Pavão Misterioso (Espaço Sobrevento)

por Cia Dual

espetáculo | Dança Contemporânea


Primeira direção solo de Mônica Augusto dentro da companhia,

espetáculo tem dramaturgia de Dione Carlos. No palco, os

bailarinos Ivan Bernardelli e Verônica Santos manipulam um boneco

de pavão criando as cenas por meio de um jogo de improvisação

que geram uma apresentação diferente a cada sessão

 

O cordel O Romance do Pavão Misterioso, escrito por José Camelo de Melo Rezende em 1923, é o ponto de partida de PAVÃO MISTERIOSO, a nova montagem da Dual com dramaturgia de Dione Carlos e direção de Mônica Augusto. O espetáculo, que faz apresentações gratuitas de 4 a 7 de abril no Espaço Sobrevento (sessões de quinta-feira a sábado às 20h e domingo às 18h), traz à cena os bailarinos Ivan Bernardelli e Verônica Santos em um jogo de improvisação cênica.

Mesclando dança e teatro de formas animadas, PAVÃO MISTERIOSO – contemplado pela 33ª Edição do Programa Municipal de Fomento a Dança para a cidade de São Paulo da Secretaria Municipal de Cultura – apresenta outros pontos de vista a partir da narrativa original do cordel paraibano, na qual Evangelista se apaixona por Creuza, considerada a mulher mais linda do mundo, mantida em cativeiro pelo próprio pai. Para libertá-la, constrói um pavão voador com o intuito de fugir com a amada.

Em pleno século XXI, nesta releitura cênica, a Dual coloca a personagem Creuza na pele de uma mulher negra, descendente quilombola que, no lugar de ser salva, busca sua própria liberdade de amarras sociais impostas, chegando inclusive a confrontar a presença de Evangelista no papel de salvador. É a partir deste encontro conflituoso que Evangelista também passa a questionar o gênero masculino e toda a estrutura que o beneficia. Creuza, por sua vez, traz um quilombo em seu corpo, sua presença instaura um território de lutas e potências, configurando um quilombo erótico místico.

Labirinto narrativo

A diretora Mônica Augusto revela que em PAVÃO MISTERIOSO, teve como metodologia principal de trabalho o cuidado e o prazer, trabalhando para que os bailarinos e a equipe se divertissem, lembrando o sentido originário de estar vivo. “Eu quis que esse espaço de criação na sala de ensaio se transformasse num espaço de cura, de transformação, um portal para que a gente pudesse abandonar o que precisasse ir embora dentro da gente e receber novas possibilidades e perspectivas de criar, de reconhecer nossas própria grandezas e potências. Entrei na sala de ensaio com uma vontade gigante de ver os bailarinos dançando porque desejam dançar, os artistas convidados criando porque tinham o desejo disso. Na criação de música, na criação de luz, o meu desejo era guiar um processo que todas as frentes pudessem de fato se encontrar, experimentar e ter alegria naquilo que estavam fazendo”.

No espetáculo, os bailarinos Ivan Bernardelli e Verônica Santos e um boneco de pavão criado por André Mello estabelecem jogos cênicos e de movimento por meio dos quais a narrativa é contada. “Na condução deste trabalho, a presença provocadora de Luis Rubio, da dramaturga Dione Carlos e a preparação corporal e colaboração de Mirella Façanha foram fundamentais para chegarmos a este ambiente de cuidado e jogo, que influenciou diretamente na estética do espetáculo”, adianta a diretora.

PAVÃO MISTERIOSO é um jogo no qual as cenas que fazem parte da história são realizadas de modos diferentes a cada apresentação. “Neste novo trabalho fazemos um convite para que o público possa experimentar diferentes tempos, para saltarmos de uma camada de realidade para a outra, para decifrarmos as narrativas e construir a história por meio do jogo cênico e improvisacional”, adianta Mônica. “originalmente a ideia de labirinto era narrativa, eu decidi então explodir a ideia de labirinto como a própria  metodologia de criação cênica, capaz de lidar com a intuição, com uma abertura radical das escutas do corpo, do espaço, do ritmo, das memórias, das presenças visíveis e invisíveis, o que eu tenho chamado de Tecnologia dos Mistérios”.

