Dançar para crianças

Crédito: Léo Benaci @leobenacifoto / @cultsppro

Por Flávia Fontes Oliveira

Ó1É Cia de Dança, de Valinhos, com direção de Marol Andrade, usou o livro O Pequeno Príncipe (1943/Antoine de Saint-Exupéry), como ponto de partida para a criação de In.visível, apresentado em São José dos Campos, durante a Mostra de Dança CULTSP PRO, Programa de Qualificação em Artes, no dia 30 de novembro, na Casa de Cultura Cine Santana.

Com orientação artística de Orlando Dantas, o trabalho voltado ao público infantil, embora não use a figura do “Pequeno Príncipe”, faz referências ao universo narrado por ele no livro. As cenas são divididas por entre a “rosa” e os planetas que o famoso personagem percorre: há na coreografia do grupo os vaidosos, o geógrafo, o rei, o acendedor de lampião, o homem de negócios. A ligação entre todas as cenas acontece por figuras de pássaros carregadas como pipas de papel.

Crédito: Léo Benaci @leobenacifoto

O espetáculo começa com a figura da “rosa”, em performance perto da plateia, que convida pessoas a desenharem e colarem seu desenho em seu figurino. Ela dança com o tronco e braços e fala com o público. Quando as luzes se apagam, os outros oito intérpretes aparecem pelos fundos do teatro carregando os pássaros – pipas de papel – e apitos, pelos quais soam sons de aves.

Sobem ao palco. Uma pequena coreografia indica uma nova configuração: as figuras acima citadas vão aparecendo uma a uma. A direção em parceria com o elenco optou por combinar dança e texto em cena, como outros grupos já fizeram com bastante sucesso, como a companhia paulista Balangandança em alguns trabalhos.

Crédito: Léo Benaci @leobenacifoto

Aqui se faz um destaque para o “acendedor de lampião”, com uma solução cênica intrincada, em que os bailarinos são ligados por fitas, dançam, se enrolam e desenrolam, enquanto a bailarina que faz o personagem diz seu texto de forma clara e angustiante. Outra leitura divertida do livro, com boa combinação de voz e corpo, é a do “geógrafo”, cujos desenhos em uma mesa que vira lousa, são sempre distantes do que fala. Por fim, o vaidoso, interpretado no espetáculo por um casal, pede uma interação com a plateia –  o que foi conseguido.  Nesses momentos, as vozes são ouvidas com clareza e trazem uma imaginação cênica de encanto para crianças, com uma leitura criativa e rica do livro, sem perder de vista a linguagem principal do grupo, a dança.

Há outros momentos, no entanto, em que as vozes foram encobertas pela música ou não tiveram a mesma força cênica, como nas do “contador de planetas” e da “raposa”, que diz a frase mais conhecida no livro – “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”-, que mal foi ouvida pela plateia.

A dramaturgia de In.visível é guiada pelo livro e, embora aparentemente seja possível mergulhar nas cenas, quem não conhece a história de “O Pequeno Príncipe”, pode não decifrar a ideia dos personagens.

O caminho percorrido neste novo trabalho do grupo – que já participou de outras edções” –  no Programa Qualificação em Artes mostra mais um processo de criação nascido dentro dessa troca, entre orientação e artistas, de soluções cênicas imaginativas para seu público, que pode se refinar e ganhar palcos do Estado, como já aconteceu com outras de suas obras orientadas.

Crédito: Léo Benaci @leobenacifoto

 

Crédito: Ronny Santos

Flávia Fontes Oliveira. Jornalista e roteirista. É autora e roteirista do projeto Tempo de Dança (Origina Conteúdo, em cartaz no canal Arte1). Também colabora com o jornal Valor com matérias sobre dança. Trabalhou na Gazeta Mercantil, Revista Época (semanal), foi redatora-chefe na Editora Trip e coordenadora das áreas de Comunicação, Educativo e Memória na São Paulo Companhia de Dança. Já fez matérias sobre dança em diversos veículos como as revistas Bravo!, Fapesp, CartaCapital, TAM, Voe Gol, entre outras. É autora de artigos como Texturas da Memória (in: Sala de Ensaio, Imprensa Oficial| SPCD, 2010. Co-organizadora do livro Na dança (Imprensa Oficial, 2005). É mestre em comunicação pela PUC/SP, com dissertação sobre a dança em São Paulo. Como roteirista, em ficção, fez parte da equipe de roteiro da série Chuva Negra, de Rafael Primot. Participou da equipe de roteiro do programa Me deixa dançar (Moonshot Pictures – GNT); da temporada 2 e 3 do programa Menos é Demais (Discovery Home & Health).

*

Como parte das estratégias da Mostra de Dança PQA CULTSP PRO (28 a 30 de novembro de 2025/ São José dos Campos/Casa de Cultura Cine Santana), esta resenha foi escrita para ampliar- mediante um profissional olhar crítico sobre as obras nela apresentadas – as ações do PQD, programa de formação profissional, inovação e sustentabilidade, criado pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão – idg. O PQD tem Coordenação de Cássia Navas, Supervisão Artística de Samuel Kavalerski e Monitoria de Bia Fonseca. O CULTSP PRO tem Sérgio de Azevedo como Gerente Geral de Formação e Raquel Verdenacci como Diretora.

Esta publicação é uma parceria entre o CULTSP PRO e o Portal MUD, sendo as visões nelas expressas exclusivas de sua autora.

Programa de Qualificação em Dança

Programa de Qualificação em Dança

Ver Perfil

Concebido para aproximar artistas, mediante a orientação de grupos, companhias e coletivos de todas as formas da dança no estado, o PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO EM DANÇA alarga seus contornos ao investir diretamente em territórios estruturados e/ou em estruturação da arte, cultura, indústria e economia criativas. Para isto, ambém estabelece especiais circuitos de circulação e validação da dança atual, também em mostras regionais e estaduais.