Dança se pratica, se descobre e se estuda. E os mestres e professores têm muito a ensinar sobre o corpo.
Quanto mais a gente fala de dança, mais a gente percebe a importância das escolas, do ensino, e do estudo, em seus muitos níveis. Se por um lado isso é parte enorme na formação dos artistas profissionais, por outro lado o ensino e o estudo também falam da formação de indivíduos, de sujeitos.
De gente que entende melhor o corpo, o movimento, a arte e suas possibilidades. Não só pra poder fazer, apresentar, praticar dança, mas pra poder aproveitar da dança.
A questão insiste: quem precisa estudar dança? — Todo mundo. Não pra se tornar bailarino profissional, nem mesmo pra se tornar bailarino. Mas pra entender um pouco mais do que é, o que faz, e o que pode fazer o nosso corpo, existindo no espaço.
O movimento é uma coisa comum, até corriqueira, mas assusta a falta de proximidade que as pessoas em geral às vezes têm com ele.
A dança dá sentidos pro corpo no espaço. Nos significados mais plurais de “sentido”, desde o “direcionamento”, até a “razão”. É um nível de compreensão e entendimento que é a base da dança-arte, mas que independe dela.
Faz parte da dança-estudo, da dança-experiência, da dança-vivência, da dança-prática-social. Que a gente descobre e exercita, dançando nas tantas ocasiões populares, nas festas e cerimônias, nos grupos e rodas, nas batalhas e desfiles, nas companhias e teatros. Em todas essas situações, vamos aprendendo. Com colegas, com mestres, e também nas escolas e academias.
No meio disso, surge uma categoria especial de profissionais: os professores de dança. Nem sempre amplamente reconhecidos (como costuma acontecer com todos os professores), mas dificilmente esquecidos (porque não tem quem não saiba o impacto que um professor causou na sua vida).
É raro assistir a um ensaio e não reparar um bailarino fazendo algum ajuste, com uma cara de que lembra da professora que insistia naquela correção, e das imagens que grudam na cabeça e vão criando sentido praquele universo — cada vez menos desconhecido pelo estudo — do lado de dentro do nosso corpo.
A gente vai descobrindo o movimento, o corpo, e se descobrindo. Processo que nunca acaba, e que se aprende fazendo, trocando, assistindo, olhando e ouvindo quem sabe. Dança é matéria antiga. Seu ensino é direto e tradicional: de uma pessoa pra outra. E a gente sente, ainda mais agora, a importância dessa proximidade.
* Henrique Rochelle é crítico de dança, membro da APCA, doutor em Artes da Cena, e Professor Colaborador da ECA/USP. Editor dos sites da Quarta Parede, e Criticatividade.