Novos espaços, novos papeis, novas dinâmicas: o que a gente faz pra aprender (dança) online?
Com todas as restrições do momento, uma das coisas mais pessoalizadas, conjuntas, coletivas da nossa experiência também teve que se transportar para o online: o aprendizado.
Companhias estão fazendo aula e ensaiando à distância, e os profissionais têm falado dos efeitos desses processos. Mas as novas gerações de bailarinos em formação também precisaram se adaptar, pra tentar aprender, praticar e estudar, sem sair de casa.
A questão está além da falta de piso adequado, das restrições do espaço, do convívio fechado, do irmãozinho que interrompe, do gato tapando a câmera e a tela, e recupera questões que têm até virado meme: como a gente aprende à distância, e se a gente aprende à distância.
Do primeiro “pára tudo” no ano passado até a readequação para ensino remoto, alunos, escolas e professores (de todo tipo de conteúdo e em todo nível), precisaram repensar suas estratégias de ensino e aprendizagem para novos suportes. Caótico.
Uma das primeiras barreiras a atravessar foi que “aprender online” tem um paralelo fundamental: “aprender o online”. Algumas tecnologias eram desconhecidas, e esse momento de “vamos desbravar juntos novos territórios” quebra expectativas da dinâmica de ensinar e aprender. Faz parte. Novos tempos, novas dinâmicas.
Tudo foi transformado em laboratório. Em constante descoberta e criação de propostas e respostas. Algumas dessas, a gente solidifica e repete, enquanto outras tantas vão ficando pra trás como parte da invenção do “como fazer, desse jeito diferente e inóspito, aquilo que a gente já fazia”.
Não tem respostas fáceis, nem soluções mágicas. Mas tenho visto iniciativas maravilhosas. Colegas que se ajudam e desbravam possibilidades, gente que fugia de qualquer conexão digital e agora domina recursos e sistemas. E também alunos que reinventam o que é “estar em sala de aula”, como é “participar à distância”, e de forma a gente consegue estar junto, ainda que longe.
Em calendários bem bagunçados, começamos novos semestres, novas turmas, novas disciplinas. Um tanto agradecidos por sabermos melhor o que fazer, e como fazer. Mas ainda esperando esse momento passar, pra poder olhar no olho e sentir de novo a intimidade de construir conhecimento compartilhado em sala de aula.
Em transformações constantes e assustadoras, o ensino e a formação têm sofrido pressões, tensões, e vivido em crise, ou pelo menos na beira dela. Em todos os domínios. A arte não é uma exceção. O tamanho do desafio insiste no tamanho da importância desse nosso trabalho. Pra todos os colegas, professores e alunos: força. Seguimos juntos, porque juntos é melhor.
* Henrique Rochelle é crítico de dança, membro da APCA, doutor em Artes da Cena, e Professor Colaborador da ECA/USP. Editor dos sites da Quarta Parede, e Criticatividade.
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