Foi anunciado recentemente que o Breaking será composto como uma das modalidades esportivas para os Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, causando grande repercussão, debates, e até conflitos de opiniões. Alguns argumentam que é impossível a atividade ser considerada como esporte. Outros argumentam que pode ser considerado tanto como dança e esporte ao mesmo tempo. Afinal, o que diferencia um esporte de uma atividade artística? Será que a mesma não pode ser ambas? Antes de tudo, precisamos entender de fato o que é Breaking e o seu contexto social e histórico.
No final da década de 1950 e 1960, o bairro do Bronx, em Nova Iorque, sofreu uma grave crise social, com a construção do viaduto Cross Bronx ExpressWay e políticas públicas ineficazes que causaram uma degradação no bairro. Abandono de imóveis, incêndios no bairro, aumento da taxa de violência, a ausência de recursos ligados à educação, cultura e lazer, e principalmente o crescimento de gangues ocorreram neste período. A cultura Hip-Hop surge em um cenário após o tratado de pacificação da maioria das gangues do Bronx, ocorrido no Boys Club.
Em 1973, Cindy Campbell pede para o seu irmão realizar uma festa pelo retorno das férias escolares, no dia 11 de agosto de 1973, a chamada “Back to School Jam”, que para muitos, é concebida como a festa que deu início à cultura Hip Hop. O evento se localizava no salão de festas no prédio da Avenida Sedwick 1520, com o preço de entrada de 25 a 50 centavos de dólar. O edifício se encontra atualmente tombado devido a sua importância histórica.
A festa possuía algumas características peculiares, como a presença de Sound System, do ambiente ser equipado por muitas caixas de sons, uma herança da cultura Jamaicana, e os quatro elementos da cultura Hip Hop: o Disc Jokey (DJ); Master of Ceremony (Mestre de Cerimônia em português, cuja sigla é MC); Breaking e o Graffiti.
O Breaking é uma dança caracterizada por ter diversos apoios em sua sustentação: em pé, agachado, de cabeça, braços, peitoral, ombros, costas etc. Tem como fundamentos iniciais o Toprock, a parte inicial da performance caracterizado pela dança realizadas em pé, com referências do sapateado, danças indígenas, salsa e outras linguagens de dança; Footwork, caracterizado por movimentos agachados ou semelhantes à posição de cócoras, com chutes, deslizamentos, e trocas de direções e sentidos; Freeze, onde o dançarino finaliza a sua performance com uma posição estática, vindo do termo “congelado”, em inglês; e as movimentações acrobáticas feitas principalmente por giros, como Spin Moves, ou Powermoves.
Performance de um B-Boy (dançarino de Breaking). Fonte: BBC Culture. Link disponível aqui
A dança tem como tradição a batalha entre dançarinos, em cyphers (rodas de dança) ou em campeonatos formais, com a presença de jurados que determinam o ganhador da competição, podendo ser uma disputa entre 1×1, 2×2, ou entre grupos.
A entrada do Breaking nas Olimpíadas é coordenada pela WDSF ( World DanceSport Federation – Federação Mundial de DançaEsporte), cujo órgão ligado no Brasil seria o CNDD (Confederação de Dança Desportiva). Em 2018, houve as Olimpíadas da Juventude em Buenos Aires, que foi um sucesso para atingir o público alvo jovem e que chamou atenção da mídia.
Bboy Shigekix, do Japão, nas Olimpíadas da Juventude em Buenos Aires, em 2018. Fonte: O Globo. Acessado em Set. 2021. Link disponível aqui
Há uma discussão entre o limiar entre dança, esporte e atividades artísticas, contendo diversos pontos de vista. Muitos argumentam que a dança se diferencia do esporte pois é constituída por meio de uma performance ligada à estética, a expressão de ideias, a música e a arte. Enquanto o esporte, um dos objetivos maiores é a priorização da execução, da performance e vitória sobre o adversário em uma competição. Até em termos pedagógicos, o ensino de Dança requer particularidades, algo que somente o campo da Educação Física não abrange.
Resulta-se em uma discussão muitas vezes confusa, pois nos perguntamos, o que é dança? O que é esporte? O que é arte? São definições que abrangem a sensibilidade e o campo da filosofia estética e da filosofia do esporte, algo que por muitos anos, não há consenso mesmo entre os pensadores da área.
Em termos práticos, o Breaking nas Olimpíadas terá a sua organização como um típico campeonato de dança mundial. O sistema de julgamento será pelo Trivium, feito pelo renomado B-boy Storm, que garante em sua teoria uma arbitragem adequada nas competições, e que abrange um julgamento apropriado aos demais estilos de Breaking.
Sendo esporte ou não, a cultura só tem a ganhar com a exposição da dança em termos midiáticos, e até receber maiores investimentos de grandes marcas na dança e trazer maiores oportunidades para os profissionais da área. O que até quebra preconceitos sobre a marginalização que a dança e seus praticantes sofrem. Só não podemos esquecer que o Breaking está inserido em um contexto cultural, o Hip-Hop, e sua importância social vai muito além do que pódios, títulos e medalhas.
BIANCHINI, Henrique. O nome “Hip Hop Dance”? (Henrique Bianchini). Youtube. 2016. Disponível em
GRIOT URBANO. Palestra Hip Hop – Arte,Cultura, Sociopolítica e Mercado | Griot Urbano. Youtube. 2017. Disponível em:
PISKOR, Ed. Hip Hop Genealogia. Volume 1. Veneta, 2019.
NOS tempos da São Bento. Direção: Guilherme Botelho. São Paulo: 2007. VHS: 90 min.
Soul Central TV. 40 years of Hip Hop #Hosted by KRS-One (Full Movie). Direção Karim Khamis. Youtube. 2017. Disponível em:
THE Freshest Kids – A history of the B-Boy. Israel. Nova Iorque: IMAGE ENTERTAINMENT, 2002. 1 DVD (94 minutos).