Crédito das Fotos: Mlle de Lafontaine. Oxford Referência.
Atualmente, quando se fala em dança, principalmente em ballet clássico, logo vem a imagem de um corpo feminino dançando, embora esse processo da mulher como artista da dança tenha sido um pouco demorado para acontecer. Bom, para falar um pouco mais da dança e como se deu a construção com a relação entre as mulheres, precisamos voltar um pouco no tempo.
A dança sempre esteve presente entre as pessoas e civilizações as mais antigas. Dançava-se para celebrar cerimônias de características religiosas; para festejar mudanças de estações e colheitas; para se preparar para guerra, ou seja, a dança era um momento onde as pessoas se uniam em torno de algo que tinha importância. Era praticada principalmente por homens, a presenças das mulheres aconteciam em algumas celebrações e também variava de civilização para civilização.
Com o passar dos séculos a dança se tornou mais artística do que comemorativa e passou a adentrar os grandes palácios e os palcos do teatro na época Renascentista Europeia. A partir de então, podemos atentar para entender um pouco mais como a dança se apresentava nessa sociedade e sua relação com a figurina feminina.
No século XVII na França o ballet está se consolidando como técnica e arte aparecendo nos palcos dos teatros, entre os atos das grandes óperas. Porém, ainda o ballet era só apresentado por homens, mesmo tendo personagens femininas, os homens se vestiam de mulheres para representá-las. Até então a participação das mulheres restringia-se normalmente aos bailes sociais, aos ballets da rainha, nos ballets do rei e espetáculos da corte.
Nesses espetáculos da corte uma mulher se destacava com sua dança, era Mademoiselle De Lafontaine, também conhecida como La Fontaine, (1655-1738). Ela foi uma bailarina francesa e é considerada a primeira dançarina profissional de ballet, conhecida por compor vários de seus próprios passos. Aos vinte e seis anos, descrita como muito bonita e muito nobre, conquistou seu lugar na Academia Real de Música, substituindo as damas da corte. Mesmo atrapalhada pelos trajes longos e pela limitada técnica de ballet da época, a graça e o encanto de La Fontaine eram tais que ela passou então a ser chamada de “Rainha da Dança”.
De Lafontaine passou a ser a bailarina líder em, pelo menos, dezoito outras produções na Ópera de Paris entre 1681 e 1693, incluindo Persée, Amadis, Didon e Le Temple de la Paix. Nesse momento, com a presença De Lafontaine, houve o processo de separação a dança social (praticada por amadores da corte), para a consolidação do ballet em uma dança profissional que eram apresentados nos palcos.
Com isso, a figura feminina no ballet clássico começou a ganhar destaque e revolucionou a construção do mesmo que conhecemos hoje em dia. Pode-se dizer, que De Lafontaine inciou a construção da liberdade da mulher na dança, se consagrando como bailarina profissional e ocupando espaços atá então considerados hostis para as mulheres da época. E trouxe consigo outras bailarinas para dançarem nos palcos.
A partir de então, durante os séculos que se seguiram, as mulheres se destacaram como bailarinas profissionais, professoras e coreógrafas marcando suas respectivas gerações. Entre elas: Marie Taglionni(1804-1885), Carlota Grisi(1819-1899), Ana Pavlova(1881-1931), Isadora Duncan(1877-1927), Martha Graham(1894-1991), Pina Baush(1940-2009), entre outras.
A mulher e a dança hoje caminham juntas e colaboram cada vez mais para o surgimento de figuras femininas ativas e representativas nessa arte. Mas, isso só foi possível porque no século XVII, uma mulher que se via também em seu direito de dançar em público no teatro teve a força, determinação e vontade de fazer sua dança e romper com os paradigmas impostos em sua época, se libertando e mostrando sua dança e arte potentes em uma figura feminina.
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