A trilha sonora original de Feliz Trovoda, que conta também com músicas de Di Freitas, assim como a iluminação, de Silviane Ticher, participam do jogo cênico numa composição em tempo real, improvisando junto com os bailarinos, propondo atmosferas que transitam entre a densidade e o humor característico dos trabalhos da companhia, evocando mais uma vez a interdisciplinaridade entre linguagens, presente desde o início da formação da Dual .Olhar coletivo

A dramaturga Dione Carlos, vencedora do Prêmio Shell de Teatro na categoria dramaturgia, conta que essa é sua segunda dramaturgia para a dança: “Escrevi uma dramaturgia em reposta às partituras corporais criadas, cujas palavras inspiraram novos movimentos. Partimos então da ideia de afrografia, de grafia gestual e logo percebi no primeiro ensaio que o erotismo presente no trabalho simbolizava uma forma de insurgência, como se o corpo afirmasse: Estou vivo”.

Mônica Augusto explica que a sua direção para PAVÃO MISTERIOSO “É um convite pra gente voltar pra dentro de si, vivemos em um momento no mundo que nos convoca o tempo todo a estar fora da gente, e quando estamos fora do nosso recheio não conseguimos nos relacionar com a potência que temos. É um convite para o olhar coletivo, para que a gente possa aceitar de maneira mais tranquila que existem padrões dentro da gente que precisam morrer, existem práticas e olhares que nos fundaram que precisam morrer. É um convite para que a morte não seja encerrada num conceito de finitude e sim de possibilidade para algo novo nascer”.

 

Sobre a Dual

Criada em 2011, a Dual é dirigida por Mônica Augusto e Ivan Bernardelli. Realiza pesquisas artísticas a partir de mitologias e fenômenos históricos associados à cultura brasileira. Sua trajetória teve início com o espetáculo Duo Para Dois Perdidos, inspirado no universo do dramaturgo brasileiro Plínio Marcos. Em 2014, evocou as tensões religiosas do Brasil colonial para criar o espetáculo Terra Trêmula. Em 2016, através de intercâmbios realizados na aldeia Guarani Guyrapa-Ju, criou Profetas da Selva. Em 2017 estreou Chulos, espetáculo inspirado na mitologia ao redor das Folias de Reis e, em 2018, criou Tríptico Sertanejo, espetáculo que adentrou os sertões brasileiros e trouxe à cena as complexas paisagens, mitologias e modos de ser sertanejos. Unindo dança, teatro e circo levou à cena o espetáculo Linha Vermelha, um mergulho na estética das óperas e comédias do Brasil do século 18. Participou de importantes festivais de norte a sul do país e no exterior. A companhia realiza ainda atividades pedagógicas em diversos formatos, com destaque para o Curso História Prática da Dança no Brasil, além da publicação Lanternas No Caos. Uma História da Dança no Brasil. Principais premiações: Prêmio Denilto Gomes 2021 (plataforma de múltiplas ações colaborativas); Prêmio FETEG 2019 (Festival de Teatro de Guaranésia, MG): Prêmio Visualidades Corpóreas, Prêmio Ecologia Sonora e Prêmio Melhor Espetáculo na categoria alternativo; Prêmio Arte e Inclusão 2018 (Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência – SP) e Premiada na categoria dança pelo Prêmio Brasil Criativo (2016).



Ficha técnica:


Direção – Mônica Augusto. Codireção e Preparação Corporal – Mirella Façanha. Intérpretes – Ivan Bernardelli e Verônica Santos. Dramaturgia – Dione Carlos. Provocação Cênica – Luís Rubio. Professor Convidado – Marcelo Grangeiro. Bonecos – André Mello. Composição Sonora – Feliz Trovoada. Música Original – Di Freitas e Feliz Trovoada. Iluminação – Silviane Ticher. Documentarista – Alícia Peres. Produção – Adolfo Barreto e Pedro de Freitas | Périplo Produções. Assessoria Contábil e Financeira – Juliana Rampinelli Calero | JRC. Marketing – Ventuna Digital + Miguel Von Zuben. Identidade Visual – Bárbara Ghirello. Webmaster – Marina Duca. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Lambes – Camis e Tas - Foto: Alicia Peres

  • De 04/04/2024 até 07/04/2024
  • Domingo: 18:00 - 19:00
  • Quinta-feira: 20:00 - 21:00
  • Sexta-feira: 20:00 - 21:00
  • Sábado: 20:00 - 21:00
  • Entrada gratuita
  • 14 anos
  • Local: Espaço Sobrevento
  • Endereço: Rua Coronel Albino Bairão, , bairro Belenzinho, São Paulo-SP
  • Acessibilidade: Sim