Balé Folclórico da Bahia abre a 14ª Bienal Sesc de Dança com espetáculo que celebra as potencialidades da dança afro-baiana

Foto: Juliana Hilal

Por Júlia Paschoalino Robert

O Balé Folclórico da Bahia apresentou o espetáculo de abertura da 14ª Bienal SESC de Dança, com “O Balé Que Você Não Vê”, nas noites de 25 e 26 de setembro. A obra é composta por quatro coreografias e coloca em cena a raiz afro-baiana do grupo, mesclada a linguagens contemporâneas.

Com sede no Pelourinho, em Salvador, a companhia se inspira nas manifestações populares e no folclore baiano para guiar suas criações, que têm amplo reconhecimento ao redor do mundo. O espetáculo apresentado na Bienal sairá em turnê pelo Brasil em comemoração aos 37 anos de existência do grupo, a única companhia de dança folclórica profissional do país.

“O Balé que você não vê”, como indicam o título e o release do espetáculo, busca colocar em cena os desafios de uma companhia de dança profissional para se manter existindo no Brasil. Ao ser escolhida como trabalho que deu início à programação da Bienal, o título da obra também é preciso ao convidar para danças que carregam ancestralidade e resistência, traço que pode ser encontrado em toda a curadoria do evento.

OKAN, número que abre o programa, é assinado por Nildinha Fonseca e propõe uma reflexão sobre o papel da mulher negra na construção da condição humana. Em cena, os movimentos fortes dos bailarinos indicam uma corporeidade marcada por heranças culturais. No trabalho, elementos da mitologia africana se conectam com a dança afro-brasileira, ativando memórias e identidades.

Em seguida, com 2.3.8, Slim Mello encontra inspiração no bairro de Plataforma, em Salvador, para apresentar uma coreografia que reflete brasilidade por meio da cultura popular periférica. Envolvido por uma atmosfera contemporânea, o público é levado para percorrer um trajeto pelas ruas soteropolitanas, ambientado no palco através de cores, estampas, músicas e movimentos.

Em seguida, tivemos BOLERO, coreografia de Carlos dos Santos (revisitada por Vavá Botelho e Zebrinha), que incorpora arranjos e instrumentos africanos à obra de Maurice Ravel. O trabalho é ousado ao promover um diálogo entre uma das obras mais marcantes da música erudita e a linguagem afro-baiana dançada pela companhia, seguindo um caminho diferente daqueles já conhecidos pelas coreografias renomadas que dançam o Bolero de Ravel. O resultado é uma peça original, que se destaca no programa e ressalta a extensão de potencialidades da dança afro-brasileira.

Por fim, foi apresentada AFIXIRÊ, assinada por Rosângela Silvestre, obra que encerra a noite. A coreografia, conduzida por música ao vivo, aposta na fusão entre dança, canto e ritmo para construir um momento festivo. No palco, ficam enfatizadas as raízes africanas que influenciaram a cultura brasileira, reforçando esses como traços essenciais da identidade da companhia.

“O Balé Que Você Não Vê” confirma a força do Balé Folclórico da Bahia, ao propor uma dança afro-baiana que une raízes e reinvenções. O espetáculo busca explorar contemporaneidades, sem se desvincular da matriz do grupo. Ao mobilizar a linguagem da dança afro-brasileira, a obra aponta para diferentes possibilidades de experimentação e reafirma o papel da companhia na construção da dança do país.

 

Esta resenha foi feita dentro da disciplina “Tópicos Especiais em Arte e Contexto: Produção Crítica em Dança”, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Claudia Alves Guimarães e da Profa. Dra. Cássia Navas Alves de Castro, no Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Unicamp. A disciplina teve como foco a 14ª Bienal Sesc de Dança, contando com a parceria do Sesc Campinas.

 


Júlia
Paschoalino Robert

É formada em Jornalismo pela Unesp/Bauru (2021) e certificada em Gestão em Produção Cultural pela São Paulo Escola de Dança (2024). É mestranda no Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena, do Instituto de Artes – Unicamp. Integrante do Grupo de Pesquisa Historiografia da Dança no Brasil: Conexões e Reverberações, conduzido pela Profa. Dra. Maria Claudia Alves Guimarães. Em 2024, participou do Focas – 2º Curso Estadão de Jornalismo de Saúde. Tem publicações para o Estadão, Terra e Mídia Ninja.

PPG Artes da Cena/UNICAMP

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O Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena tem como objetivo a formação de pessoal qualificado para atuar na pesquisa e no ensino de campos pertinentes às artes da cena, quais sejam, o teatro, a dança, a performance, em interlocução ou não com outras artes presenciais, promovendo difusão de conhecimento mediante a colaboração de seus pesquisadores junto a periódicos especializados, eventos científicos da área e, no que concerne à extensão e socialização do conhecimento, apresentação pública dos espetáculos e performances produzidos como fruto das pesquisas.