Crédito das Fotos: Foto reprodução - Facebook Jaja Vankova
Algo muito comum nos nossos acontecimentos cotidianos ocorre quando ligamos um aparelho eletrônico. Já estamos tão habituados às práticas tecnológicas que nem percebemos o movimento que uma máquina faz ao ser ligada. Por exemplo, ao conectá-la na tomada e apertar seu botão de iniciar, a caixa emite sons, esquenta, acende e em alguns casos até fala. “Alexa, apagar quarto!”
Falar com máquinas e através de máquinas é cada vez mais comum e parece super novo, contemporâneo; mas você sabia que a mais de 100 anos uma peça de ficção (R.U.R) escrita por Karel Capek se tornou um dos clássicos no tema e deu sentido à palavra “Robot”, que designa um estilo dançante muito frequentado por poppers e dançarinos de danças emergentes do contexto urbano?
O espetáculo consistia em uma fábrica que tinha trabalhadores robôs. Naquela realidade, os humanos construíam cada vez mais essas máquinas porque a mão de obra era mais barata. O que eles não esperavam era que uma revolução surgisse no meio robótico e quase levasse à extinção dos humanos. Após a aparição cênica, diversos artistas se interessaram pela performance robótica. A submissão do corpo à máquina virou uma atividade corporal instigante para os dançarinos e atores da época.
Karel Čapek’s play “R.U.R.” in 1921. Karel Čapek in:https://www.popsci.com/story/science/robot-invention-word-history/
Na conceitualização sobre o Robot, o elemento essencial é a transformação. O robô precisa acessar o corpo humano. Assim como um computador que se transforma quando é ligado e acende a tela, abre atalhos, páginas, etc, o dançarino Robot precisa que o acontecimento de iniciar fique claro porque dessa forma saberemos que ali vive um corpo humanoide que performa um robô. Portanto, é preciso que o robô desperte dentro de você.
Diferentemente da base técnica do Popping em que o tônus muscular é contraído e relaxado diversas vezes, no Robot essa forma de controlar o corpo é mantida. Isso é chamado de isometria. Essa contração total é fundamentada no conceito dado à palavra autômato, que é um mecanismo que opera de maneira automática, imitando movimentos humanos. Adaptando à dança, são as pessoas que agem como máquinas e entre os Robots isso define o dimestop.
A dança Robot está mais preocupada com o tempo. A performance robótica está mais interessada em aludir aos efeitos maquinários, seja pelo tórax ou pelo diafragma, do que pelo controle da música. Isso ocorre porque o conceito atribuído ao comportamento de um robô é cheio de engrenagens e sons que imitam ruídos de máquinas. É comum, inclusive, escutar os dançarinos gesticulando onomatopeias a respeito desses sonidos.
“Peito para fora, abdômen para dentro!” – Esse comando tão comum usado pelo senso comum ao falar sobre dança clássica, é um dos principais métodos para performar um robô. A mudança da respiração também é um fator. A respiração profunda, também chamada de diafragmática, é o centro dessa dança. O controle da entrada e saída de ar tem que ser preciso o suficiente para dar conta de toda a apresentação.
Existem muitas maneiras de dançar que diversificam os efeitos visuais que o público vê ao assistir um Robot. Entre as técnicas, está piscar os olhos de maneira mais demorada. Esse ato é inspirado nos flashes de câmeras fotográficas mais antigas.
Há também o gatilho, popularmente conhecido entre os dançarinos como glitch: que na tradução livre refere-se a um defeito, uma pane no sistema da máquina. Os personagens de Star Wars C-3PO e RD2D2 sofrem muito deste mal. E caso você nunca tenha visto esse filme, aposto que já ouviu a frase: “pane no sistema alguém me desconfigurou” ou visto em filmes de terror aquelas televisões que saem do ar e voltam subitamente. Agora imagine isso em um corpo. Voilà! Aí está o Robot.
Foto reprodução instagram @popn_marco
Essas e muitas outras técnicas da dança podem ser vistas e estudadas pelas performances de Robert Shields, que foi um mímico que trabalhava com o controle corporal e o isolamento das partes do corpo em suas aparições. Além dele – e também mais populares -, temos Michael Jackson em Dance Machine, Slim The Robot (que adicionou a dança nas aparições da Soul Train) e Mr. Zedd, que até hoje é uma referência no que se diz respeito a interpretar bonecos humanos.
Um outro ponto a ser brevemente explorado sobre essa performance é a predominância dos Robots masculinos e o fator sociológico por trás disso.
Dada a ideia de que a mimese dos movimentos robóticos era elaborada a partir do contexto do trabalho industrial, que na época era majoritariamente masculino, os Robots eram também performados predominantemente por homens. Essa é uma relação interessante, porque o gênero não é apresentado como uma categoria de diferenciação entre robôs. Ou seja, o fator sociológico do trabalho diferenciava quem era mais indicado a dançar o Robot ou não.
Mesmo que a técnica tenha sido desenvolvida por homens e que predominantemente existem mais dançarinos do que dançarinas performando o Robot, o cenário está mudando.
Uma mulher que domina a cena atualmente é a dançarina Jaja Vankova. Seus vídeos mais vistos no YouTube são dela dançando Robot. Na cena jovem, diversas mulheres se destacam no universo robô. Dentre várias referências, cito aqui as dançarinas: Hianne Alves (@hianne.alves) e Jéssica Marcondes (@jessyrobot).
Foto reprodução: Facebook Jaja Vankova
O Robot hoje é um estilo de dança que está presente dentro do Popping. Muitas vezes é confundido como uma variação dessa dança. E mesmo que isso seja bom para a cena de modo amplo, é importante que sempre possamos nos aprofundar e conhecer os estudos das diferentes culturas que unificam o universo que chamamos de forma resumida de Danças Urbanas.
*Este texto é de responsabilidade da autora e não reflete necessariamente a opinião do Portal MUD.