Às vezes, uma ideia não tem tempo de se completar em cena. Outras vezes, tem uma hora de dança pra uma ideia de dez minutos.
Você já assistiu a alguma coisa e ficou pensando que a ideia era boa, mas o resultado era longo demais? Pois então. Não é raro a gente ver uma ideia que tá tão trabalhada, ou tão enrolada, que o ponto dela nunca chega, ou fica completamente dissolvido.
Eu sempre penso nisso a partir de um ponto de vista de economia comunicativa. O princípio é simples: você não escreve um livro de trezentas páginas pra avisar a sua mãe que vai viajar. Você não grava 15 minutos de áudio pra dizer que aceita um convite. Comunicação dá trabalho, e leva um tanto de tempo, mas quando passa do necessário, é esforço à toa.
Uma coisa parecida acontece com a transformação das ideias em obras, mas com uma diferença clara: o propósito artístico raramente é dar uma informação. Uma obra sobre a chuva não serve pra te dizer “está chovendo”. Uma obra sobre insônia não serve pra te dizer que o coreógrafo não dormiu na noite passada.
A materialidade daquilo que as obras nos transmitem é bem mais delicada e menos objetiva, então essa noção de economia comunicativa não se aplica a partir de uma perspectiva de eficiência — não é uma questão de transmitir uma mensagem com o menor esforço possível.
Ainda assim, tem vezes em que não dá pra evitar o incômodo, e ficar com aquela sensação pesada de que assistimos uma hora (e meia) de uma ideia que não segura nem dez minutos.
Interesse é uma coisa complicada e de muitas variações — aquilo que prende a atenção de um pode deixar outro completamente desinteressado — o que abre espaço pra variações pessoais muito intensas.
Mas é inevitável que o tempo faz parte da nossa experiência das obras. Desde a questão prática de quanto tempo cada um tem disponível para assistir algo, até detalhes (nesse momento ainda mais relevantes) como a duração do nosso limiar de atenção.
Se uma ideia sofre quando ela não é suficientemente desenvolvida, ela também perde muito por ser excessivamente trabalhada, e mais ainda por aparecer dissolvida. Aquela sensação de “Uhum. Tá. Eu já entendi. Que mais?” é um sinal claro pro público de que a obra já te ocupou mais tempo do que vale a proposta dela.
Mesmo quando ela tem algo a dizer, e mesmo que esse algo seja de extrema relevância, fica uma questão a ser respondida por todo o processo criativo e construtivo do trabalho: quanto tempo dura essa ideia? Quanto tempo ela precisa pra se fazer entender?
* Henrique Rochelle é crítico de dança, membro da APCA, doutor em Artes da Cena, e Professor Colaborador da ECA/USP. Editor dos sites da Quarta Parede, e Criticatividade.