MURAL DA DANÇA

A dança na economia criativa

Imagem: Photo by Sharon McCutcheon from Pexels | Quarta, 21 de Novembro de 2018 | por Natália Gresenberg |


Em tempos de cortes orçamentários na cultura e de contenção de despesas em razão da crise financeira que atinge o mundo todo, a economia criativa assume o protagonismo em muitos países (inclusive no nosso) e se torna tendência. Mas, afinal, o que é economia criativa e como a dança se apresenta neste cenário?

De acordo com o SEBRAE, economia criativa “é o conjunto de negócios baseados no capital intelectual e cultural e na criatividade que gera valor econômico. A indústria criativa estimula a geração de renda, cria empregos e produz receitas de exportação, enquanto promove a diversidade cultural e o desenvolvimento humano. A Economia Criativa abrange os ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam criatividade, cultura e capital intelectual como insumos primários.”

Simplificando, a economia criativa é uma nova forma de pensar e fazer negócios, não necessariamente vinculada à realidade das novas tecnologias das startups, mas sim à capacidade de setores produtivos de se reinventarem e atrelarem um valor simbólico e imaterial aos seus produtos e serviços e, com isso, gerar renda e empregos.

Esta nova forma de fazer negócios resulta na produção de uma riqueza cultural e econômica que, de 2000 a 2010, cresceu duas vezes mais do que o setor de serviços como um todo e quatro vezes mais do que o setor de produção de muitos países da OCDE. Ou seja, como declarou John Newbigin, CEO da Creative London no evento Mercado das Indústrias Criativas que aconteceu em São Paulo neste mês, “É a criatividade que conduzirá a economia no século 21”.

Claramente os setores artísticos se identificam com grande facilidade à economia criativa. Afinal, o que a arte oferece é exatamente o capital intelectual imensurável em cada aula de dança realizada ou experiência artística experimentada. Portanto, devemos assumir o nosso protagonismo e ressaltar a importância que a dança tem em nossa sociedade, seja para a promoção da saúde física e mental, do bem-estar, da educação, da iniciação artística, da capacitação profissional ou de agente da transformação individual e social, pois a gente bem sabe que a dança realmente transforma!

Importante abordar aqui um ponto que, muitas vezes, afugenta os artistas. O seu trabalho é a sua profissão e a sua profissão é o seu negócio. Atuar como coreógrafo, professor, bailarino ou dono de uma academia é a sua profissão e o seu “insumo produtivo” – a dança – é um recurso de modificação social, cultural, educacional e econômica. Portanto, é necessário encarar a dança como a sua empresa, pensando sempre nos objetivos que deseja alcançar, em estratégias, e na sustentabilidade orçamentária ou meios para viabilizar a sua profissão. Falaremos mais sobre isso em outros artigos, então se cadastre em nossa newsletter e nos siga nas redes sociais!

Falando em termos financeiros, é fácil visualizar a relevância econômica de um festival de dança, uma mostra artística ou em um único espetáculo ao vislumbrar o tamanho da cadeia produtiva envolvida nestas produções: os profissionais em si (coreógrafo, bailarinos, professores, ensaiadores), toda a equipe técnica do evento (iluminador, operador de som, de luz, cenotécnico, produtores, fotógrafo, cinegrafista, figurinista, costureira, copeira, design), todos os trabalhadores conexos acionados indiretamente (lojistas, rede hoteleira, motoristas de táxi e aplicativo, rede de bares e restaurantes da localidade) e tantos outros trabalhadores formais e informais...É realmente uma rede, não é mesmo?

Rede. É neste ponto que eu queria chegar! Para a economia criativa funcionar o trabalho em rede é mandatório. É necessário articular, dialogar, compartilhar contatos, conhecimento e juntar forças. Essa é a nova realidade e as redes sociais estão aí para comprovar isso. Talvez uma academia sozinha não consiga realizar um grande evento com convidados internacionais, mas se todas as academias da cidade se reunirem pelo bem maior que promovem – a dança - bom, fica mais fácil e se agrega muito mais valor ao projeto!

A conexão entre linguagens artísticas diferentes também é um ponto forte, pois a diversidade gera a pluralidade de públicos, inclusive. Dança, música, fotografia, moda e gastronomia não tem nada a ver? Será mesmo? Oferecer experiências plurais ao seu público é o grande diferencial do sucesso, de sorte que todos os empreendedores ganham juntos. E, claro, a arte ganha também!

Vou finalizar com alguns exemplos de eventos artísticos que utilizam da economia criativa nas artes para semear sementinhas de criatividade para quem leu até aqui! 😊

- Galo da Madrugada (cultura tradicional e popular);

- Festival de Joinville (dança);

- Foto Feira Cavalete (fotografia);

- Festival Amazonas de Ópera (música clássica) e

- Criativo Film School (projeto de formação audiovisual).

E alguns exemplos de setores da dança, e não eventos, que usam da economia criativa para desenvolver suas atividades e manter seus projetos vivos:

- A Dança do Ventre que articula artistas da dança, música, moda e gastronomia,

- As Danças Urbanas que promovem o diálogo entre grafite, DJ, B.Boy e moda.

Quem vive da arte é, naturalmente, criativo. Essa é a nossa grande vantagem e o nosso diferencial! É hora de usar a nossa criatividade para contornar as dificuldades econômicas e agregar ainda mais valor ao que amamos: a dança!

 

REFERÊNCIAS:

Relatório do British Council “Análise da Situação e Avaliação do Programa de Empreendedorismo Social e Criativo Financiado pelo Newton Fund”.

SEBRAE. Consulta realizada em 21/11/2018.

Mercado das Indústrias Criativas do Brasil. Consulta realizada em 21/11/2018.



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Publicado por :



Natália Gresenberg

Gestora cultural e advogada



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