Estudantes do Núcleo Luz protestam contra fechamento do Programa após espetáculo no Teatro Sérgio Cardoso

Crédito das Fotos: Estudante do Núcleo Luz em protesto após espetáculo no Teatro Sérgio Cardoso.

Na noite de quinta-feira (7), após a apresentação de a coisa doeu no Teatro Sérgio Cardoso, estudantes do Núcleo Luz se reuniram para protestar contra o possível fechamento do programa. O evento, que fazia parte do ciclo de apresentações do Núcleo Luz, virou palco também de uma manifestação contra o corte anunciado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. Os protestos seguem um movimento mais amplo dentro da comunidade artística, que questiona a centralização das políticas culturais no estado e exige mais transparência da gestão pública.

O Núcleo Luz, criado em 2007 e gerido pela Poiesis, tem sido um importante ponto de formação artística e transformação social para jovens da periferia de São Paulo. Através de seu curso de formação em dança, o programa oferece, de forma gratuita, uma oportunidade para estudantes desenvolverem habilidades técnicas e artísticas que raramente são acessíveis em outros contextos. Além disso, o Núcleo Luz é reconhecido pelo seu papel na democratização do acesso à cultura.

Jovens do Núcleo Luz em protesto após espetáculo no Teatro Sérgio Cardoso.

Fechamento do Ciclo 1 e centralização nas mãos de uma única Instituição

Recentemente, rumores começaram a circular sobre o fechamento do Ciclo 1 do Núcleo Luz, que afetaria a formação de novos alunos e redirecionaria as turmas para a São Paulo Escola de Dança, gerida pela Pró-Dança. O motivo alegado pela Secretaria seria a “duplicação de verbas”, mas essa justificativa não convence a comunidade do Núcleo Luz, que teme que a centralização de recursos e a concentração de poder em uma única instituição enfraqueçam o caráter descentralizado e acessível do programa.

Em um manifesto intitulado “Não ao Fechamento do Núcleo Luz”, o movimento A Dança Se Move questiona as motivações por trás dessa decisão e exige explicações da secretária de Cultura e Economia Criativa, Marília Marton. Entre os pontos destacados estão a falta de diálogo com a comunidade, a ausência de consultas a alunos e ex-alunos, e a incoerência de extinguir um programa consolidado, em vez de ampliar sua atuação.

Emerson de Jesus, ex-aluno do Núcleo Luz, compartilha sua preocupação com o possível fechamento: “Nós que viemos da periferia já sofremos muito por sermos privados de muito conhecimento e oportunidades e cultura própria. Agora tirar algo que nos agregou algo na vida pessoal e profissional vai fazer falta na vida de muitos jovens sem perspectiva de futuro. Sem os ensinamentos desse lugar, isso vai descapacitar muitos profissionais em um futuro próximo, além dos empregos gerados e conexões entre pessoas de toda São Paulo que abrem portas e oportunidades para muitas pessoas.” .

A importância do Núcleo Luz e o impacto nas Comunidades Periféricas

O Núcleo Luz tem sido uma referência no cenário cultural de São Paulo, principalmente por sua capacidade de oferecer educação artística de qualidade para jovens de comunidades periféricas. Muitos ex-alunos do programa destacam a importância do Núcleo Luz em suas trajetórias pessoais e profissionais, e alertam para o risco de uma perda irreparável caso o projeto seja realmente fechado.

“O Núcleo Luz é uma das poucas oportunidades que temos de estudar dança de forma séria e gratuita. O fechamento do programa significaria a exclusão de centenas de jovens da periferia que, de outra forma, jamais teriam acesso a uma formação de qualidade”, afirmou um estudante do Núcleo, que preferiu não se identificar.

O Manifesto e as exigências do Movimento

O Movimento A Dança Se Move conclama a sociedade a se engajar na luta pela preservação do Núcleo Luz e pela ampliação das políticas públicas culturais em São Paulo, sem que haja a concentração de recursos em uma única instituição. Entre as exigências do manifesto, estão:

– A revogação do fechamento do Núcleo Luz e a garantia da continuidade do programa.

– A ampliação das vagas e a diversificação dos espaços de formação artística, sem a centralização na Pró-Dança.

– Maior transparência na gestão pública e mais diálogo com as comunidades artísticas, garantindo a pluralidade de vozes e oportunidades culturais em São Paulo.

Um espetáculo que vai além da dança

O espetáculo a coisa doeu, com direção de Chris Belluomini, apresentado no Teatro Sérgio Cardoso e que segue em cartaz no Núcleo Luz no final de novembro, é um exemplo do potencial artístico do programa, que segue sendo uma plataforma de experimentação e amadurecimento para os alunos. O trabalho, ainda em processo de criação, tem um elenco formado por aprendizes da 5ª turma do Ciclo II do curso de dança do Núcleo Luz e busca refletir sobre os desafios e as transformações vividas pelos jovens.

A ação de protesto pós-espetáculo reflete o sentimento de urgência e de luta pela preservação de um projeto que, para muitos, representa mais do que uma simples oportunidade de formação profissional – é um símbolo de resistência e de inclusão cultural.

O movimento A Dança Se Move conclui com a convocação para todos os interessados a se unirem à causa e a continuarem o debate sobre o futuro do Núcleo Luz e a valorização das políticas culturais descentralizadas em São Paulo.

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Errata e Esclarecimento da Frente Estudantil Núcleo Luz

Após a publicação da matéria sobre o ato realizado no Teatro Sérgio Cardoso, a Frente Estudantil Núcleo Luz entrou em contato com o Portal MUD para esclarecer alguns pontos que não foram corretamente representados:

1.    Ato Organizado pela Frente Estudantil
O primeiro ato contra as mudanças no Núcleo Luz foi organizado exclusivamente pela Frente Estudantil Núcleo Luz, composta por ex-aprendizes do programa.

2.    Mudanças no Núcleo Luz
O Núcleo Luz não será fechado, mas será desintegrado e sua gestão passará para a São Paulo Escola de Dança (SPED), gerida pela OS Pró-Dança, resultando na perda da identidade e da marca Núcleo Luz. Não se trata de um fechamento, mas do esvaziamento da proposta político-pedagógica original. A equipe será remanejada para as Fábricas de Cultura, e um novo projeto de dança será criado, sem qualquer relação com a proposta do Núcleo Luz. O Ciclo II atual não poderá se formar sob a mesma estrutura.

3.    Monopolização da Educação em Dança
A Frente Estudantil denuncia que essa mudança não é um “corte”, mas uma monopolização da educação em dança, com a concentração de recursos e poder nas mãos de uma única instituição.

A Frente Estudantil Núcleo Luz é resultado da própria pedagogia ensinada no projeto, com o princípio de que a dança deve ser feita pelo pensamento coletivo periférico.

Leia o Manifesto completo da Frente Estudantil Núcleo Luz aqui.

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