Crédito das Fotos: Foto: Divulgação
A difícil realidade pela qual boa parte das cias estáveis no Brasil passa atualmente nos faz questionar a eficácia das políticas culturais para dança existentes. Em entrevista para o Portal MUD, a Quasar Cia de Dança fala sobre as dificuldades para a manutenção da cia, o novo espetáculo “O que ainda guardo…” , sobre política cultural e sobre planos para o futuro. Leia a íntegra da entrevista abaixo:
PORTAL MUD – Em 2016 A Quasar suspendeu as atividades, como cia estável, por falta de verba. Como vocês tem lidado com a questão financeira e que maneiras encontraram para manter as atividades?
VERA BICALHO – Deixamos uma pequena reserva para cobrir os custos de contabilidade e internet da empresa. liquidamos tudo que era possível, não mantivemos sala de escritório, telefone fixo entre outras despesas.
PORTAL MUD – Atualmente como a Quasar mantém suas atividades?
VERA BICALHO – Atualmente recebemos o convite para a montagem do espetáculo “O que ainda guardo…” e tínhamos uma circulação para realizar do Prêmio Klauss Vianna 2015, que segue até dezembro. É essa a nossa programação para o segundo semestre, fora isso não temos mais nada.
PORTAL MUD – A Quasar continua existindo como grupo? Quais são as principais diferenças e dificuldades de manter o trabalho dessa forma? Foi necessário se ajustar de alguma maneira, inclusive dentro do processo de criação artística, para se adequar à essa nova realidade?
VERA BICALHO – Sim, a Quasar continua existindo enquanto grupo, porém em alguns momentos quando acontece algum trabalho como esse do “Preciosidades Vivara”, convidamos os bailarinos para criar a obra e dançar, caso contrário , existimos como grupo na documentação da empresa .
Sim, foi necessário fazer muitos ajustes para se adaptar a esta nova realidade. Para esta nova criação, tivemos que trabalhar com um período estipulado e concluir todas as etapas dentro deste período. Depois na circulação, encontraremos os bailarinos na cidade de apresentar o espetáculo.
PORTAL MUD – A Quasar figura entre o restrito rol das cias brasileiras de grande excelência e representatividade nacional e internacional. O que vocês pensam sobre as políticas de incentivo às produções de dança no Brasil? E sobre a formação de público para a dança?
VERA BICALHO – Agradeço pelo grande elogio. O meu pensamento é que deveria ter plataformas de políticas públicas diferenciadas para cias independentes que estão iniciando, que tenham uma média trajetória e para as cia que tenham uma longa trajetória. Hoje, quem tem mais de 25 anos de trabalho, concorre igual ao que está iniciando, e por se pensar que devem dar oportunidade para os iniciantes, deixam os mais velhos sem fomento. A questão de ter uma trajetória elogiável, não significa que seja fácil captar, muito pelo contrário, a estrutura alcançada, demanda muito mais investimento, logo não conseguimos manter a cia com poucos recursos e a bilheteria não cobre as despesas de manutenção.
PORTAL MUD – Como teve início a parceria com a Vivara? Houve alguma solicitação específica para a criação do espetáculo “O que ainda guardo”?
VERA BICALHO: Houve um convite da produtora Dueto, que é proprietária intelectual do projeto “Preciosidades Vivara”, ela detém a conta da Vivara junto a lei Rouanet. Neste caso, recebemos o convite para poder criar uma obra exclusiva para compor o projeto preciosidades vivara.
PORTAL MUD – Nos conte um pouco sobre o processo criativo.
HENRIQUE RODOVALHO – No começo da montagem estava um pouco apreensivo fundamentalmente por dois motivos, primeiro porque já estava há quase dois anos sem trabalhar com a Quasar, e isto era um fato inédito na minha trajetória e não sabia se isto ia prejudicar todo o processo de criação. Mas com este tempo parado, foram surgindo e amadurecendo as ideias que tinha e pelo resultado, a inspiração transbordou. Talvez por estar mais descansado também.
Segundo, com exceção de uma bailarina (Valeska), não tinha nunca trabalhado com nenhum dos outros 9 bailarinos. E isto no começo foi um pouco trabalhoso, mas iniciei tratando do estilo meu de movimento e ao mesmo tempo, inserindo-o no espetáculo. Rapidamente os bailarinos foram conhecendo este estilo e se apropriando.
Como quis também, de alguma forma, aproveitar o estilo de cada um e aproveitei, as relações durante foram se aprimorando e concretizando.
E para finalizar, tem a proposta do espetáculo, de trazer uma leveza, um respiro e um frescor, e trabalhei muito isto com os bailarinos. Fui por exemplo, dizendo alguns trechos de espetáculos antigos e falando como cheguei naquilo e como ia chegar com eles.
Nesta parte, foi um processo bem divertido e leve, e isto foi naturalmente para o espetáculo.
Ao todo foram 3 meses de trabalho até a estreia propriamente dita em SP!
PORTAL MUD – Como foi o processo de produção para esta temporada? Audição do elenco, ensaios, figurino, cenografia…
VERA BICALHO – A produção, foi em tempo recorde, fizemos a audição por vídeo e presencial, no mês de junho/2018, e quando foi 25 de junho iniciamos os ensaios, a criação da obra de 1:05 minutos durou 3 meses, a produção nos quesitos, figurino e cenário, teve apenas um mês e meio, porque tínhamos de ter um pouco da obra criada para ter noção do que criar de figurino e cenário. Os ensaios ocorriam todos os dias das 13:00 as 16:30.
PORTAL MUD – Há a intenção de circular com este espetáculo?
VERA BICALHO – Sim é nossa intenção, só depende de conseguirmos dinheiro.
PORTAL MUD – Quais são as perspectivas para o futuro?
VERA BICALHO – Ainda é recente nosso retorno, iremos trabalhar para que este espetáculo sensibilize e nos coloque de volta a ter um trabalho de continuidade.
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