Em Paraisópolis, um projeto de 200 bailarinos em formação completa dez anos com grandes perspectivas de futuro
Essa semana, eu fui conhecer o Ballet Paraisópolis. Conhecia o projeto, e um tanto do resultado artístico, que já tinha assistido em cena, mas a história sempre ganha outros tons quando a gente vai pro mesmo espaço, encontra o território e as pessoas, e vê a carne das propostas.
Finalizando um projeto de ampliação do espaço, a futura terceira sala do Ballet deixa três frentes de vista, pra cidade, pra comunidade, pra natureza e para o céu. Aspiracional, o próprio espaço já testemunha o sucesso do trabalho de uma década, abrindo horizontes pras próximas.
O Ballet Paraisópolis atende 200 bailarinos em formação (com 2000 inscritos em fila de espera), numa grade de aulas intensa e variada, que ocupa, o dia todo, os espaços de trabalho do prédio, com atividades para todos os níveis. Ali, vemos um grupo de crianças começando a se entender no balé, ao mesmo tempo em que o grupo prestes a se formar faz aulas avançadas, ensaiando coreografias que apresentam em breve.
Esse ano, a primeira turma se forma. Entre formandos e alunos mais avançados, o Ballet lançou também recentemente um grupo jovem, atinado com a lógica fundamental do atravessamento da abordagem de projeto social e formativo pra efetiva realização de profissionalização em dança.
Eu já disse que grupos jovens são o futuro, e essa não é uma exceção. Eu já tinha visto no palco o desempenho do grupo em balé clássico, mas foi na sala que ficou mais evidente o desejo e o potencial de carreira. Estudar dança e viver de dança são processos completamente distintos, e a maioria das estruturas de formação não consegue trabalhar esse segundo aspecto, que às vezes vinga, mas só pra um ou outro bailarino.
Aqui, com esses bailarinos tão jovens já na discussão de emissão de notas fiscais e futuras audições, é possível vislumbrar um resultado bem mais interessante. Leva muito tempo pra esses resultados chegarem, e agora, com dez anos de intenso trabalho, é que colhemos frutos nesse nível, enquanto comunidade da dança. É pra se orgulhar dos dez anos de história, mas são os muitos futuros pela frente que realmente deslumbram.
Os frutos no território, na vida dos bailarinos e das famílias, esses já vêm de longa data. Mas a esse ponto, o trabalho da equipe muito bem liderada por Mônica Tarragó vai esparramando resultados pra fora de Paraisópolis. Entram em jogo estratégias e propostas pedagógicas, jeitos de fazer e ensinar, e formar artistas. Treinar bailarinos é algo que já tem diversas sugestões de caminhos, e alguns métodos de reconhecido sucesso. Preparar artistas é uma outra história.
Esse é o lugar em que o Ballet Paraisópolis mais me interessa. Os dez primeiros anos de sua história são lindos. É um passado intenso, forte, transformador. É um presente que encanta, de gente interessada e que quer fazer a diferença. Mas quando você olha essas paredes coloridas, a disposição dos alunos, a intensidade do grupo jovem, e a satisfação dos profissionais envolvidos, o que bate nos olhos é o encantamento do que ainda está por vir. Poucas riquezas valem tanto quanto a perspectiva de futuro, e o Ballet Paraisópolis transpira futuros.
* Henrique Rochelle é crítico de dança, membro da APCA, doutor em Artes da Cena, Professor Colaborador da ECA/USP, e editor do site Outra Dança.
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