a trajetória do corpo que dança? A produtora cultural, pesquisadora e diretora da SIM Cultura, Daniele Sampaio, constantemente realiza esse questionamento. E gostaria também, de somar nesse diálogo com a pesquisa sobre o Corpo Sem Órgãos de Antonin Artaud (1896-1948), com a noção de que devemos pensar as escolhas, ou melhor, o desejo, como um horizonte de possibilidades, e não necessariamente um objetivo em si. Logo, o desejo é uma ação contínua, que ora se concretiza, ora está a ponto de sua realização! Nesse movimento, chamamos de “corporificar” o desejo, esse breve momento de realização e, que logo se transmuta para a próxima ação. O desejo, para além do conceito filosófico, torna-se como uma bússola ou um guia para transformar o esboço de uma trajetória de vida, em um mapa de ações que integra nossa ética artística, política e existencial.

Logo, a figura do corpo que dança, para a dança que compomos como trajetória profissional, é uma possibilidade de re-imaginar futuros, formulando afetos e sensações. O que nos coloca no último tópico e queria que você, leitor, pudesse fazer um exercício em conjunto comigo.

É possível desconciliar a arte do seu contexto? Ou a arte como entendemos hoje, é indissociável do seu tempo? O ponto que queria compartilhar tem a ver com os dois tópicos anteriores, as formas da dança que sobressaem do corpo e atingem a vida. Esse pensamento, nos encaminha a pensar a arte como uma experiência sensorial e estética que nos acompanha no cotidiano, afinal, devemos concordar que a arte é desinteressante quando distante da vida comum.

Artista desconhecido

O ponto que quero chegar e finalmente, comemorarmos o dia mundial da dança é que, o conceito de arte-vida, nos possibilita pensar uma relação mais orgânica com o tempo em que vivemos, e perceber como ele nos afeta, tanto politicamente, economicamente e sensivelmente. Todas essas circunstâncias alteram a nossa percepção e perspectiva sobre as coisas. A pergunta que cabe para esse texto seria, como estamos dançando as nossas percepções sobre o mundo?

Por fim, como ampliar a nossa percepção sobre o real, assim como sensibilizar nossos sentidos para construir novas estéticas que convidam a novas experiências coletivas? Para o dia da dança de 2023, após todas as dificuldades políticas e sanitárias que vivenciamos, espero muito que essas perguntas colocadas em texto, possam acessar novas possibilidades artísticas. São perguntas que vagam incessantemente em meu corpo e penso que são guias, que podem nos levar a utopias mais tangíveis.

Muito obrigado por ler até aqui, nesse texto há uma síntese sobre o movimento pessoal que a dança tomou na minha vida, que quando vi, estava imerso em uma dança muito maior que um solo ou espetáculo. E dedico esse texto a você, que também está dançando para além dos palcos e que enxerga na dança, uma ação revolucionária e coletiva.


*Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal MUD.

Gabriel Paleari

Gabriel Paleari

Ver Perfil

Copywriter, colunista de dança, sócio da N Produções Culturais Ltda e fundador da Estranha Companhia de Dança-teatro. Bacharel em Artes Cênicas pela UEL, atua nas áreas de criação artística, produção cultural e marketing digital. Desenvolve desde 2014  sua pesquisa ‘Notas Nômades: Cartografia do CsO em Antonin Artaud’’ que investiga o conceito do CsO sob a perspectiva biográfica de Artaud, a qual obteve publicação do artigo no dossiê Antonin Artaud na revista Ephemera. Com seu trabalho artístico fez parte dos festivais como: FILO, Building Bridge Art Exchange, Kinoarte,DANCEP (Curitiba-PR), Festival de Inverno da Universidade São João Del Rei-MG, Festival de dança de Londrina, e a_ponte do Itaú Cultural (SP) . É colunista de dança do PORTAL MUD (Museu Virtual da dança). Em 2023, foi em nome da Estranha como representante sul do país para o MIC- Mercado de Indústrias Criativas do Brasil, e tem como desejo expandir o mercado independente nacional com obras experimentais e de cunho de pesquisa.