Nesta última sexta-feira, no dia 29 de Abril de 2022, comemoramos o dia internacional da dança, e no ano de 2020 escrevi um texto celebrando essa data tão importante. Nesse texto, comentei sobre o impacto de vivenciar o ápice da pandemia do covid-19, restringindo toda a classe artística de realizar atividades presenciais, e também da falta dos momentos que o presencial nos dava, constatamos que nada substitui o público presente. Foi o período para constatar o óbvio do porquê chamamos artes cênicas de arte do encontro.
Nesse texto, além de acentuar esta falta, fiz uma pergunta capciosa, como será nossos encontros após tudo isso?
E agora, com as retomadas das atividades culturais, graças aos avanços da vacinação, conseguimos finalmente, voltar aos poucos a nos encontrar, nos reunir nos ensaios, ter aquele toque tímido nas aulas, e finalmente, ver o público quando a luz acende no final do espetáculo. Entretanto, o que mudou? Foi uma ruptura, uma pausa do nosso modo de fazer dança e espetáculos ou nesse processo alguma coisa mudou em nosso desenvolvimento enquanto programadores de espetáculos artísticos?
Dessa pergunta, quero somente focar na interrogação, nada de conclusões precipitadas. Penso que a retomada é a nossa oportunidade para ter relações diretas, diferentes daquele eco virtual que ansiamos para alguém abrir o microfone e falar sobre determinado tema que provocamos em debates virtuais, ou até mesmo depois do espetáculo virtual e ler os comentários sobre aquele encontro. A retomada das atividades culturais é a oportunidade para ver olhares diretos, reações corporais e respostas atravessadas sem precisar “mutar” nenhuma conversa.
O modo que produzimos na pandemia foi um desafio, tatear no escuro para ver se encontrava possibilidades no virtual que pudesse dar continuidade aos nossos processos artísticos, e nesse período encontramos vários formatos que contemplou encontros muito frutíferos. O que quero com essas duas visões sobre um fato? Gostaria de propor uma questão, o que aprendemos na produção virtual que podemos levar para nossa programação artística futura? Eis uma resposta coringa: eventos híbridos.
O formato híbrido é a oportunidade de gerenciar tanto o público presencial quanto o virtual, pois, nesse período entre o virtual e a retomada, quantos públicos diversos construímos por simplesmente quebrar a barreira geográfica? O que acontecerá se de agora em diante, voltarmos a criar eventos presenciais, sem considerar: esse evento que será realizado, quais suas características que o define como presencial e não como híbrido?
Por exemplo, resido em Londrina-PR, sob o contexto do interior, e nesse período de atividades remotas, pude expandir minhas redes de contatos artísticos, criando uma série de ações que englobasse pessoas fora da minha cidade, assim como participar de eventos que seriam inviáveis para ir até lá.
Na atual situação de retomada, o que o evento híbrido pode nos compadecer? Se torna uma forma flexível de lidar com o que foi construído nesses dois anos de pandemia, comprometer o público virtual, conectar regiões com nosso trabalho que até então nunca havíamos realizado nem mesmo uma temporada, nesse outro aspecto de troca de relações, o híbrido combina componentes presenciais e elementos virtuais, de modo que é possível testar vários formatos, podendo ser gravado, ao vivo, separado do público presente, enfim, uma gama que nos coloca sob a questão central de todas essas interrogações escritas: Quais as características dos eventos artísticos que define como presencial e híbrido? E quais decisões podem ser tomadas a partir dessa análise.
Claramente, nesse processo de retomada, acabamos focando no que faz falta: o presencial. Sem dizer que estamos com fadiga digital, nossos corpos não processam tanta informação sem estar em contato físico com o outro. Assim, como não podemos finalizar nenhum texto exaltando ações virtuais sem dizer a pior parte dessa situação: quedas de energia, quedas de internet, bateria acabando, microfone desativado enquanto tá no meio de uma fala importante ou até mesmo o microfone aberto sem saber que estava.
Para concluir, e focar no o que mudou nesse processo de retomada das ações culturais, é dizer que estou muito feliz em poder escrever para o Portal MUD, é uma honra enorme poder compartilhar com vocês indagações, reflexões e divulgar pesquisas artísticas.
E que nessa retomada para os teatros e salas de ensaio, seguida dessa comemoração ao dia da dança, dizer que tudo mudou, não somos os mesmos de quando entramos no ápice da pandemia, e com certeza, muita coisa ainda está para mudar, seja em nosso fazer artístico, seja nas nossas programações artísticas, por isso o meu foco foi refletir sobre em não perder esse contato que estamos tendo, mesmo no virtual, pois estamos sempre construindo redes humanas que fortalecem nossas relações com o mundo.