Crédito das Fotos: Cabeção pelo Mundo, o show. Foto Beto Assem
Por Júlia Ferreira
Através da cultura popular, o “Cabeção pelo mundo, o show” contagiou e aproximou crianças e pais para dançarem e participarem de uma festividade de 45 minutos, ocorrida em local aberto na unidade do Sesc Campinas. Iniciado por um cortejo, um boneco muito simpático foi acompanhado por um acordeão e um instrumento de percussão, que saiu pelo espaço se aproximando e interagindo com o público. Com isso, aos poucos, apresentou as possibilidades de movimento que aquele corpo conseguia fazer, encantando as crianças.
Ao chegar no espaço em que ocorria o restante da apresentação, o espetáculo apresentou uma estrutura extremamente interessante, em que ocorreu uma aproximação corporal da dança com o público. Aproveitando a mobilidade do cortejo, foi iniciada uma prática com o público de movimentos que permeavam a cultura popular, como as festas juninas. A partir de linguagem simples e cotidiana, os músicos davam instruções para o público acompanhar o cabeção e o ritmo, indicações essas como, por exemplo, a dança do vai e vem que refere-se ao aproximar e distanciar do palco.
Depois de um período de interação com o público, o espetáculo focou-se nas apresentações dos dois acompanhantes do cabeção, sendo uma corporal com movimentos da capoeira, e a outra ligada à música, tendo a musicista cantando e tocando o acordeão, e também incentivando o público a acompanhá-la. Após as apresentações individuais, o público voltou a ser convidado para estar junto com o cabeção em cena, agora se aproximando das movimentações do Coco.
Concentrando as movimentações do boneco inspirado nas tradições da cidade de São Caetano de Odivelas (Pará), é instigante entender como aquela cabeça grande se movimenta. A estrutura da cabeça chegava até a cintura da intérprete, tendo os braços partindo do quadril, e as pernas com a calça branca sendo cobertas parcialmente pelo terno florido. Com isso, o quadril dá vida ao tronco do personagem, que reverberava nos bracinhos de tecido, maleável e que as crianças se intercalavam para segurar e acompanhar o cabeção pelas movimentações. A risada sempre aparecia quando a cabeça do personagem girava 360 graus, surpreendendo quem estava em volta e sendo caracterizado pelo acompanhamento da sonorização que favorecia a escolha corporal. A posição da cabeça, muitas vezes direcionada para que a intérprete conseguisse ver seu caminho, também chamava atenção. A mesma feição com as sobrancelhas levantadas não se modificava, mas a posição mudava as intenções que também eram trazidas pelos gestos e pelo corpo.
O espetáculo acolheu não somente as crianças, mas também os adultos que acabaram participando e se divertindo com a condução leve e bem humorada, fazendo um papel fundamental que é aproximar a dança de um público geral. Entender corporalmente a linguagem que está sendo apresentada dá ferramentas e parâmetros para quem assiste, possibilitando o entender a performance especializada que ocorre embreada com as interações. Estar com uma atividade de aproximação do público em meio a uma maratona de espetáculo, característica da Bienal Sesc de Dança, cultiva não apenas para aquele espaço, mas nas demais programações que ocorrem nos dez dias de evento.
* Júlia Ferreira é Doutoranda junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Unicamp. Mestre em Artes da Cena pela Unicamp, tendo sido orientada pela Prof.ª Dr.ª Julia Ziviani Vitiello, e sido bolsista Capes. É Bacharel em Dança (2016) e Licenciada em Dança (2017) pela Unicamp. Integra o Grupo Dançaberta dirigido por Julia Ziviani, compondo a equipe de produção artística e executiva e atuando como intérprete-criadora dos espetáculos.
** Esta resenha foi feita dentro da disciplina “Tópicos Especiais em Arte e Contexto: Produção Crítica em Dança”, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Claudia Alves Guimarães, no Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Unicamp. A disciplina teve como foco a 13a. Bienal Sesc de Dança, contando com a parceria do Sesc Campinas.
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