Muita gente ainda não sabe que gosta. Então, leve um amigo até a dança, leve a dança até um amigo.
Leve um amigo ver dança. Parece uma campanha, e meio que é. E, tá, tudo bem, não exatamente hoje — hoje, #fiqueemcasa #danceemcasa —, mas, quando tivermos teatros, plateias, e os espaços para o encontro e o tanto de dança que se faz por aqui, sim, por favor, leve um amigo pra ver dança.
Nesse tempo todo, próximo da dança, trabalhando com isso, pesquisando e frequentando, a coisa que mais me assusta, o tempo todo, é a quantidade de gente que não assiste dança. E o principal motivo que me falam nunca foi lugar, preço, nem desinteresse: as pessoas simplesmente ainda não sabem que podem gostar de dança.
Frequentemente eu descubro amigos envolvidos com artes, que frequentam museus e teatros, mas nunca assistiram a uma coreografia. Pra quem vive disso e faz isso toda semana pode ser surpreendente, mas é fato: muita gente não sabe que dança poderia ser uma opção para si.
Não é qualquer lugar que vai estar cheio de opções, de produções e de artistas, mas, aqui em São Paulo pelo menos, da pra falar sem medo que não importa qual é seu gosto, dá pra achar dança pra você. E nesse momento tem muita produção daqui e do mundo todo chegando em outros formatos, cobrindo outras distâncias, a um clique de distância.
Tem todo um passo seguinte, com ampliar horizontes, apresentar outros modos de fazer, outras formas de pensar e de criar dança. Só vai com calma. Começa do básico: leve um amigo pra ver dança.
Mas faz com cuidado. Tem coisa pra todo mundo? Tem. Qualquer um vai se interessar por qualquer coisa? Não, né. Então vai com jeitinho, e escolhe com carinho. Eu não to falando “amigo” à toa. Quem é essa pessoa? Do que ela gosta? Pelo que ela se interessa? Que dança que talvez chegue à sensibilidade dessa pessoa?
Uma escolha bem feita faz milagres. Pessoas que descobrem, de repente — veja que surpresa — que dança também pode ser pra elas. Vai começar com uma coisa só. Uma obra, um grupo, um artista. E, com o cuidado necessário, isso se amplia e abarca um bocado dessa nossa arte.
Faz uma boa curadoria, vê quem combina com o quê, e leva um amigo pra ver dança, leva dança até um amigo. Um amigo, um namorado, um primo, uma mãe, uma tia… Tem alguém na sua vida que ainda não descobriu que a dança pode ser um interesse. E é hora de descobrir. Então leve um amigo pra ver dança.
* Henrique Rochelle é crítico de dança, membro da APCA, doutor em Artes da Cena, e Professor Colaborador da ECA/USP. Editor dos sites da Quarta Parede, e Criticatividade.