Balé da Cidade de São Paulo: o caminho da dança contemporânea e inovação sob nova direção
Antes de assumir a direção do Balé da Cidade de São Paulo (BCSP), Alejandro Ahmed compartilhou sua jornada coreografando para a companhia. Nesta entrevista, ele nos leva aos bastidores de sua experiência trabalhando com talentosos bailarinos em suas criações.
Ele discute sua primeira incursão em 2000 e 2005, explicando por que ele recusou a oferta na época. Finalmente, em 2022, ele aceitou o desafio, trazendo sua visão única para o BCSP. Alejandro também compartilha suas principais metas para o Balé da Cidade de São Paulo, destacando a importância da dança como uma perspectiva e um campo aberto para a participação e envolvimento de todos.
O bate-papo mergulha na visão de Alejandro sobre a dança contemporânea como uma tecnologia de comportamento e a importância da coerência em todos os elementos artísticos. Ele também presta homenagem à rica história do BCSP enquanto busca inovar e adaptar-se aos tempos atuais.
Antes de assumir a direção do Balé da Cidade de São Paulo, você coreografou para a companhia. Como foi sua experiência trabalhando com os bailarinos em suas criações?
Alejandro Ahmed: Eu já havia sido convidado para coreografar a Cia. em 2000, sob a direção de Ivonice Satie, e em 2005, com Monica Mion no comando. Nessas duas ocasiões, eu tinha 28 e 33 anos, respectivamente. No entanto, recusei os convites porque achei que não teria as ferramentas e o tempo necessários devido à agenda do Cena 11 para fazer um trabalho à altura do meu comprometimento artístico. Em 2022, fui convidado por Cassi Abranches e aceitei a oportunidade de coreografar o BCSP junto com a OSM. Tive a liberdade de escolher a composição a ser executada pela orquestra e optei por "68" de John Cage. Essa escolha imediatamente lançou um desafio coreográfico. A composição de Cage propõe uma regência por cronômetro, com autonomia de entrada e saída dos músicos na partitura, usando um sistema chamado de "time bracket" criado por ele. Em consonância com a lógica da música, a coreografia busca uma harmonia anárquica, com o objetivo de ser um uníssono indeterminado. Isso apresentou dois grandes desafios técnicos para os bailarinos: uma coreografia coletiva de autogestão e a abordagem do movimento fora do controle coreográfico convencional, propondo uma modulação músculo-esquelética emocional da gravidade. Um trabalho no qual o Cena 11 tem se aprofundado ao longo de muitos anos. Na primeira semana, enfrentamos grandes dificuldades, mas houve uma adesão significativa. Com dedicação rigorosa e a ajuda da bailarina Aline Blasius, do Cena 11, conseguimos incorporar os parâmetros necessários.
Quais são suas principais metas e visões para o Balé da Cidade de São Paulo? Como planeja conduzir a companhia em direção a essas metas durante sua gestão como diretor artístico?
Alejandro Ahmed: Minha principal meta é enxergar a dança como perspectiva. Vejo a dança como um ponto de fuga para ampliar conexões e pensamentos. Para isso, é essencial que o BCSP não seja considerado um modelo a ser seguido, mas um campo que estimule o desejo de participação e envolvimento na dança como área de conhecimento. Isso significa que o elenco precisa estar tecnicamente preparado para ser a voz ativa das propostas artísticas. Nesse contexto, a realização de residências artísticas, workshops e períodos mais extensos de imersão na criação e implementação técnica também são objetivos correlatos.
Como você vê o papel da dança contemporânea no contexto da cultura e da sociedade atual? Quais elementos e tendências da dança contemporânea pretende incorporar ou destacar nas produções do Balé da Cidade?
Alejandro Ahmed: A contemporaneidade, para mim, é uma corresponsabilidade com a realidade e o contexto em que vivemos. Isso envolve a adaptação e reorganização das realidades que os tempos atuais nos impõem em formatos éticos e estéticos. Proponho a dança como uma tecnologia de comportamento e, portanto, todos os trabalhos devem ser pensados como ecossistemas. Isso significa que cada elemento, desde o figurino até o pensamento, precisa seguir uma sintaxe de coerência. Além disso, é fundamental considerar a coerência na relação entre a superfície e a profundidade dos materiais.
O Balé da Cidade de São Paulo possui uma história rica e diversificada. Como planeja homenagear essa herança ao mesmo tempo em que busca inovação e novas perspectivas para a companhia?
Alejandro Ahmed: Respeitar a história nas atualizações necessárias e cumprir as responsabilidades inerentes a uma companhia pública de uma das maiores cidades do mundo, brasileira e latino-americana.
A colaboração desempenha um papel fundamental no mundo da dança. Tem planos para parcerias ou colaborações futuras com outros grupos artísticos ou coreógrafos?
Alejandro Ahmed: O BCSP é um local de constante colaboração. Cada produção já é uma imersão em um mundo de conhecimento. Um dos objetivos também é criar colaborações com outras companhias e trazer workshops de outros coreógrafos antes mesmo de eles virem coreografar a Companhia.
Atualmente, você também está à frente do Grupo Cena 11. Quais são os desafios de conciliar o trabalho com as duas companhias?
Alejandro Ahmed: Esse é um grande desafio, e talvez o mais emblemático. A experiência de 30 anos à frente do Cena 11 foi o que trouxe ao BCSP. Parece ser uma oportunidade de pensar as relações entre ações independentes e ações públicas. Embora tenham velocidades diferentes, quando podem ser integradas, criam forças muito mais poderosas. Por exemplo, integrar a pesquisa de Inteligência Artificial e sistemas físico-digitais do Cena 11 ao BCSP como ferramentas artísticas e interdisciplinares aproxima o público e amplia o acesso técnico e artístico. É fundamental considerar a união das companhias públicas do Brasil com as produções independentes, pois essa rede pode gerar fluxos e atualizações que ampliam o alcance da dança brasileira.
Jornalista, bailarina e professora
Jornalista, bailarina e professora