Vavá Botelho na abertura da Bienal Sesc de Dança. Foto de Juliana Hilal.
Na abertura da 14ª Bienal Sesc de Dança (25/09), um dos momentos mais marcantes foi a fala de Vavá Botelho, diretor do Balé Folclórico da Bahia. Ele destacou a importância da Lei Rouanet e do Ministério da Cultura para viabilizar uma circulação nacional inédita nos últimos anos, permitindo levar o Balé a diferentes regiões do Brasil.
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“Essa turnê, ela está sendo realizada graças ao Ministério da Cultura e graças a Lei Rouanet, graças a Lei de Incentivo. Eu acho que o dia das pessoas entenderem o que significa isso, a gente muda muita coisa, não só na cultura, mas vai mudar muita coisa nesse país”, afirmou Vavá ao final da apresentação na Bienal.
Segundo Botelho, o Balé já se apresentou em mais de 40 países e, só nos Estados Unidos, em mais de 280 cidades. No Brasil, no entanto, a companhia alcançou apenas 9 capitais e poucas cidades do interior. Vavá ainda falou sobre desejo para o futuro:
“O ano que vem, a gente está aí programando a turnê Norte-Nordeste, também em busca de patrocínio. Que a gente nunca chegou a ir ao Norte e Nordeste, morando ali no Nordeste, na Bahia, nunca fomos a Aracaju. Então é preciso que o Brasil veja o Balé que o mundo inteiro já viu”.
Vavá também agradeceu ao Sesc por viabilizar a participação do Balé na Bienal Sesc de Dança, ampliando ainda mais a visibilidade e o alcance do grupo.

“O Balé que você não vê” na Bienal Sesc de Dança. Foto de Juliana Hilal.
“O Balé Que Você Não Vê”: resistência e celebração
A turnê nacional acontece com o espetáculo O Balé Que Você Não Vê, criado em 2022 para marcar o retorno da companhia aos palcos após a pandemia. Inspirado na luta diária de uma companhia profissional para se manter ativa, tanto financeiramente quanto tecnicamente, o espetáculo apresenta três coreografias inéditas – Bolero (Carlos Durval), Okan (Nildinha Fonseca) e 2-3-8 (Slim Mello) – além do clássico internacionalmente reconhecido Afixirê, de Rosângela Silvestre.
Para comemorar os 37 anos da companhia, a turnê leva a arte do grupo para as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do país. Esta circulação nacional conta com patrocínio master do will bank, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet e Ministério da Cultura.
O roteiro começou no Rio de Janeiro, no tradicional palco do Teatro João Caetano, durante a oitava edição do MoviRio, e segue até outubro. Em São Paulo, o Balé se apresenta em três unidades do Sesc: Campinas (25 e 26/09), como destaque na Bienal Sesc de Dança; São Paulo no Sesc Pinheiros (28/09); e Franca (01/10), na maior unidade do Sesc no interior. Depois, segue para Florianópolis (17/10), Goiânia (22/10), Porto Alegre (28/10) e Novo Hamburgo (30/10).
“O espetáculo O Balé Que Você Não Vê reflete a nossa resistência. Foi montado depois de mais de dois anos sem a companhia se apresentar. Foi um enorme desafio, mas também uma grande celebração”, afirma Vavá Botelho.
Ele ressalta ainda a complexidade de manter a qualidade artística:
“A realidade da companhia envolve muita preparação e disciplina, um trabalho exaustivo e diário. Poucas companhias de dança privadas sem patrocinador regular conseguem existir por tanto tempo, mantendo um nível de excelência técnica tão elevado e respeito do público e da crítica”.
Este projeto de circulação nacional, concebido originalmente para festejar os 30 anos da companhia, só pôde ser realizado agora, sete anos depois, graças ao patrocínio do will bank. “Esse apoio vai permitir levar o Balé Folclórico da Bahia para três regiões do país, celebrando nossa trajetória com o público brasileiro”, destaca Vavá.
Reconhecimento internacional
O Balé Folclórico da Bahia acumula prêmios e homenagens ao redor do mundo. Em 1994, foi reconhecido pela Associação Mundial de Críticos como a melhor companhia de dança folclórica do mundo. Em 2013, a prefeitura de Atlanta (EUA) instituiu o Dia do Balé Folclórico da Bahia, celebrado em 1º de novembro, e, no mesmo ano, uma rua em Aného, no Togo, recebeu o nome do grupo.
Mais recentemente, em 20 de maio de 2024, o Balé foi homenageado com a Ordem do Mérito Cultural, concedida pela Presidência da República e pelo Ministério da Cultura.
O grupo também conquistou a admiração de grandes críticos internacionais. Anna Kisselgoff, do The New York Times, escreveu:
“O prazer dos dançarinos, músicos e cantoras em fazer o que eles fazem sobre o palco é tão obviamente parte da vida deles que contagia todo o teatro.”
Ela acrescentou ainda:
“Eu já assisti seus maravilhosos bailarinos em diferentes países, sempre se comunicando com o público. Crianças e adultos são tomados de imediato pelos ritmos e encantos de sua arte.”
A arte e a educação como princípios
Desde 1993, o grupo tem como diretor artístico José Carlos Arandiba (Zebrinha), responsável por levar o corpo de baile a um alto nível técnico e interpretativo. A efervescência das manifestações populares da Bahia é a principal fonte de inspiração para suas pesquisas, que resultam em coreografias que unem folclore e contemporaneidade.
Vavá Botelho destacou em sua fala na Bienal sobre o impacto da companhia na formação de bailarinos:
“São mais de novecentos bailarinos já formados nesses trinta e sete anos, muitos que passaram pelas maiores companhias de dança do mundo. Bailarinos que chegaram a solistas e que saíram de uma companhia de dança folclórica, de uma companhia de dança popular tradicional.”
A educação é um princípio central da companhia, que tem mestres com referências pedagógicas fundamentais para a formação técnica e artística.
“O nosso grande objetivo é a educação. Meu princípio é que cada pessoa faz seu caminho. No Balé, há pessoas de todas as faixas etárias e de todas as classes sociais. A partir do momento que alguém entra por nossa porta, deixa fora um monte de estigma”, afirma Zebrinha.
Sobre o Balé Folclórico da Bahia
Fundado em 1988, o Balé completou 37 anos em agosto de 2025. Com sede no Pelourinho, em Salvador, é formado por dançarinos, músicos e cantores que recebem preparação em dança, música, capoeira, canto e teatro. A companhia já se apresentou em mais de 300 cidades e 30 países, incluindo Estados Unidos, Itália, Inglaterra, Bélgica, Dinamarca, Nova Zelândia, Austrália, França, México, Chile, Colômbia, África do Sul e Benin.
Além das turnês nacionais e internacionais, mantém temporadas fixas no Teatro Miguel Santana, no Pelourinho, com apresentações regulares que recebem principalmente turistas de outros estados e do exterior.
Portal MUD