Você precisa mais do que fazer aula: técnicas auxiliares de fortalecimento e recovery

Crédito das Fotos: LUNAMARINA/Thinkstock

Como você trabalha seu corpo, além de fazer aula e ensaiar?

É um hábito comum – e péssimo – que os bailarinos têm de depender somente das atividades de dança para fazer a manutenção do corpo.

O resultado disso é um corpo com certos músculos tensos e muito sobrecarregados, enquanto outras cadeias musculares, que não são demandadas no ballet, ficam esquecidas e fraquinhas. A consequência? Lesões por sobrecarga e por repetição.

Pela quantidade de ensaios no dia a dia, acabamos dando mais importância para aqueles compromissos que firmamos com uma companhia, uma escola ou um grupo; porém, não podemos deixar de lado o compromisso que temos com nosso próprio corpo – afinal, a nossa casa necessita de uma edificação forte o suficiente para se manter em atividade.

O intuito desse artigo é elencar algumas opções de condicionamento físico que podem ajudar a manter essa casa bem edificada. Estas foram separadas em técnicas auxiliares e recovery para fins explicativos, mas é bom lembrar que elas não são atividades independentes uma da outra. A proposta é que elas sejam realizadas em conjunto, da maneira que melhor funcione para cada corpo específico.

Quais são as técnicas auxiliares disponíveis para bailarinos?

Algumas das técnicas auxiliares desenvolvidas para bailarinos são a Barra Solo, Pilates, Gyrotonic e até mesmo a Yoga – recentemente, inclusive, o Balé da Cidade de São Paulo a incorporou em sua grade horária.

Tratam-se de métodos de condicionamento físico que buscam fornecer caminhos para que os bailarinos obtenham uma melhor performance e previnam lesões consequentes da dança. Vamos entender cada uma delas?

1) Barra Solo

A barra solo adapta os movimentos tradicionais do ballet clássico para a posição deitada. A grande vantagem que essa mudança de posição provoca é isolar as partes do corpo, impedindo que o bailarino crie compensações – por exemplo, o atrito dos pés com o chão ajuda o bailarino a segurar a posição em um falso en dehors, mas quando se deita e se perde esse atrito, a rotação externa depende somente da força muscular.

Essa técnica também permite dar mais atenção à organização e ativação do core e ao alinhamento dos membros em relação ao tronco.

Geralmente, são professores de ballet que ministram aulas de Barra Solo.

2) Pilates

É uma técnica de condicionamento físico que data da Primeira Guerra Mundial, quando Joseph Pilates iniciou a aplicação de seus exercícios em um campo de prisioneiros de guerra; por volta de década de 1930, Pilates abriu seu estúdio em Nova Iorque, para onde foram atraídos diversos nomes da dança.

O método é baseado em exercícios deitados e em pé, com auxílio de aparelhos que usam a tensão das molas para provocar ou dificultar o movimento. Trabalham-se principalmente os músculos do centro do corpo e incentiva-se a consciência da respiração como princípio básico.

É uma atividade bastante difundida no Brasil, com estúdios que podem ser encontrados facilmente.

3) Gyrotonic

Gyro se parece um pouco com Pilates pelo uso de aparelhos similares. É um método bem mais recente e desenvolvido e adaptado para bailarinos. A diferença está principalmente no foco em movimentos circulares e multidirecionais, em oposição aos movimentos mais lineares do Pilates. Assim como este, baseia-se em movimentos ritmados sincronizados com a respiração, e procura oferecer uma integração entre mente e corpo.

Além disso, destaca-se por se basear mais na mobilização articular e movimentação fluida do que em picos de força muscular que são requeridos na musculação. A contração e extensão se combinam para criar um único movimento fluido, orgânico e sem interrupção.

No Brasil, é mais difícil encontrar estúdios e profissionais especializados na prática, o que o torna pouco acessível.

4) Yoga

A Yoga é uma prática milenar que teve sua origem na Índia, e tomou o mundo a partir dos anos 60, período em que o ocidente passou a se interessar por saberes orientais. É de grande ajuda para bailarinos porque trabalha a consciência corporal em conjunto com o bem-estar espiritual.

