MUSEU DA DANÇA

Nova direção no BCSP

Domingo, 12 de Setembro de 2021 | por Henrique Rochelle |

Foram nove meses de espera, mas o Balé da Cidade tem uma nova diretora: Cassi Abranches

Cassi Abranches é a nova diretora do Balé da Cidade de São Paulo. Ela assume a companhia que passou nove meses sem direção: no final de outubro de 2020, quando o Instituo Odeon encerrou sua gestão do Theatro Municipal, o contrato do então diretor Ismael Ivo não foi continuado, e o cargo ficou vago até 9 de setembro, quando a Sustenidos, gestora do TMSP há só 3 meses, anunciou a nova diretora do Balé.

Entre o fim da gestão da Odeon e antes da Sustenidos assumir, durante a gestão emergencial da Santa Marcelina houve um processo seletivo para essa direção, que chegou até a fase final, passando de 6 candidatos iniciais para 3 finalistas. O processo não chegou a ser concluído, e, ao assumir o TMSP, a Sustenidos reiniciou a seleção.

O Balé da Cidade fez sua tradicional indicação de lista de possíveis diretores, e se pautou no processo seletivo anterior, indicando dois dos três finalistas para a continuidade. À lista do Balé, que além de Cassi Abranches apontava Luiz Fernando Bongiovanni, a atual diretora do Theatro Municipal, Andrea Caruso, incluiu duas indicações próprias, Cristian Duarte e Marcelo Evelin.

Os quatro candidatos tiveram um encontro com a companhia, acompanhando um dia de atividades, e depois passaram por entrevistas individuais com a banca, composta pela diretora do Theatro, dois representantes do Balé, Raymundo Costa e Renée Weinstrof, um representante da Fundação do Theatro Municipal, Bruno Imparato (substituindo Hugo Possolo, recém exonerado do cargo de direção geral da FTMSP), juntos de Angela Nolf e Rui Moreira.

Segundo Andrea Caruso, o processo foi importante para colocar a companhia em reflexão sobre os modelos de gestão possíveis, e pensar sobre a continuidade desse grupo histórico. Em conversa com jornalistas, ela reportou que após as apresentações e entrevistas, nas discussões da banca a companhia se mostrou unânime na indicação de Cassi Abranches, que foi validada pelos demais.

Cassi Abranches teve uma carreira de 20 anos como bailarina, mais de 10 deles dançando no Grupo Corpo, de Belo Horizonte. Mas ela é de São Paulo, e começou seus estudos na então Escola Municipal de Bailados, atual Escola de Dança do Theatro Municipal de São Paulo. Sua carreira profissional também começou em São Paulo, no Grupo Raça, onde dançou por 5 anos. Entre o Raça o e Corpo, Cassi passou pelo Balé do Teatro Castro Alves, em Salvador, e pelo Balé Teatro Guaíra, em Curitiba.

Desde 2009 ela tem feito trabalhos de direção de movimento e coreografia pra cinema e audiovisual, publicidade, e, claro, pra companhias de dança, passando pelo Balé Jovem do Palácio das Artes, Cia Jovem do Bolshoi Brasil, e Cia SESC de Dança, antes de suas 3 criações para a São Paulo Companhia de Dança, uma delas premiada com o APCA de Coreografia em 2019, e a criação de Suíte Branca para o Grupo Corpo, em 2015. Durante as Olimpíadas do Rio 2016, Cassi também fez a direção de movimento da Abertura dos Jogos Paralímpicos.

Além do trabalho artístico, ela é formada em Administração e tem um MBA em Gestão de Negócios, que podem vir a ser bastante requisitados na direção do Balé da Cidade, que historicamente mistura os desafios artísticos e administrativos.

Com o tempo de companhia parada e a pandemia, Cassi vai encontrar o BCSP quase sem repertório, e vai receber o peso das cobranças de um grupo municipal cinquentenário, e de porte incomparável no nosso cenário atual. Mas ela encontra também um elenco forte, disposto, ansioso pra mais dança, mais arte, e que a deseja ali — uma estratégia que pode realmente fazer diferença na gestão dessa companhia.

Em outubro, possivelmente já com a assinatura da nova diretora, o Balé da Cidade estreia uma coreografia de Henrique Rodovalho, que está em montagem desde antes do processo seletivo atual, e que, portanto, não teve a mão da nova diretora em sua escolha. Só em 2022 poderemos começar a ver o trabalho dessa nova direção, com a esperança de termos um desenho de temporada completamente elaborado para 2023.

As transições têm essa dificuldade, o tempo de programação e tempo de trabalho para podermos começar a ver resultados. Mas a empolgação, do Balé da Cidade e da equipe do Theatro Municipal, é evidente, e compartilhada pelo público, que também está carente de Balé da Cidade, e tem expectativas enormes. Tão grandes quanto a torcida de que essa seja para a companhia uma gestão feliz, de grandes feitos, e de muita dança boa.

 

* Henrique Rochelle é crítico de dança, membro da APCA, doutor em Artes da Cena, e Professor Colaborador da ECA/USP. Editor dos sites da Quarta Parede, e Criticatividade.

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Henrique Rochelle

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