80 anos de Steve Paxton

Crédito das Fotos: Steve Paxton.

Inaugura esse fim de semana (9 e 10/03) em Lisboa a exposição Esboço de Técnicas Interiores, uma retrospectiva da carreira do bailarino estadunidense Steve Paxton, que nesse ano comemorou seus oitenta anos de vida. Com curadoria dos coreógrafos Romain Bigé e João Fiadeiro, uma série de eventos ocupam o espaço da Culturgest, centro cultural de Lisboa, de março a julho desse ano. Além da exposição estão previstas: apresentações de repertórios (reconstituições de peças), conferências, workshops, interface com jovens artistas e atividades com escolas e centros de formação. 

Essa exposição é a primeira retrospectiva da carreira do artista, cuja contribuição e legado para a dança mundial são gigantescos.

Steve Paxton fez parte da geração de bailarinos que mais incisivamente trouxe pautas biopolíticas para o ambiente da dança, quando no auge dos anos 60 junto ao coletivo do Judson Church Theater passaram a questionar modos de trabalho, hierarquias e a liberdade do intérprete, fomentando um ambiente inédito de colaboração entre dançarinos, fértil em experimentação e expansivo no que diz respeito aos paradigmas que foi ampliando, inscrevendo a pertinência das questões da dança, na arte contemporânea daquele tempo. Mais tarde, nos finais dos anos 70, já exercitando a relação entre pesquisa de linguagem e ensino, Steve é o precursor da linguagem do Contato Improvisação, explicado na simplicidade das palavras dele como um modo Ocidental de abordar os conhecimento do Aikidô (arte marcial baseada na troca de forças e redirecionamento da energia entre os praticantes).


Ao longo de sua vida Steve também friccionou o ambiente da dança ao propor discussões sobre temas como: o acesso às práticas (a democracia dos corpos), a natureza do espetáculo (ao desbravar a improvisação como uma ciência cênica através de seus estudos da Golberg Variations de Bach), o paradigma de movimento (a partir de seus estudos da quietude na Small Dance) e também em relação aos treinamentos (ao propor seu material para a coluna como estudo técnico que sintetiza todas as inquietações apresentadas até aqui).

A exposição Esboço de Técnicas Interiores, tem seu nome emprestado de um artigo escrito pelo próprio Steve à revista Contact Quately em 1993. No escrito “Drafting Interiors Techniques”, o bailarino cartografa on interesses que vão criando seu percurso na dança, falando muito da relação entre aquilo que podemos e consciência   e aquilo que nos escapa, valorizando a oscilação entre esses estados. Sempre interessado em documentar sua produção de conhecimento, são dezenas de artigos e entrevistas de Steve que podem ser achados nos arquivos da revista Contact Quartely, além disso nos anos 80 Steve produziu dois filmes para falar do Contato Improvisação: “Chute” e “Fall After Newton” são peças documentais seminais para qualquer pesquisador e interessado em dança contemporânea. Em 2008 junto a revista belga Contradense produziu o DVDroom “Material for a the Spine”, com 8h de reflexões e explanações sobe seu estudo técnico. E no ano passado também em parceria com a editora belga pública “Gravity” sua autobiografia de movimento.

Esse interesse do bailarino pela documentação de seu trabalho trouxe uma motivação especial aos curadores da exposição, que junto com Steve desenharam as oito estações que vão tratar da obra do artista. São elas: um estudo sobre os movimentos perdestes (Judson); um estudo sobre a anarquia (Gran Union);  o Contato (Contact Improvisation); um estudo sobre a gravidade (Gravity); um estudo sobre o silêncio (Small Dance);  um estudo sobre a desorientação (Material for the Spine); um estudo sobre o solo e o improviso (Golberg Variations); e um estudo sobre as relações (parceria com a Lisa Nelson, sua relação com a ecologia e a vida no campo no sítio onde vive em Vermont).Nesse fim de semana serão apresentadas três reconstituições de peças seminais do bailarino: Flat, Satisfying Lover e Golberg Variations. E no domingo uma conferência com Steve Paxton acontecerá e será transmitida via streaming. Fiquem ligados no mud para mais notícias sobre essa exposição.


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Paula Petreca

Paula Petreca

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Sou uma artista do movimento e professora de dança e yoga. Estudo o corpo e a dança de diversas formas desde os anos 1990, mas destaco minhas passagens pela Escola Livre de Dança, pelo estúdio Luis Louis de Mímica e de Teatro Físico, pelo estúdio Nave e pelo mestrado em Comunicação e Semiótica da PUCSP como os locais mais importantes para minha formação no Brasil.  Divisor de águas em meu percurso foi o período de quatro anos em que vivi no c.e.m – centro em movimento de Portugal, onde pude ressignificar meus entendimentos de dança a partir dos estudos com Sofia Neuparth, Peter Michael Dietz, Margarida Agostinho, Ainhoa Vidal, Eva Karczag, Lisa Nelson e Steve Paxton, em paralelo ao atravessamento de experiências comprometidas de atuação em dança nas ruas de Lisboa. Como coreógrafa, desde 2007 elaboro peças autorais, e desde 2010 idealizo e dirijo o Projeto Co – plataforma de criação em dança para espaços vários. Em oito anos de trajetória criamos com o Projeto Co dez peças para espaços públicos das cidades de Lisboa, São Paulo e dos sete municípios do ABC Paulista. No campo pedagógico, elaborei pensamentos na coordenação do Centro Livre de Artes Cênicas de São Bernardo do Campo, na Escola Livre de Dança de Santo André, na Escola de Dança de São Paulo, e no presente momento no Centro de Referência da Dança de SP. Atualmente me aprofundo em práticas de meditação ativa e na criação de outras formas de conhecer e existir através da arte e do convívio potente e destemido.