Na interseção entre a expressão performática e o teatro contemporâneo, Vova Bocharov emerge como um talentoso pedagogo e performer, cujo impacto reverbera nos palcos e nas salas de aula. Graduado pela GITIS em 2014, sob a tutela inspiradora de Vladimir Mirzoev, Bocharov tece sua narrativa artística colaborando com prestigiados teatros de ópera e drama.
Sua influência pedagógica transcende barreiras, encontrando um lar na British Higher School of Design, onde leciona no programa “Cenografia”, inspirando uma nova geração de talentos a explorar as fronteiras da criação cênica. Paralelamente, ele dedica-se ativamente a projetos independentes, amalgamando curadoria e pesquisa na convergência da performance e do teatro contemporâneo.
O palco de suas realizações é vasto e diversificado, com colaborações notáveis com instituições proeminentes como Platforma, Novo Espaço do Teatro Natsii, e o grupo de teatro Barabán. Sua presença artística estende-se por locais tão diversos quanto o Centro Meyerhold, o Centro Cultural ZIL e a casa de cultura de Peredélkino.
Os feitos mais recentes de Bocharov ilustram sua versatilidade e maestria. Desde a cativante performance vocal e corporal “Noite de Maio” na Galeria Solyanka, em Moscou, até a encenação da ópera “La Traviata” no Teatro de Ópera e Balé de Ulan-Ude, cada empreendimento é um testemunho da sua habilidade única de fundir tradição e inovação.
No âmbito curatorial, destaca-se na liderança do laboratório de jovens diretores de ópera Baikal Opera Lab, demonstrando um comprometimento inabalável com o desenvolvimento artístico emergente. Seu legado artístico é cimentado pela encenação da ópera “Ópera Francis” com música de Sergei Nevsky, uma produção reconhecida com um prêmio especial do júri no prestigiado prêmio Máscara de Ouro, no Teatro Bolshoi, em Moscou. Confira nesse bate-papo uma imersão que atravessa os bastidores de sua carreira e o desdobramento de um artista cujo impacto transcende os limites do convencional, moldando o futuro vibrante das artes cênicas.
Como você descreveria o seu estilo de dança e performance e como ele evoluiu ao longo de sua carreira?
Vova Bocharov: Na verdade, não me associo muito à dança contemporânea. Estou mais inclinado a descrever meu campo como “teoria e prática da performance “. Tenho formação em direção teatral clássica. Eu me formei na Universidade Russa de Artes Teatrais (GITIS), onde aprendi a trabalhar com formas tradicionais de teatro: drama e ópera. Depois disso, percebi que estava muito mais interessado num teatro que é capaz de se reinventar e redefinir seus limites. Foi assim que cheguei à performance. É um conceito amplo. É mais amplo do que o teatro. Tem uma forte influência das ciências sociais: psicologia, antropologia, sociologia… Por que as pessoas fazem teatro? Que condições sociais, políticas, culturais e biológicas criam o espaço no qual as pessoas começam a praticar a performance?
Quais são as principais influências e inspirações por trás de sua abordagem à dança e à performance?
Vova Bocharov: Minha abordagem se baseia em alguns princípios fundamentais: apagar limites entre linguagens, comunicar e improvisar. Em minhas aulas, gosto de enfatizar a superação dos limites entre teoria e prática, cabeça e corpo, objeto e instrumento. Em outras palavras, gosto de estar próximo da ideia de um conhecimento holístico que se baseia no ser humano como um todo e, de forma mais ampla, no ambiente ao seu redor. A improvisação e a comunicação dão continuidade a essa ideia de uma pessoa engajada, ativa e lúdica. A performance é sempre um experimento no qual, primeiro, designamos parâmetros e em seguida, partimos em jornada. Nunca se sabe o que surgirá no final. Seja uma lamentação solo de cinco horas sobre roupas de brechós, um jogo de cartas para quatro artistas sobre sexualidade ou um webzine de autoficção sobre a guerra, o turismo e a masculinidade.
Como você vê a relação entre a dança contemporânea e as formas de dança tradicionais, como o samba no Brasil e o balé clássico na Rússia?
Vova Bocharov: Não tenho nenhuma relação com o balé clássico russo. De forma alguma. É uma estrutura colonial, autoritária e rígida que permanece fechada para mim. Mas a tradição, em geral, é uma coisa muito interessante. É curioso olhar para a história e imaginar como o teatro tem se desenvolvido e que papel ele tem desempenhado em diferentes situações culturais. Por exemplo, o balé clássico nasceu um ambiente cultural muito específico e atendia às necessidades de uma determinada classe social. Pergunto-me se isso afeta a maneira como percebemos o balé clássico hoje.
Como a tecnologia e as novas mídias afetaram o seu trabalho na dança e na performance?
Vova Bocharov: Eu muito raramente crio algo com base nas assim chamadas “novas mídias”. Preocupo-me principalmente com histórias, imagens, sentimentos e só em segundo lugar penso em tecnologia e mídia. Para ser sincero, sou um pouco tecnófobo. É por isso que meus métodos de trabalho com a mídia são sempre um pouco lúdicos, absurdos. Talvez seja assim que, por meio do jogo, da brincadeira, eu tente superar meu medo da tecnologia. Mas estou bem ciente de que o campo da tecnologia ocupa um lugar importante nas teorias e práticas da performance, pois tem um impacto significativo nas formas e no conteúdo da comunicação.
Qual é a importância de levar a dança contemporânea para o público em geral e como você acha que isso pode ser alcançado
Vova Bocharov: Acho que, em breve, as práticas de dança contemporânea ocuparão cada vez mais espaço na cultura. Não se trata do campo profissional, mas mais do campo amador e pedagógico. Atualmente, há uma necessidade cada vez maior de técnicas somáticas, pois está nítido que o corpo desempenha um papel em nossas atividades mentais, emocionais e cognitivas. Talvez em breve todos nós tenhamos que nos tornar dançarinos e artistas.