Re-ver uma obra é sempre um exercício que gera novas perspectivas para um olhar atualizado sobre aquilo que já nos moveu.  

Refletir sobre as práticas que nos moveu no percurso de criar, adentrar, investigar, insistir, repetir se exaurir, agora já tem seu corpo seu mover próprio sua identidade e nesse Re-encontro me encanto ao perceber que a obra ainda me move, me desloca simultaneamente para as memórias vividas no processo de criação como também para novas percepções daquilo que antes não via. Uma obra vive.

Hoje revejo “Sobre As Coisas” e vou me despindo do tempo em que foi criado em 2020 durante a Crise Sanitária Mundial, onde compartilhamos nossas solidões e criamos essa obra juntxs. O grupo Lagartixa na Janela é uma rede forte movida por desejos, afetos e intimidades que só o tempo consegue compor.  

Os enunciados de sobrevivência daquele tempo eram: ESPEREM, SE CUIDEM, FIQUEM EM CASA.

Um mês antes da decretação do isolamento fomos contemplades com o Edital de Fomento à Dança da cidade de São Paulo para uma nova criação, o nome do projeto era “As dobras de uma obra”, onde ativamos encontros e diálogos como também uma nova criação, que seria abrir um grande jogo com todos os elementos relacionais de nossas criações e perguntar a eles onde nos levariam?

A realidade nos levou para dentro de casa, conseguimos manter os encontros e diálogos online, mas como um coletivo que sempre trabalhou e criou em espaços públicos poderia viver criar em um espaço fechado?  Enfim estávamos em casa e esse lugar seria nosso novo lugar de investigações...

Olhar para o corpo/casa/ambiente, com suas múltiplas paisagens nos remeteu a ver de quantas coisas ela é feita e composta. E que todas essas COISAS integram uma infinita rede de relações e coexistências.

O espaço ordinário/cotidiano estava lá firme e forte nos protegendo, mas também nos oferecendo provocações, dando pistas e aberturas para novas investigações e novos modos de operar, compor, subverter e ativar outras existências e relações.

A partir das nossas memórias de infância fomos recuperando/atualizando as profanações dos objetos/coisas que habitam nossa casa/infância. 

E assim íamos rompendo uma hierarquia e uma lógica pré-existente do espaço, da vida e funções dos objetos/coisas que nomeei de “Coisa Mundo”, pois é assim que as crianças reinventam seus ambientes e todas as coisas que compõe seus mundos.

Adentrar as coisas, se conectar com sua materialidade, investir em ressignificar sua utilidade para nós é o salto para a invenção e subverter o útil em “inútil”, que nos leva a encontrar uma outra forma/corpo/ moveres  e invenções de outras COISAS .

Estávamos como todes, isolades, não podíamos estar com as crianças, mas podíamos dialogar com elas e disparar perguntas que poderiam nos mover.

PERGUNTAMOS:  O QUE VOCÊ FAZ QUANDO TEM QUE ESPERAR?

VEIO A RESPOSTA:  EU ME DISTRAIO, TOCO VIOLÃO, BRINCO...

HOJE NESSE RE ENCONTRO COM “SOBRE AS COISAS” ME ENCANTO COM AS DISTRAÇÕES COM AS “INUTILIDADES”, DAS COISAS QUE GERAM POESIA E DANÇA E QUE SOBREVIVEM SEMPRE. 

RE-VER É TAMBÉM PODER SE RE ENCANTAR.

CONVIDO A TODES A RE-VER “SOBRE AS COISAS /COREOINFÂNCIAS EM TEMPO DE ESPERA”

ATUALMENTE TAMBÉM PODE SE CHAMAR: “SOBRE AS COISAS /COREOINFÂNCIAS EM TEMPO DE DISTRAÇÕES “

PERFORMERS: @alinebonamim @afraga71 @barbaraschil @viniciusbrasileiro @taticotrim

TRILHA SONORA: ZEKA LOPEZ MUSYKAUNYKA/ http://wwww.musykaunyka.com

FIGURINO:  @thelmabonavita

PREPARAÇÃO CORPORAL: @sheilaareas @salgadoespaco

PRODUÇÃO:  @movicenaproduções

VÍDEO:  Marcelo Villas Boas

DIREÇÃO:  @xavieruxa