Já tem dança na SP Escola de Dança

A SP Escola de Dança iniciou suas atividades essa semana com os cursos de extensão, em um projeto pedagógico amplo

Começaram as atividades da São Paulo Escola de Dança — uma proposta da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, gerida pela Associação Pró-Dança (responsável também pela São Paulo Companhia de Dança), e sob direção de Inês Bogéa.

A escola finalmente avança em respostas para a pequena disponibilidade de estruturas públicas e acessíveis de formação em dança, e faz isso com um projeto amplo, divulgado ainda no final do ano passado, resultado do trabalho de uma equipe grande e que impressiona. A escola será sediada no terceiro andar do Complexo Cultural Júlio Prestes, onde está a sede da Secretaria de Cultura, atualmente passando por reformas estruturais.

Originalmente apresentada carregando o nome de Ismael Ivo, grande bailarino e diretor falecido no ano passado, a escola chega finalmente a público sem essa homenagem. Às vésperas do lançamento, a Folha reportou o imbróglio entre a família do bailarino e a escola, que levou à decisão judicial da remoção do nome. 

O projeto da OS que venceu o chamamento público propõe a realização de cinco Cursos Regulares, de caráter técnico: Dança e Performance, Dramaturgia da Dança, Figurino na Dança, Multimídias para Dança, e Produção e Gestão Cultural. Acompanham a programação Cursos de Iniciação à Dança em quatro variações:  Dança Clássica, Danças Urbanas, Dança Criativa, e Dança Contemporânea. O eixo de Oportunidades e Projetos Especiais organiza bolsas, de auxílio, de apoio à pesquisa, e de oportunidade para aprendizes dos cursos regulares, e também ações de intercâmbio cultural.

Todas essas atividades começam apenas no próximo semestre, quando espera-se que a sede da Escola já esteja pronta. Porém, essa semana, abrindo as atividades da escola, iniciaram-se os cursos do eixo de Extensão Cultural. 20 professores e palestrantes selecionados por chamada aberta de propostas organizam a realização de cinco cursos, estruturados dentro dos 4 módulos do eixo de Extensão, que nessa edição disponibilizam 245 vagas, à distância e presenciais, para os cursos: História Já!; Corpo, Memória e Ancestralidade; Intra-Danças: Dramaturgias Transversais; Dança e Pedagogias: Histórias e Atualidade; e Danças: Técnicas, Métodos e Sistemas — que abriram as aulas na segunda-feira 28.

A existência, finalmente, de uma escola de dança do estado, é motivo de imensa celebração. Pra além da descoberta de talentos, a dança sofre com as dificuldades de treinar e nutrir os seus talentos com oportunidades. Por isso, é extremamente feliz ver a dança do estado de São Paulo pensada de forma profissional e tão ampla: não se trata de um só jeito de dança, de uma proposta de um indivíduo, de um estilo, de uma preferência, mas sim de um plano enorme, cheio de possibilidades de trabalho, de atuação, e de reflexão sobre a dança.

A proposta de cursos como Produção, Multimídia e Figurino mostra a atenção para o campo da dança como algo além do umbigo dos intérpretes — que sempre serão essenciais, mas nunca estão sozinhos na dança. A delicadeza de abrir a programação da extensão com um curso sobre história enquanto fenômeno relevante pro presente enche de felicidade os olhos de quem já tinha celebrado a proposta da escola, e, lógico, fez questão de participar da seleção de professores — falo de mim mesmo.

Encontrar os alunos, como os encontramos na segunda-feira na abertura do curso, junto com as equipes de coordenação, finalmente dá carne pra um projeto que é de meses de alguns desses profissionais, mas que é um projeto de vida de muita gente envolvida com a dança e seu ensino. E que chega agora atendendo a um desejo, a uma demanda e a um direito: queremos sempre mais danças que sejam nossas, e mais escolas que sejam nossas.

Um projeto pedagógico é algo que se realiza com muito tempo, um investimento que vê seus frutos nos longos prazos dos anos, das décadas. Essa semana, uma nova escola deu seus primeiros passos. Testemunhamos a história já, ansiosos por seus desdobramentos.


* Equipe pedagógica da São Paulo Escola de Dança:

DIREÇÃO EXECUTIVA E ARTÍSTICA – Inês Bogéa

SUPERINTENDÊNCIA – José Galba de Aquino | Marcela Benvegnu | Matias Santiago

METODOLOGIA E DESENHO INSTRUCIONAL – José Simões

CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA – Gisèle Santoro Filha

COORDENAÇÕES: CURSOS DE EXTENSÃO CULTURAL – Cássia Navas / PROJETOS ESPECIAIS E RELAÇÕES INTERNACIONAIS – Alice Arja / CURSOS DE INICIAÇÃO À DANÇA – Júlio César / CURSOS REGULARES – Junior Oliveira / Dança e Performance – Robson Lourenço / Dramaturgia da Dança – Gal Martins / Figurino da Dança – Teresa Abreu / Multimídias para Dança (Audiovisual e Iluminação) – Estela Lapponi / Produção e Gestão Cultural – Talita Bretas e Flip Couto / Territórios Culturais – Paula Petreca


* Henrique Rochelle é crítico de dança, membro da APCA, doutor em Artes da Cena, Professor Colaborador da ECA/USP, e editor do site Outra Dança

*Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete a opinião do Portal MUD.

Henrique Rochelle

Henrique Rochelle

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Crítico de dança, Doutor em Artes da Cena (Unicamp), Especialista em Mídia, Informação e Cultura (USP), fez pós-doutoramento na Escola de Comunicações e Artes (USP), onde foi Professor Colaborador do Departamento de Artes Cênicas. Editor do site Outra Dança, é parecerista do PRONAC, redator da Enciclopédia Itaú Cultural, Coordenador do método upgrade.BR de formação em dança, e faz parte da Comissão de Dança da APCA desde 2016.