Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio / @cultsppro
Por Flávia Fontes Oliveira
Rastro, da Cia Jovem de Rio Preto, de São José do Rio Preto, abriu a Mostra de Dança CULTSP PRO – Programa de Qualificação em Artes, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, que aconteceu em São José dos Campos, em parceria com a Prefeitura da Cidade, por meio da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, entre os dias 28 e 30 de novembro, com a participação de nove grupos do Estado de São Paulo. Programa gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão, idg, a coordenação da área da dança sendo de Cássia Navas e contando com a supervisão artística de Samuel Kavalerski.
Concebido para aproximar artistas pela orientação de grupos, coletivos e companhias, em diferentes fases do desenvolvimento e de todas as vertentes da dança, do litoral, interior ou capital do Estado de São Paulo, a ideia do Programa une conhecimento prático e teórico, troca artística e possibilidade de fortalecimento das gestões e produções.
O trabalho de abertura, idealizado pela diretora e coreógrafa Thaís Benites, sinaliza o cuidado dessa aproximação entre artistas, que é a essência do programa: quem esteve lado a lado ao longo do ano com o jovem grupo na orientação artística foi a coreógrafa e intérprete Ló Guimarães, de Campinas.

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio
Rastro foi criado para ser dançado em espaços abertos ao público e aborda um tema ainda caro aos nossos tempos: o lugar e o espaço das mulheres, “um manifesto de resistência, amor e celebração da força e poder feminino”, como diz o texto sobre a obra no programa da Mostra. Em São José dos Campos, a apresentação aconteceu na Praça Afonso Pena, no centro, no dia 28, à tarde, com seis jovens intérpretes da companhia.

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio
O trabalho se inicia em uma espécie de cortejo, com as seis bailarinas vestidas de lilás, se deslocando pela praça: uma delas é carregada pelas outras. Essa posição é alterada: três outras bailarinas são suspensas nesse início até todas começarem uma movimentação em conjunto que passa, aos poucos, em uma sequência repetida, a procurar um contato direto com o público por meio do olhar e, depois, com algumas frases pontuais sobre a violência contra as mulheres. Nessa organização espacial, o tema sobre as mulheres e como deixar seu(s) rastro(s) começam a se revelar.
Em cena, a união com Ló Guimarães trouxe amadurecimento das possibilidades de interpretação, interação com o espaço e o público. Esses recursos foram visíveis, com diferentes intensidades, durante o trajeto, que se deslocou e levou o público com elas ao se aproximar de pontos estratégicos da grande praça: uma árvore, um poste, bancos, pontos de encontro e o centro circular do local.
Dançar em um espaço público exige concentração com as marcações coreográficas, atenção aos parceiros de cena e maleabilidade ao se deparar com diversos tipos de espectadores e as possíveis intervenções. As seis jovens bailarinas em cena percorreram seu trajeto sem se perder, dispostas a um diálogo com o entorno e, acima de tudo, entrelaçando e levando o público com elas. Ainda que esta experiência com o público possa ter interações mais duradouras ou menos formais, contemplaram a proposta de despertar questionamentos sobre o feminino, a sororidade e a liberdade.

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio
Dentro dessa proposta também foi possível ver a diversidade do roteiro elaborado combinando momentos de conjunto com coreografias marcadas, e outros mais livres. Talvez com o tempo de percurso, a unidade entre as intérpretes dê mais volume e força ao deslocamento.
Ao nomear a obra como site-specific, a direção toma como ponto de partida lugares abertos, não sendo aquela, portanto, restrita a um único espaço, a coreografia procurando se moldar ao local onde se dança. Como disse a diretora, a ideia é deixar rastros dessa passagem pelos locais. Um caminho como promessa de deixar marcas ainda mais instigantes.

Crédito: Léo Pinheiro @c41estudio

Crédito: Ronny Santos
Flávia Fontes Oliveira. Jornalista e roteirista. É autora e roteirista do projeto Tempo de Dança (Origina Conteúdo, em cartaz no canal Arte1). Também colabora com o jornal Valor com matérias sobre dança. Trabalhou na Gazeta Mercantil, Revista Época (semanal), foi redatora-chefe na Editora Trip e coordenadora das áreas de Comunicação, Educativo e Memória na São Paulo Companhia de Dança. Já fez matérias sobre dança em diversos veículos como as revistas Bravo!, Fapesp, CartaCapital, TAM, Voe Gol, entre outras. É autora de artigos como Texturas da Memória (in: Sala de Ensaio, Imprensa Oficial| SPCD, 2010. Co-organizadora do livro Na dança (Imprensa Oficial, 2005). É mestre em comunicação pela PUC/SP, com dissertação sobre a dança em São Paulo. Como roteirista, em ficção, fez parte da equipe de roteiro da série Chuva Negra, de Rafael Primot. Participou da equipe de roteiro do programa Me deixa dançar (Moonshot Pictures – GNT); da temporada 2 e 3 do programa Menos é Demais (Discovery Home & Health).
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Como parte das estratégias da Mostra de Dança PQA CULTSP PRO (28 a 30 de novembro de 2025/ São José dos Campos/Casa de Cultura Cine Santana), esta resenha foi escrita para ampliar- mediante um profissional olhar crítico sobre as obras nela apresentadas – as ações do PQD, programa de formação profissional, inovação e sustentabilidade, criado pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – idg. O PQD tem Coordenação de Cássia Navas, Supervisão Artística de Samuel Kavalerski e Monitoria de Bia Fonseca. O CULTSP PRO tem Sérgio de Azevedo como Gerente Geral de Formação e Raquel Verdenacci como Diretora.
Esta publicação é uma parceria entre o CULTSP PRO e o Portal MUD, sendo as visões nelas expressas exclusivas de sua autora.
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