Um jogo entre ver e não ver

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio

Por Flávia Fontes Oliveira

PLATAFORMA23, núcleo de pesquisa e criação de Ribeirão Preto, fundado em 2021, nasceu com o propósito de valorizar a produção local, com criações que unem performance e experimentação corporal. Essa ideia também conduziu a criação de Cortina de Fumaça, trabalho com criação e interpretação de Helk Pedrassi e Sofia Monteiro, com orientação artística do intérprete e diretor de dança Diogo Granato.

A obra foi apresentada no sábado, dia 29 de novembro, na segunda noite da Mostra de Dança do Programa de Qualificação em Artes CULTSO PRO na Casa de Cultura Cine Santana. Em cena, a iluminação mais baixa, o grande uso de fumaça para contornar o palco e a luz que desenha alguns caminhos, as criadoras borram os limites entre o que é possível enxergar e o que escolhemos tornar invisível.

Nesse ambiente, as duas começam de forma lenta, com uma trilha sempre constante, em movimentos aparentemente similares, quando é quase possível confundir as duas em cena. A coreografia trata de violências veladas do cotidiano. Não há, portanto, nenhum gesto ou movimento brusco, as situações aparecem nas entrelinhas, no que não é possível enxergar.

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio

A parceria com Granato, cujo percurso ressalta a combinação entre dança contemporânea, dança acrobática e técnica de parkour, é visível nos dois longos solos em que as intérpretes usam o tempo como desgaste dos próprios corpos. Nessa escolha cênica, é possível enxergar a diferença entre as duas intérpretes. Sofia inicia sua parte em um movimento contínuo de levantamento e quedas, um corpo que se molda nesse trânsito, em círculos menores do palco, com sugestões de movimentos unindo dança contemporânea e capoeira.

A sequência de Helk carrega ironias no próprio movimento, referências ao balé clássico se dissolvem com a força de sequências contemporâneas e danças urbanas de mais força, passeando por diversas partes do palco.

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio

No fim de Cortina de Fumaça, o conjunto com movimentos sincronizados, mas não idênticos, reforça essa ideia do que tem em comum e diferente entre cada uma delas, o turvo do olhar para vermos o que é possível. Esse trabalho de provocação entre orientação e interpretação trouxe essa tensão também para o público.

Há, nesse jogo cênico, uma imagem simbólica que novamente pode ser vista de diversos ângulos, uma possível aproximação nos deixa em dúvida: é um encontro, um beijo? Depende do ângulo.

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio

 

Crédito: Ronny Santos

Flávia Fontes Oliveira. Jornalista e roteirista. É autora e roteirista do projeto Tempo de Dança (Origina Conteúdo, em cartaz no canal Arte1). Também colabora com o jornal Valor com matérias sobre dança. Trabalhou na Gazeta Mercantil, Revista Época (semanal), foi redatora-chefe na Editora Trip e coordenadora das áreas de Comunicação, Educativo e Memória na São Paulo Companhia de Dança. Já fez matérias sobre dança em diversos veículos como as revistas Bravo!, Fapesp, CartaCapital, TAM, Voe Gol, entre outras. É autora de artigos como Texturas da Memória (in: Sala de Ensaio, Imprensa Oficial| SPCD, 2010. Co-organizadora do livro Na dança (Imprensa Oficial, 2005). É mestre em comunicação pela PUC/SP, com dissertação sobre a dança em São Paulo. Como roteirista, em ficção, fez parte da equipe de roteiro da série Chuva Negra, de Rafael Primot. Participou da equipe de roteiro do programa Me deixa dançar (Moonshot Pictures – GNT); da temporada 2 e 3 do programa Menos é Demais (Discovery Home & Health).

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Como parte das estratégias da Mostra de Dança PQA CULTSP PRO (28 a 30 de novembro de 2025/ São José dos Campos/Casa de Cultura Cine Santana), esta resenha foi escrita para ampliar- mediante um profissional olhar crítico sobre as obras nela apresentadas – as ações do PQD, programa de formação profissional, inovação e sustentabilidade, criado pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – idg. O PQD tem Coordenação de Cássia Navas, Supervisão Artística de Samuel Kavalerski e Monitoria de Bia Fonseca. O CULTSP PRO tem Sérgio de Azevedo como Gerente Geral de Formação e Raquel Verdenacci como Diretora.

Esta publicação é uma parceria entre o CULTSP PRO e o Portal MUD, sendo as visões nelas expressas exclusivas de sua autora.

Programa de Qualificação em Dança

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Concebido para aproximar artistas, mediante a orientação de grupos, companhias e coletivos de todas as formas da dança no estado, o PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO EM DANÇA alarga seus contornos ao investir diretamente em territórios estruturados e/ou em estruturação da arte, cultura, indústria e economia criativas. Para isto, ambém estabelece especiais circuitos de circulação e validação da dança atual, também em mostras regionais e estaduais.