Crédito da imagem: Ocupação Angel Vianna no Itaú Cultural
Confesso que esse texto foi muito difícil de escrever, minha relação com a Angel Vianna vem de um outro espaço-tempo, ainda na graduação em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Londrina. Foi nas salas de ensaio com a minha orientadora da vida e da arte, Drª Ceres Vittori, que tive uma introdução a uma filosofia prática que transformou minha jornada artística.
Escrever sobre Angel é dizer uma história da dança que se transformou com a sua presença; junto a Klauss Vianna, começaram a reescrever uma história sobre percepção, coreografia e a criação em dança brasileira. Foi no estado de Belo Horizonte, em 1958, que iniciaram a pesquisa experimental sobre a percepção corporal com o Ballet Klauss Vianna e os grupos experimentais reunidos nessa época. A pesquisa seguiu viagem para Bahia, e no Rio de Janeiro que as coisas se firmaram, com a fundação do Centro de Pesquisa Corporal Arte e Educação, a formação do Grupo Brincadeiras, Teatro do Movimento e a Faculdade Angel Vianna.
Em sua trajetória, é evidente que a criação é uma necessidade, reunindo artistas interessados em pesquisar algo que seja tão único: o corpo como potência dos sentidos.
Angel e Klauss Vianna mudaram o modo de fazer dança, a ponto de podermos afirmar que existe uma dança brasileira antes e depois da presença dos dois. Foi com a liberdade, sensibilidade e a experimentação que construíram uma técnica que engloba todos os corpos – e juntos questionaram paradigmas da dança e teatro -, unindo as linguagens com o exercício contínuo entre o saber sobre si e a descoberta de um caminho artístico inventivo.
Com a consciência do movimento proposto, Angel Vianna coloca em voga a sensibilidade como uma percepção que modifica a presença e a forma de estar no mundo.
A autopercepção que evocam é uma prática constante, um exercício contínuo, um conjunto de práticas que transformam a percepção sobre si. A dança de Angel, é uma busca fantástica de autodescoberta, do espaço e do outro, essa sensibilidade que modifica a presença no espaço, a capacidade inventiva do corpo e a criatividade. É dessa compreensão de si que acontece a regulação do tônus muscular, a reestruturação da postura e o equilíbrio que evoca o gracejo da vida.
A sua poética é sobre o movimento que liga ao outro, o gesto como gesto, sem desgaste desnecessário, a transformação como o passo que faz o mundo sair do lugar junto aos pés. É a revolução por meio dos sentidos que conecta a nossa percepção à do outro.
Depois de Angel Vianna a dança se transformou para algo que une a vida e a arte, que começa pelo corpo e termina nele, em uma linguagem que comunica que os sentidos são, antes de tudo, a bússola que nos guia para uma expressão cada vez mais singular.
É no corpo em movimento que a vida acontece!