Crédito das Fotos: Alex Soares, diretor da Companhia Jovem de Dança de Jundiaí
Desde 2018 na direção da Companhia Jovem de Dança de Jundiaí, Alex Soares, tem como proposta uma companhia que que prepara jovens bailarinos com idade entre 18 e 26 anos para o mercado de trabalho e recebe jovens coreógrafos para coreografar para a companhia. A ideia é fortalecer o cenário da dança também com parcerias com outras companhias do interior de São Paulo e ampliar um mercado com poucas oportunidades. Confira um bate-papo com Alex Soares para saber mais sobre os projetos da Companhia Jovem de Dança de Jundiaí.
Quais tem sido os caminhos trabalhados com a companhia?
O objetivo é de realmente fomentar o trabalho desses profissionais. Eles precisam passar por vários processos, tanto em criações novas comigo, remontagem de trabalhos que eu já fiz para outras companhias e, também, com coreógrafos convidados. A gente já conseguiu trazer o Henrique Rodovalho, para remontar uma peça. Vamos receber três novos coreógrafos que passaram por um edital e que vão coreografar para a companhia.
Como é a seleção de dançarinos/bailarinos para a companhia? Quais características e habilidades você valoriza?
A seleção de bailarinos para a companhia acontece, em média, a cada dois anos. A companhia tem um perfil jovem, entre 18 e 26 anos. Para a seleção, primeiro fazemos uma análise documental. Depois os participantes têm uma aula de ballet clássico, uma aula de técnicas contemporâneas e, também, tem trechos do repertório da companhia e depois uma parte de improviso. E, por último, uma entrevista. Nenhuma dessas etapas é eliminatória, a gente não tira ninguém. O perfil do bailarino para a companhia deve transitar entre as diversas técnicas, ele tem que saber improvisar, ele tem que ter personalidade. E tudo isso é avaliado nessas práticas que acontecem durante a audição. Às vezes, o forte de um bailarino não é nem tanto o ballet, ele pode improvisar muito bem ou dominar uma outra coisa numa técnica de contemporâneo. Então, eu acho que é importante avaliar o artista como um todo durante o processo inteiro.
Atualmente, quais são os projetos trabalhados na companhia?
Agora estamos com num novo projeto da companhia, é um edital para novos coreógrafos e a estamos no processo de montagem de uma nova peça do coreógrafo Ivan Bernardelli, de São Paulo, um dos selecionados pelo edital. Ele está fazendo uma nova peça com a companhia, que vai estrear no final de setembro. A ideia é trazer novas vozes, trazer coreógrafos com potencial, que ainda não coreografaram para companhias grandes.
Sobre o projeto desse “intercâmbio” de companhias, como ele foi pensando e qual principal objetivo dele?
Eu acho que o principal objetivo desse projeto é poder somar forças. Desde que comecei a trabalhar com o programa Qualificação em Artes de Dança do Estado de São Paulo, tenho percebido o quanto de dança tem no estado de São Paulo. E, também, percebo, dirigindo a Companhia de Jundiaí, que tem várias companhias que tem uma certa semelhança e companhias que também são públicas e que atuam em diferentes regiões do Estado. Então a ideia foi ter essa circulação onde possamos visitar a companhia na cidade em que ela existe, dançar para o público dessa companhia, sempre junto com a companhia e não simplesmente indo lá e preenchendo uma pauta.
Como surgiu essa ideia?
Na verdade, isso veio de um formato que a São Paulo Companhia de Dança faz quando ela se apresenta em Jundiaí. Então, sempre que a São Paulo Companhia de Dança se apresenta em Jundiaí, a Companhia Jovem de Dança de Jundiaí abre a noite. A ideia foi, de alguma maneira, a partir dessa experiência, levar para outras companhias. Convidamos uma companhia de uma outra cidade do estado para se apresentar em Jundiaí e num outro momento, nós vamos nessa cidade para dançar junto com a companhia. Tem sido uma experiência muito legal.
Como você enxerga a importância desse projeto para o cenário da dança no Estado de São Paulo?
É um projeto piloto e tenho muita vontade de que ele possa crescer e ter uma certa frequência, possa ser expandido. Porque se a gente consegue ter uma regularidade, conseguimos criar uma rede de fortalecimento, o que é bastante importante para a dança. São companhias que acabam contribuindo para que os bailarinos também possam desenvolver o seu trabalho nas cidades que eles moram. Acredito que se pudéssemos criar esses polos, isso também faria de alguma maneira com que os bailarinos não precisassem sair da sua cidade para ir para outros lugares. É uma maneira de fortalecer a dança como um todo. Fortalecer a profissionalização da dança no Estado inteiro.
Como você vê o papel da sua companhia de dança na comunidade local e no cenário artístico mais amplo?
É importante proporcionar essa capacitação e essa formação desses novos bailarinos profissionais para eles poderem dançar em outras companhias e poderem ali também ter uma possibilidade de emprego, fazendo o que gosta e com qualidade. Além disso, temos o pensamento da gestão, há poucas cidades fora da capital de São Paulo que tem uma companhia de dança, uma companhia de teatro, um coro ou uma orquestra, então isso é um privilégio. Afinal, é uma cidade do interior que tem abraçado a cultura e as linguagens. Temos um time de muitos artistas trabalhando, o gestor de cultura de Jundiaí, o Marcelo Peroni, é um artista também, então isso faz bastante diferença. A Companhia Jovem de Dança de Jundiaí está adquirindo cada vez mais visibilidade e levando Jundiaí para outros lugares, o que eu acho superimportante. Volto a dizer que eu torço para que tenham mais companhias assim. Se a gente tiver, de repente, muito mais companhias com esse perfil no Estado de São Paulo, a dança vai ter mais mercado de trabalho para todos os profissionais e assim conseguimos nos fortalecer e dar mais opções para quem vive da dança.