Um caminho para a dança

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio / @cultsppro

Por Flávia Fontes Oliveira

A Way Company participou da Mostra de Dança CULTSO PRO – Programa de Qualificação em Artes no dia 29 de novembro, à tarde, na Casa de Cultura Cine Santana, com a coreografia O Abutre, de Matheus Matos, também diretor do grupo, cujo o tema aborda a dificuldade de criar em um sistema econômico desigual.

O grupo de Danças Urbanas de Catanduva, fundado em 2016, chega a esta edição superando dificuldades próprias, que envolvem desde perda de espaço para ensaio – e, consequentemente, criação – até a dissolução do antigo elenco. O tom árduo da proposta da coreografia também encontrava ecos na própria história recente da companhia.

A escolha de Danilo Nonato para orientação artística do grupo, feita pela equipe de Dança do Programa Qualificação, possibilitou entrosamento, identificação e cuidado mútuos, que apontaram caminhos para um novo recomeço. O Abutre é, nesse sentido, o início de uma nova jornada e aponta um caminho de pesquisa se desenhando.

A coreografia de pouco mais de 45 minutos conta doze integrantes em cena e começa fora do teatro, com três pessoas vestidas inteiramente de preto, com a cabeça e o rosto também cobertos de preto. O simbolismo dessas figuras darão o tom da dramaturgia do espetáculo.

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio

Ao entrarem no teatro, há já um bailarino dançando em um foco de luz ao fundo do palco. As figuras dão lugar na cena para os bailarinos e bailarinas que caminham em um trânsito ininterrupto, “uma construção cotidiana esgotante”, como diz o release. Nesse movimento, aos poucos, outros bailarinos invadem o foco de luz.

Quase todos os bailarinos vestem calças e blusas de gola alta em tons de cinza e preto; apenas um bailarino veste branco, Vinícius Rayzel que, em diferentes momentos, terá um destaque no grupo, seja no solo ou no papel dramatúrgico que representa: o personagem que luta e escapa à regra sufocante da roda social.

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio

A companhia sinaliza em sua biografia o uso das linguagens das danças urbanas, estilo livre e dança contemporânea como parte de sua formação ao longo dos anos. São vertentes apropriadas em diferentes momentos da coreografia apresentada: conjuntos construídos com forte referência às danças urbanas, como o trio masculino logo no início ou o quarteto feminino- que usa referências ao estilo vogue, solos contemporâneos. Há muitas cenas e, por vezes, mais de um conjunto nos chama atenção ao mesmo tempo.

O encontro com o orientador artístico permitiu que todas essas ferramentas cênicas fossem postas e sinalizassem um caminho para o  amadurecimento e construção de um estilo que unifique o grupo. Matheus Matos, que em 2015 participou como bailarino do PQD com curadoria de Ismael Ivo e orientação de Morgana Sousa, não deixou a dança, atuando como professor e disseminando conhecimento no interior, tem a chance agora de fortalecer as bases lançadas em um ano cheio de desafios.

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio

 

Crédito: Ronny Santos

Flávia Fontes Oliveira. Jornalista e roteirista. É autora e roteirista do projeto Tempo de Dança (Origina Conteúdo, em cartaz no canal Arte1). Também colabora com o jornal Valor com matérias sobre dança. Trabalhou na Gazeta Mercantil, Revista Época (semanal), foi redatora-chefe na Editora Trip e coordenadora das áreas de Comunicação, Educativo e Memória na São Paulo Companhia de Dança. Já fez matérias sobre dança em diversos veículos como as revistas Bravo!, Fapesp, CartaCapital, TAM, Voe Gol, entre outras. É autora de artigos como Texturas da Memória (in: Sala de Ensaio, Imprensa Oficial| SPCD, 2010. Co-organizadora do livro Na dança (Imprensa Oficial, 2005). É mestre em comunicação pela PUC/SP, com dissertação sobre a dança em São Paulo. Como roteirista, em ficção, fez parte da equipe de roteiro da série Chuva Negra, de Rafael Primot. Participou da equipe de roteiro do programa Me deixa dançar (Moonshot Pictures – GNT); da temporada 2 e 3 do programa Menos é Demais (Discovery Home & Health).

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Como parte das estratégias da Mostra de Dança PQA CULTSP PRO (28 a 30 de novembro de 2025/ São José dos Campos/Casa de Cultura Cine Santana), esta resenha foi escrita para ampliar- mediante um profissional olhar crítico sobre as obras nela apresentadas – as ações do PQD, programa de formação profissional, inovação e sustentabilidade, criado pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – idg. O PQD tem Coordenação de Cássia Navas, Supervisão Artística de Samuel Kavalerski e Monitoria de Bia Fonseca. O CULTSP PRO tem Sérgio de Azevedo como Gerente Geral de Formação e Raquel Verdenacci como Diretora.

Esta publicação é uma parceria entre o CULTSP PRO e o Portal MUD, sendo as visões nelas expressas exclusivas de sua autora.

Programa de Qualificação em Dança

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Concebido para aproximar artistas, mediante a orientação de grupos, companhias e coletivos de todas as formas da dança no estado, o PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO EM DANÇA alarga seus contornos ao investir diretamente em territórios estruturados e/ou em estruturação da arte, cultura, indústria e economia criativas. Para isto, ambém estabelece especiais circuitos de circulação e validação da dança atual, também em mostras regionais e estaduais.