Saber a dança que vai acontecer é parte do trabalho, mas nem sempre é fácil. Divulgação é coisa complicada.
Uma vez, numa entrevista, me perguntaram como o crítico convence alguém a assistir a um espetáculo de dança. Depois de uma pausa, eu respondi que eu não estava tentando convencer. E é verdade. Especialmente naquela ocasião: um festival, apresentações únicas, críticas publicadas dias depois.
Mas isso me leva pra um dilema de divulgação. Porque existe de fato todo um trabalho por trás da construção do espetáculo, em fazer ele chegar ao público potencial, em fazer as pessoas saberem que ele existe, acontece, e estará em cartaz.
A internet causa um efeito assustador (e enganador) de disponibilidade de informação. A ideia de que tá tudo lá pra quem quiser encontrar. Metade disso é ilusão: tem bastante coisa, mas não tem tudo. A outra metade é confusão: entre a informação estar disponível e ela chegar pra quem ela precisa chegar, pode existir um universo inteiro.
Tem um grupo de profissionais especializados nessa comunicação e assessoria. E quem trabalha tentando organizar, divulgar, e criar pautas a partir dessas informações, sabe o quanto eles são fundamentais em facilitar esse trabalho, e gerar interesse — na gente, e no público.
Mas, especialmente nesse momento, têm aumentando as divulgações independentes, pessoais e individuais, e não as profissionais. Ai começa outubro e eu vou organizar o post mensal de programação no daQuartaParede. Abro a agenda, abro a pasta dos emails de divulgação e, surpresa: cadê a programação?
Tem coisa acontecendo, tem coisa boa. Mas parece que tem pouco. E eu não digo pouco em comparação a um outubro mais normal. Eu digo pouco em comparação ao que eu tenho visto.
De repente eu to me questionando: que posts que eu curti anteontem antes de dormir que tinha uma apresentação? O perfil de quem compartilhou uma coisa que tava pra acontecer? — e tá ai o caminho entre as informações estarem disponíveis em algum lugar, e a gente conseguir encontrar o que quer.
Agora, se eu, que quero ver e divulgar dança, tenho que caçar a informação, como é que ela chega pro público em geral? Quem mais vai ter a paciência de procurar não se sabe o quê, não se sabe onde, pra ver o que tem pra assistir?
Essa é a importância da comunicação e da divulgação. Juntar o “quem quer saber” com o “o que se quer saber”. E a gente tenta. A gente insiste e divulga o que acha. E não pra convencer alguém a ver uma obra, mas pra convencer todo mundo de que a dança interessa, existe, e a gente precisa falar sobre ela. Só que é difícil falar do que a gente não sabe que tá acontecendo.
* Henrique Rochelle é crítico de dança, membro da APCA, doutor em Artes da Cena, e Professor Colaborador da ECA/USP. Editor dos sites da Quarta Parede, e Criticatividade.