MURAL DA DANÇA

Dia da Dança: o que comemorar e o que reivindicar

Domingo, 30 de Abril de 2023 | por Nailanita Prette |

Desde a década de oitenta que o mês de abril, em especial o dia 29, é dedicado à Dança. A data foi estabelecida pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) com o intuito de evidenciar a importância da dança para e na sociedade. O dia 29 de abril é uma homenagem a Jean-Georges Noverre (1727-1810), uma figura notável na história da dança, escreveu as “Lettres sur la Danse”[1] de 1760, documento importante para esta arte. Vale salientar que no Brasil, temos o livro “Noverre: Cartas Sobre a Dança” (2006) da professora e pesquisadora Marianna Monteiro. A autora traduziu quinze cartas de Noverre, além de apresentar um estudo aprofundado sobre o impacto dos escritos para a dança. Para quem tiver interesse na temática a leitura de “Noverre: Cartas Sobre a Dança” é necessária.

A etimologia da palavra Abril do latim Aprilis que significa desabrochar, florescer. Um acaso interessante é que o mês dedicado à dança tenha na simbologia de seu nome o renascer, se mostrar ao mundo, afinal é isso que a dança faz com os corpos. Quando um corpo dança ele se expõe para a vida, mostra-se a belezas, potências, fragilidades, medos, sonhos, esperanças. As benevolências da dança assim como seu impacto pessoal, social, universal são inúmeras. Em mais de uma década de trabalho com a dança a vi transformar, ressignificar, reflorescer vidas, dar esperança onde não se tinha mais fôlego, porém como anda a economia, o mercado da dança?

A concepção de economia e mercado da dança, elencados neste texto, estão alicerçadas nas considerações do pesquisador e professor Rafael Guarato (2018), o mercado da dança está pautado na economia da dança que traz referências a valoração de produções da dança como arte. Não entrarei na conceitualização desses termos no presente escrito, pois eles exigem reflexões conceituais densas que vão além da proposta de conversa para o momento.

Infelizmente não é incomum encontrar profissionais qualificados e desempregados ou com baixa remuneração. A impressão é a de que dança se encaixa nas lacunas do sistema capitalista. Uma questão que me permeia é: como vamos viver de dança se sobreviver já é um desafio? Infelizmente não tenho resposta para essa questão tão cara e cruel. Todavia, é importante salientar que no âmbito acadêmico pesquisas relacionadas a economia da dança estão surgindo. Assim como as discussões em sindicatos, fóruns, cooperativas, associações (GUARATO, 2018). Será uma tendência ou emergência? Coloco-me a acreditar que daqui alguns anos respostas e soluções mais concretas estarão a nosso dispor.

Comemorar o dia, o mês da dança é também nos fortalecer enquanto agentes da área e a procurar caminhos e subsídios para a nossa valorização, reconhecer e defender a dança como área de conhecimento, bem material e imaterial que tem e merece valoração monetária condizente a sua importância. Ao longo dos anos tivemos grandes avanços como a disseminação dos cursos superiores em dança no país, o que apontou para a profissionalização do trabalho, ou seja, a dança começa a perder a ideia de se pautar apenas no talento e sim no estudo, dispêndio de tempo para a efetivação das produções. Ampliação e criação de editais de fomento, casas e espaços de arte/cultura que necessitam de mão de obra. Teve-se uma evolução, mas comparada a outras áreas ainda estamos a engatinhar. Precisamos, ainda, reivindicar o espaço de direito da dança na educação básica, manutenção de centros de pesquisas, editais de fomento que propiciem estabilidade financeira para os artistas.

São pontos que vão de encontro a perpetuação do trabalho em dança, para profissionais que estão hoje no mercado e para os que virão. Que a cada ano possamos comemorar o Dia da Dança cientes das nossas responsabilidades, mas com certezas de que podemos efetivamente viver de dança. E colocá-la cada vez mais em seu lugar de legitimação, se o mercado capitalista só valoriza aquilo que efetiva trocas com o dinheiro, por que a dança não pode jogar esse jogo? Ou como a dança pode jogar esse jogo?


Referências

GUARATO, Rafael. Dança, dinheiro e mercado: a economia da dança pelo viés historiográfico. In: Historiografia da dança: teorias e métodos. São Paulo: Annablume, 2018.


[1] Cartas sobre a Dança.


*Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal MUD.

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Nailanita Prette

Mestre em Artes da Cena



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