Ela se baseia na coordenação da respiração com movimentos de flexibilidade e isometrias. É ótima para ser usada como aquecimento, antes das aulas, e relaxamento ao final de um longo dia de trabalho. Seus benefícios não são somente corporais, uma vez que entende que corpo e mente são indissociáveis.

É acessível em diversos estúdios de Yoga e academias no Brasil.

5) Fortalecimento por musculação e exercícios aeróbicos

Além de métodos sistematizados de condicionamento, existem formas mais simples para exercitar áreas pontuais do corpo que o dançarino pode realizar sozinho. São os exercícios com faixa elástica, bolinhas de fisioterapia, exercícios de funcional e com ajuda de aparelhos de musculação.

No fim das contas, a academia também pode ser uma aliada para ganhar massa muscular e prevenir lesões. Fazer exercícios aeróbicos na esteira, bike (não necessariamente dentro de uma academia!), spinning, entre outros, são de grande ajuda para quem sofre com o fôlego. A dança combina resistência com explosão e, às vezes, nosso corpo não está tão preparado para um dos dois.

Recovery

Fonte: EletroHorse

Nem todos os bailarinos simpatizam com a fisioterapia, talvez por associarem-na a lesão e privação da dança. Mas é muito importante que os dançarinos se apropriem do conhecimento essa ciência produz e apliquem na própria prática corporal. Isso significa pesquisar, ler, conversar com profissionais da área, saber os nomes dados aos nossos músculos e ossos, enfim: saber se cuidar.

Quem já se lesionou a ponto de ter que ficar em repouso ou alterar drasticamente a rotina sabe bem o quanto esses profissionais são importantes para podermos voltar reabilitados e, muitas vezes, em melhor forma do que estávamos antes de lesionar!

O que não se compreende ainda é que técnicas de recuperação, como crioterapia (colocar gelo), não são somente para casos de lesões graves. Essas técnicas devem ser incorporadas no nosso cotidiano.

Desenvolva o hábito de soltar a musculatura depois de treinos pesados com o rolinho de liberação miofascial e bolinhas de tênis. Isso pode ser um pouco (ou muito) dolorido, mas muitas dores que sentimos podem ser advindas de mera tensão muscular. O rolo ajuda a soltar os “nós” que vão se acumulando nos músculos e na fáscia e que dão a sensação de travamento de determinada parte do corpo.

Se realizado pré-treino, será possível notar o aumento da amplitude de movimento e da mobilidade; se feito pós, irá auxiliar na redução da tensão provocada pelo treino e na recuperação do músculo.

Fonte: Dani Christoffer

E, finalmente, nós somos mestres em esquecer da seguinte técnica de recuperação: descanso. Deixe de achar que repouso é tempo perdido, pois, na verdade, não só é necessário, como é produtivo para a sua performance. O músculo precisa de repouso para se reparar – e você também.

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Carolina Paes de Barros

Carolina Paes de Barros

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Bailarina, redatora freelancer, feminista e Bacharel em Ciências Sociais. Iniciou seus estudos em dança em São Paulo, com Ilara Lopes, e seguiu para a Especial Academia, com direção de Guivalde de Almeida. Em 2017-18, participou da São Paulo Companhia de Dança, sob a direção de Inês Bogéa. Hoje, está buscando aprimorar-se artisticamente e criar pontes de diálogo entre a dança e as Ciências Sociais, curso em que se graduou em 2017, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Nesse período, realizou uma Iniciação Científica com o tema “Perfomances de gênero na dança clássica”, pelo Departamento de Antropologia da USP, com apoio do grupo de pesquisa NAPEDRA e orientação de John Cowart Dawsey. Tem interesse em criar redes de troca de informação sobre dança, e usar a escrita como ferramenta para relacionar história, política, sociologia, antropologia, ballet clássico, dança contemporânea, estudos do corpo e feminismo.