Série #1 Aprendizagem virtual em dança: um olhar para a perspectiva discente

POR QUE APRENDIZAGEM VIRTUAL E NÃO EaD?

A pandemia de 2020/2021 provocada pelo vírus COVID-19 colocou em pauta o Ensino à Distância em diversas áreas de conhecimento. E na Dança, o que ouvimos falar sobre

Primeiro de tudo, acredito ser importante esclarecer a diferença entre Ensino à Distância (EaD) e Aprendizagem Virtual e, sobretudo, porque é desta que lhes falo e não da primeira. Os primeiros registros apresentados com relação ao EaD no mundo foi por volta de 1728, quando o “Jornal Gazeta de Boston”, nos Estados Unidos, ofereceu um curso de taquigrafia com material e tutorial por correspondência. A Internet não existia ainda, sendo criada somente em 1969, e, portanto, os primeiros recursos que possibilitaram um Ensino à Distância foi por meio de cartas. Quase 100 anos depois, em 1840, foi inaugurada a primeira escola por correspondência da Europa, no Reino Unido. A chegada da educação à distância no Brasil, foi somente em 1904, quando o “Jornal do Brasil” ofereceu o primeiro curso de profissionalização por correspondência para datilógrafo. Com os avanços tecnológicos, o Ensino à Distância foi se incorporando nas novas possibilidades: como chamadas de videoconferências via Google Meet ou Zoom, por exemplo.

Pode-se perceber, por meio desta breve contextualização histórica do EaD, que os meios de comunicação foram, e ainda são, utilizados também como ambientes educativos e que não só comunicam e disseminam informação, como reestruturam formas de socialização e de interação na sociedade. Maria Luiza Belloni, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), aponta que:

Pedagogia e tecnologia (entendidas como processos sociais) sempre andaram de mãos dadas: o processo de socialização das novas gerações inclui necessária e logicamente a preparação dos jovens indivíduos para o uso dos meios técnicos disponíveis na sociedade, seja arado seja o computador. (BELLONI, 2002. p. 118).

Entretanto é importante ressaltar que apenas a separação física entre professores, alunos e alunas não caracteriza necessariamente um curso de Educação à Distância. Eduardo Santos Junqueira, professor do programa de pós-graduação em educação brasileira da Universidade Federal do Ceará (UFC) e autor do livro “Tutores em EAD”, afirma que o uso de tecnologia de informação e de comunicação em rede é intenso no modelo de Educação à Distância e que com o desenvolvimento de sistemas de transmissão em tempo real e de compartilhamento de dados, a capacidade de interação no EaD aumentou (JUNQUEIRA. apud PIERRO, 2020. p. 3). Junqueira aponta ainda em seu livro que a implicação do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) é essencial para a realização de um curso EaD. O AVA se comporta “como uma espécie de campus da universidade ou faculdade na internet”[1] (JUNQUEIRA, 2018) e apresenta uma série de ferramentos necessárias para o seu funcionamento: fórum de discussão, chats (salas de bate-papo), webconferência, mensagens, repositórios para trabalhos e arquivos dos alunos e alunas, questionário e avaliação online e acompanhamento dos estudantes da turma. Além dos AVAs, a estruturação de um curso EaD se dá pela presença de três áreas de funcionalidade:

1.      Coordenação geral das ações de um curso: permite disponibilizar arquivos para todos os alunos e alunas, por exemplo;

2.      Administração do curso: permite gerar e editar listas de alunos e alunas inscritas, contabilizar avaliações e emitir certificados;

3.      Comunicação: inclui fóruns de discussão, salas de bate-papo e mensagens.

Portanto, um modelo de Educação à Distância não se configura somente na separação espacial entre professora, aluno e aluna, mas também na estruturação e configuração em torno deste distanciamento, buscando ferramentas disponíveis pelos meios de comunicação e informação em rede, atualmente plataformas existentes na Internet, e dispondo de áreas de atuação que auxiliem na coordenação, administração e comunicação dos ambientes virtuais.

As soluções encontradas por nós, professores de dança, durante o confinamento de 2020 e 2021 não poderia, portanto, ser classificada como Ensino à Distância, nem mesmo dentro das universidades que antes atuavam em ambientes presenciais. Entretanto, não se pode negar a presença do ensino virtual, provocada pelo ambiente online, e como, nele, a aprendizagem se vê ressignificada e reestruturada, reconhecendo, assim, o ambiente virtual não como um local de substituição, mas de existência autônoma.


[1]  Conforme a Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT), a citação deve vir seguida por nome do autor, ano e página do trecho citado. Entretanto, a referência citada foi extraída de uma leitura digital, através do Ebook “Tutores em EaD: teorias e práticas”, do autor Eduardo Junqueira, disponível pela Amazon e lido pelo dispositivo Kindle. Desta forma, não foi possível extrair a página exata da citação referenciada.

Natália Beserra

Natália Beserra

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Professora-pesquisadora-intérprete em dança contemporânea, com ênfase em abordagens somáticas e trabalho de chão. Pesquisa a mediação pedagógica em contexto não-formal de ensino de dança, implicando estudo teórico-prático dentro de sala de aula e provocando uma maior aproximação entre o saber acadêmico e o saber presente nas experiências fora-universidade. Bacharelada e Licenciada em Dança pela Universidade Estadual de Campinas. Apresenta uma terceira formação técnica em Danças Urbanas pela Escola Urbana de Dança (Fortaleza, CE). Idealizadora do Projeto NAB, diretora artística na Companhia Sulclan (Fortaleza, CE) e bailarina da Cia. Michelle Borges (Fortaleza, CE). Foi aluna no Programa de Intercâmbio The Place, na London Contemporary Dance School (Londres, Reino Unido, 2018).