Saiba como surgiu o Hip Hop e porque comemorar aniversário é importante

O Breaking é uma das novas modalidades dos Jogos de 2024 e para saber mais a respeito, acesse a entrevista que fiz com o b-boy Perninha sobre a inserção da dança nas Olimpíadas. 


Esse é o tipo de conteúdo informativo, e para deixar tudo mais legal, porque você não escuta de background da leitura a música “Give it up or turn it loose” do James Brown? Garanto que a experiência vai ser mais divertida. Inclusive estou ouvindo enquanto escrevo. 


Você sabe qual foi o evento que fez nascer a cultura Hip Hop?

Essa é a hora de diminuir o volume da canção. Há 49 anos acontecia uma das festas mais importantesda história do Hip Hop e foi em um lugar que hoje é considerado um ponto turístico de New York. Depois do dia 11 de agosto de 1973, a Avenida Sedwick, 1520 do bairro Bronx nunca mais foi a mesma. Ela sediou a festa de aniversário da Cindy Campbellque é irmã do DJ Kool Herc.

Existem muitos boatos a respeito dessa confraternização. Algumas pessoas dizem ter tido muita gente, outras dizem ter tido muita gente mesmo, e do que sabemos é que tinha um tanto considerável de gente e que isso ajudou tudo a ser mais divertido. 


E como isso influenciou algumas das linguagens do Hip Hop?

Herc enquanto discotecava percebeu que a galera ficava mais engajada nos movimentos nas partes mais rítmicas das canções, geralmente quando aparecia a bateria. Então teve a seguinte sacada, manualmente ele voltava os discos para o início, repetindo trechos que achava mais legais e que animavam mais as pessoas. A técnica ficou conhecida como “Merry Go-Round” que consistia em, resumidamente, reproduzir repetidamente um mesmo disco, aumentando a intervenção da percussão nessa música.

Dizem que esse foi um dos momentos que se consolidou a prática do Disco Joking que é representado por uma dessas faces do Hip Hop. Outra expressão da cultura que surgiu nessa festa foi o RAP que são os mestres de cerimônias. 

Na festa de aniversário da Cindy, seu irmão arranhava discos e levava geral a loucura. Foi nesse contexto que um amigo de Herc pegou um microfone e começou a rimar em cima das batidas remixadas pelo DJ. Hoje, Coke La Rock é conhecido mundialmente como um dos primeiros RAPers da cultura Hip Hop. 


Working on Hip-Hop Evolution. From left to right: Kool Herc, Shad, Cindy Campbell, Coke La Rock, and Darby Wheeler. (Photo courtesy of Darby Wheeler)

O Graffitti é uma das linguagens que não foi documentada durante essa festa. Ainda que muitos interlocutores garantam que haviam pessoas grafitando nessa confraternização, ele passa a ser visto mais em lugares urbanos de trânsito como linhas de metrôs.


E a revelação do Breaking? Em que momento acontece?

Esse é o tópico que poderia ficar muito enviesado porque eu sou muito fã dessa dança. No entanto, ao longo da pesquisa e da análise dos documentos, livros, falas dos interlocutores, documentários, etc, algo chama atenção: dançarino nesses eventos, é uma categoria que dá sentido as festas. James Brown, por exemplo, dizia que suas músicas eram para serem dançadas e não só cantadas; na festa da Cindy o DJ muda a música porque percebe que as pessoas dançantes se empolgavam mais em determinada parte rítmica. Dança nesse momento não se revela porque é uma das significações corporais do evento.

Ainda assim, a festa do dia 11 influenciou que pessoas que se sociabilizavam nesses espaços, se transformassem em dançarinos e dançarinas.Aqueles que se movimentavam no breakbeat da música eram intitulados como b-boys e b-girls.

Desse dia em diante, muita coisa mudou. E a festa da Cindy influenciou diretamente as noções de pessoa, os estilos de vida, e as linguagens do Hip Hop. Por isso, se mistério pintar no dia do seu aniversário e você ficar na dúvida se comemora ou não, coloque uma música para tocar e imagine todo baile dançando. A resposta vai aparecer logo…


Gabriela Alvarenga

Gabriela Alvarenga

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Me chamo Gabriela e sou cientista social de formação. Durante minha graduação me envolvi ativamente com a pesquisa acadêmica e o grande motivo desse ingresso foi a dança. Foi a partir de uma auto etnografia sobre batalhas de Popping que desenvolvi minha primeira IC. Depois, mais madura, reescrevi esse projeto e ele se transformou em uma segunda pesquisa em que estudei se em batalhas dessa dança, os corpos produziriam músicas, combatendo um pouco a ideia oposta a essa. Trabalhei bastante com a observação das corporalidades desses espaços, seja dos dançarinos, do público e da própria atenção que esses espetáculos produzem. Hoje atuo como antropóloga pelo grupo LELuS vinculado ao CNPQ e a UFSCar. Pesquiso o processo de esportificação do Breaking que será modalidade olímpica em 2024 e sou colunista da revista esportiva Ludopédio.