1000 Gestes de Boris Charmatz

Dentro da programação do Festival Montpellier Danse 2023, o espetáculo 1000 gestes do coreógrafo francês Boris Chamartz teve duas apresentações no teatro Ópera Berlioz-Le Corum na cidade de Montpellier – França.

Atualmente, diretor do Tanztheater Wuppertal Pina Basch (desde 2022), o coreógrafo é uma das referências principais da *non-danse e notável por desenvolver criações que subverterem os códigos da dança. Seguiu sua formação na escola de dança de L’Ópera de Paris e no CNSMD de Lyon.

Em 1000 gestes, criada em 2017, Chamartz diz imaginar “uma floresta coreográfica onde nenhum gesto seria jamais repetido pelos dançarinos”. O coreógrafo faz assim uma alusão à efemeridade do gesto dançado, daquilo que desaparece assim que acaba de ser realizado. Uma ode à impermanência da arte da dança.

Boris Chamartz oferece nessa criação uma hipnose visual através de  enxurrada de movimentos que se alternam entre um transbordar meditativo e melancólico, quando lança uma constelação de movimentos que atravessam a história da dança.

Com 20 dançarinos em cena, ao som de Requiém de Mozart e figurino  de Jean-Paul Lespagnarg, que vai do simples ao mais sofisticado, Chamartz provoca um caos fascinante através do gestual realizado pelos dançarinos entrelaçando sequencias que aceleram no limite e desaceleram até desaparecerem por completo, invocando assim a beleza efêmera da dança e da vida.

Os gestos são únicos e criados pelos dançarinos que apresentam corpos de diferentes padrões. O gestual se alterna entre movimentos precisamente técnicos e de alta performance em dança como por exemplo uma sequencia de Grand Battement à movimentos mais corriqueiros, primitivos como por exemplo vomitar ou ordinário gesto de coçar a bunda.

Nessa paisagem gestual, vale ressaltar o desafio particular que o coréografo aceita ao correr o risco em sua criação de orquestrar 1000 gestos diferentes para dar luz à sua obra. Na evolução da peça, tais gestos revelam um panorama histórico da dança. A fugacidade é incorporada assim no próprio modo de compor a peça coreográfica e rende uma imensa homenagem à dança através desse relicário de movimentos.

*Non-danse – movimento da dança contemporânea que tem sua referência principal no anos 90, principalmente na França, e que reivindica uma criação cênica única transdisciplinar que se difere do movimento de dança tradicional

 

Espetáculo: 1000 Gestes de Boris Charmatz

Apresentação do 24 junho 2023

Ópera Berlioz – Le Corum

Duração: 1h

Site festival: www.montpellierdanse.com

Carmen Morais

Carmen Morais

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É artista da dança, arquiteta e instrutora de yoga. Mestre em Dança pela Universidade Paris 8 com a pesquisa sobre a dança in situ/ site specific no espaço urbano. É idealizadora e diretora do “Núcleo Aqui Mesmo” que apresenta como eixo principal a pesquisa sobre arte e espaço urbano, mais precisamente sobre a questão da espacialidade em dança dentro de propostas in situ/ site specific tem como objetivo viabilizar projetos em dança in situ estabelecendo parcerias com artistas da dança e de outras linguagens artísticas, como arquitetura, fotografia e vídeo. O Núcleo tem viabilizado a criação de suas performances através de diversos prêmios e editais tais como: Funarte, ProAC e Fomento à Dança de São Paulo. Em 2015 publicou o livro  A dança in situ no espaço urbano e organizou, junto com Ana Terra,  a publicação Situ (ações) – caderno de reflexões sobre a dança in situ . Ambas publicações foram realizadas através do Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna (2013) pela editora Lince. Nos últimos anos, tem seguido sua pesquisa artística munida de um profundo interesse pela interação entre arte da dança, ambiente/natureza e cura. Mais infos: www.nucleoaquimesmo.com | www.instagram.com/nucleoaquimesmo | www.instagram.com/umacarmen