Léo Benaci @leobenacifoto / @cultsppro
Por Flávia Fontes Oliveira
A coreógrafa, bailarina e diretora Ana Noronha, orientadora artística (Edição 2025/Programa Qualificação em Artes: Dança), do Instituto Jovens de Coração, grupo dirigido por Aline Carneiro, levou uma pergunta para o elenco em relação ao trabalho artístico que desenvolviam: quais eram suas memórias em relação às manifestações populares evocadas na coreografia. Dessa sugestão, surgiu uma linha que guiou o trabalho apresentado no encerramento da Mostra de Dança CULTSP PRO, Programa de Qualificação em Artes, no dia 30 de novembro.
Borogodó, coreografia de pouco mais de 35 minutos, e mais de trinta bailarinos em cena com mais de 45 anos, traz a combinação feliz entre o questionamento e a coreografia de Aline ao levar para a cena trechos interpretados de Maracatu, Maculelê, Moçambique, Coco, Boi Bumbá, Ciranda, Carimbó, Samba de Roda.
O Instituto Jovens de Coração – Arte e Longevidade com cerca de onze anos de experiência, tem no sapateado para adultos com mais de 45 anos, a vertente que guia sua atuação. Hoje, o espaço já acolhe outras formas de dança sempre voltadas a seus intérpretes e alunos.

Crédito: Léo Benaci @leobenacifoto
A coreografia usou essas memórias em registros de voz gravados de seus próprios integrantes que ligam cada uma das referências trazidas para cena: a cada trecho, o autor da fala entra no palco dublando a si mesmo. Apesar de ser uma resolução simples, poderia ser variada como recurso artístico, as falas dialogando com a música que também é parte da cena, feita ao vivo.
O início com o sapateado, todos de branco, e ainda com o uso dos ombros como parte da sequência, mostra a habilidade de Aline de conduzir grandes grupos com beleza nas formações. Acompanhando o músico em cena, o uso do sapateado encadeia uma sequência pulsante desde o início.
A coreografia respeita a idade, mas tem exigência artística e é isso que contagia quem assiste. Ela mobiliza a plateia. Desde o princípio, é um trabalho que pulsa, com enorme vontade e dedicação de quem está em cena.
Aline trabalha a musicalidade com seus alunos e isso transparece ao longo do espetáculo não apenas quando estão com os sapatos com placas, especiais para o sapateado, mas também quando um conjunto de mulheres dança com adereços nos calcanhares. As falas entre cada cena ajudam a mudar o ritmo, com um volume de dançarinos que entram e saem em conjuntos, trocam de figurinos e de objetos cênicos, criados também por integrantes do elenco.

Crédito: Léo Benaci @leobenacifoto
Sobre o assistido, há uma observação final, feita pela curadoria do PQD, que merece ser mencionada: Aline Carneiro é generosa em deixar seus bailarinos conduzirem a coreografia. Mas sentiríamos um gosto por querer vê-la explorando seus ritmos no palco por ser ela uma intérprete de grandes qualidades.
Por tudo isto, Aline Carneiro e Ana Noronha criaram mais uma relação de afeto e coragem dentro Programa Qualificação e Borogodó foi um final delicado e vibrante para a Mostra.

Crédito: Léo Benaci @leobenacifoto

Crédito: Ronny Santos
Flávia Fontes Oliveira. Jornalista e roteirista. É autora e roteirista do projeto Tempo de Dança (Origina Conteúdo, em cartaz no canal Arte1). Também colabora com o jornal Valor com matérias sobre dança. Trabalhou na Gazeta Mercantil, Revista Época (semanal), foi redatora-chefe na Editora Trip e coordenadora das áreas de Comunicação, Educativo e Memória na São Paulo Companhia de Dança. Já fez matérias sobre dança em diversos veículos como as revistas Bravo!, Fapesp, CartaCapital, TAM, Voe Gol, entre outras. É autora de artigos como Texturas da Memória (in: Sala de Ensaio, Imprensa Oficial| SPCD, 2010. Co-organizadora do livro Na dança (Imprensa Oficial, 2005). É mestre em comunicação pela PUC/SP, com dissertação sobre a dança em São Paulo. Como roteirista, em ficção, fez parte da equipe de roteiro da série Chuva Negra, de Rafael Primot. Participou da equipe de roteiro do programa Me deixa dançar (Moonshot Pictures – GNT); da temporada 2 e 3 do programa Menos é Demais (Discovery Home & Health).
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Como parte das estratégias da Mostra de Dança PQA CULTSP PRO (28 a 30 de novembro de 2025/ São José dos Campos/Casa de Cultura Cine Santana), esta resenha foi escrita para ampliar- mediante um profissional olhar crítico sobre as obras nela apresentadas – as ações do PQD, programa de formação profissional, inovação e sustentabilidade, criado pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – idg. O PQD tem Coordenação de Cássia Navas, Supervisão Artística de Samuel Kavalerski e Monitoria de Bia Fonseca. O CULTSP PRO tem Sérgio de Azevedo como Gerente Geral de Formação e Raquel Verdenacci como Diretora.
Esta publicação é uma parceria entre o CULTSP PRO e o Portal MUD, sendo as visões nelas expressas exclusivas de sua autora.
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