Crédito das Fotos: Logo 35ª Bienal de São Paulo
O dia 25 de julho, conhecido internacionalmente como “Dia Internacional da Mulher Negra Larino-Americana e Caribenha”. Em 1992 na cidade de Santo Domingo, capital da República Dominicana ocorreu o 1º Encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas. No mesmo ano a ONU (Organização das Nações Unidas) fixou a data como o “Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha”, dada a importância do encontro que teve como pautas denúncias acerca do racismo e machismo enfrentado e que acometem as mulheres negras.[1]
Neste ano de 2023 entre os meses de setembro e dezembro teremos a 35ª Bienal de São Paulo cujo título/tema é “Coreografias do Impossível”, com título que remete à dança. Coreografia, conhecimento da dança que está no título de um dos maiores eventos de arte do mundo, ao lado da Bienal de Veneza (Itália) e Documenta de Kassel (Alemanha). Com curadoria de Grada Kilomba, Diane Lima, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, dois homens e duas mulheres negras. O protagonismo de duas mulheres negras em um evento de magnitude mundial é um fato que merece ser destacado, as curadoras são a pesquisadora e curadora brasileira Diane Lima e a pesquisadora e teórica portuguesa Grada Kilomba.
Quais os possíveis efeitos de uma curadoria realizada por e com mulheres negras? O lançamento da primeira ação educativa da bienal foi o livro “Aqui, numa coreografia de retorno, dançar é inscrever no tempo” com título de Leda Maria Martins, pesquisadora e dramaturga brasileira, mulher negra de extrema importância para o movimento feminista negro, além de outros ecritos, mas destaco o de Inaicyra Falcão, um dos grandes nomes da dança, também mulher negra e brasileira. A Bienal atrai os olhos artísticos do mundo que terão contato voluntário ou involuntariamente com grandes mulheres, importantes referências em suas áreas.
Vale ressaltar que existimos em uma sociedade onde a necropolítica dita as relações. Necropolítica é um conceito apresentado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe. Em resumo a necropolítica aponta como os dispositivos estatais decidem quem vive e quem morre, quais corpos irão morrer e quais irão viver (IANNINI, 2022). Infelizmente não é difícil compreender que mulheres negras são as mais afetadas, mas por sua vez ter mulheres negras em espaço de poder não quer dizer que o racismo ou a necropolítica que as afeta irá acabar, contudo pode ser um dispositivo de enfrentamento.
No que tange a Bienal o foco de interesse desta edição está em colocar em evidência questões acerca da liberdade, justiça e igualdade. O interesse está no fazer artístico e em obras que dançam as suas realidades políticas, jurídicas, econômicas e sociais, onde os fazeres estão contextualizados e como podem oferecer outros modos de dançar e quem sabe mudar os rumos necropolíticos.
A 35ª Bienal de Arte de São Paulo começa no dia 6 de setembro no Parque Ibirapuera, até lá vamos nutrindo nossas expectativas, mas com a lucidez de que muito ainda precisa ser feito e refeito.
REFERÊNCIAS
IANNINI, Gilson. Psicanálise: a necropolítica pelo avesso. In: Revista Cult – Revista Brasileira de Cultura. Editor: Daysi Bregantini. São Paulo: Editora Bregantini. Ano 25, Dezembro 2022.
https://www.bienal.org.br/. Acesso em 16/07/2023.
[1] Informações disponíveis em: