Explorando a Dança e a Visão Artística com o Diretor do Balé do Teatro Guaíra
No palco da expressão humana, a dança é uma linguagem que transcende fronteiras, culturas e línguas. Como uma forma de arte única e poderosa, ela tem o dom de tocar nossas almas, desafiar nossas percepções e unir corações em um movimento harmonioso. E, no coração dessa expressão artística, está o Balé do Teatro Guaíra (BTG).
Fundado em 1969, ostenta o título de ser a terceira companhia pública de dança mais antiga do Brasil. Ao longo de mais de 50 anos de existência, o BTG produziu cerca de 150 coreografias, realizou apresentações em 200 cidades, abrangendo 17 estados do Brasil e se estendendo a 5 países, alcançando um público impressionante, que ultrapassa 1 milhão de pessoas. A história da companhia é repleta de notáveis êxitos de público e aclamação crítica, incluindo espetáculos memoráveis como "O Grande Circo Místico," "Lendas do Iguaçu," "O Segundo Sopro," "O Lago dos Cisnes," e "Lendas Brasileiras."
Neste bate-papo, Luiz Bongiovanni, diretor da companhia, compartilha seu desejo específico de tornar o BTG mais conhecido do público paranaense e brasileiro, um compromisso em apresentar a dança como uma forma de arte acessível a todos. Além disso, ele fala sobre sua perspectiva da arte como uma ferramenta que melhora a vida, estimula reflexões profundas sobre a existência e fornece uma conexão com as emoções humanas. Ele discute a importância de envolver o público e tornar a dança acessível, abordando desafios contemporâneos.
Prepare-se para mergulhar na arte da dança, na visão inspiradora de Luiz Bongiovanni e na jornada do Balé do Teatro Guaíra para moldar o cenário da dança no Brasil e no mundo.
Qual é a sua visão e missão como diretor do Balé do Teatro Guaíra em relação a promoção da dança e da arte?
Luiz Fernando Bongiovanni: Eu acho que tenho um desejo específico, que foi previamente alinhado com a direção da casa, que é tornar o BTG mais conhecido do público, tanto paranaense quanto brasileiro. Para isso estamos fazendo um trabalho de construção de repertório, de número de produções e de apresentações a cada ano. Acreditamos que uma cia pública tem um compromisso: apresentar a dança como forma artística para o público geral e fidelizar o seu público.
Como a dança pode enriquecer a vida do público e por que é importante trazê-la para o público em geral?
Luiz Fernando Bongiovanni: Minha formação acadêmica é em Filosofia, fiz a graduação na Universidade de São Paulo. Apesar de toda controvérsia que minha afirmação pode encerrar, de certa forma eu acredito que a arte pode ter uma função semelhante à filosofia, que é oferecer algo para que possamos elaborar sobre a vida. Em última instância a arte serve para melhorar a vida. Através da arte fazemos isso de um modo distinto da filosofia. A arte possibilita vivências que transformam, vivências que podem ser gatilhos para reflexões ricas sobre a existência, seus problemas, dilemas, sua tensões e tristezas e também sobre suas belezas, encantamentos, euforias, etc.
Cada vez mais eu acho importante que se faça algum tipo de mediação com o público, pode ser um texto no programa, breves palavras com a plateia, ou mesmo uma palestra ou bate papo. Algumas pessoas acham isso didático demais, mas sinto que é preciso aprender a “ler” dança de alguma forma. Perdemos muito público nos últimos anos, há uma concorrência feroz pela atenção dos sujeitos… Existe uma série de teorias do porquê isso aconteceu. Provavelmente são muitas razões, mas entre elas está uma sensação em grande parte do público de não se sentir envolvido, movido, instigado ou interessado no que viu na cena. Quer dizer: ficou de fora! Ou isso muda ou seguiremos esvaziando os teatros
Como a dança pode ser uma forma de expressão cultural e artística que transcende barreiras culturais e linguísticas?
Luiz Fernando Bongiovanni: Eu tive a oportunidade de dançar em uma companhia na Europa, chamada Cullberg Balé, da Suécia. Com ela eu viajei muito: Europa, Ásia, Américas, Oceania. Eu constatei que o repertório que tive a oportunidade de dançar, do coreógrafo Mats Ek, era celebrado no mundo todo. Isso me fez pensar muito na constituição do sujeito como algo que encontra denominadores comuns. Mats falava em arquétipos. Minha impressão é que isso se relaciona com o conceito de particular e universal de Aristoteles. Não gostaria que este texto ficasse muito cabeçudo… rsrsrs, mas quando há algo que é essencialmente humano em jogo, geralmente teremos algo que transcende barreiras culturais e pode ser comunicado sem a mediação cognitiva.
O Balé do Teatro Guaíra tem um histórico de colaboração com outros artistas e grupos. Como isso enriquece a oferta artística e a experiência do público?
Luiz Fernando Bongiovanni: Eu acredito que esse histórico está mais relacionado aos coreógrafos convidados. É importante para a companhia ter diferentes perspectivas de criação e produção. Isso possibilita que o público tenha contato com vários pontos de vista, várias perspectivas, o que torna o repertório mais plural e interessante e certamente enriquece a experiência da platéia.
Qual é a importância da formação de novas gerações de dançarinos e do público que aprecia a dança?
Luiz Fernando Bongiovanni: É uma questão de sobrevivência. São os dois lados do sistema, de um lado quem produz e do outro, para quem se produz. Diferentes gerações tem diferentes questões e interesses. Cada tempo tem seus assuntos mais a flor da pele… É preciso manter isso vivo para que tenhamos um perfil que dialogue com o público. Quando uma produção não encontra ressonância no público, esse divórcio vai gerando um afastamento e o grupo corre o risco de se tornar obsoleto.
Quais são os desafios que o Balé do Teatro Guaíra enfrenta no cenário atual da dança e como você os enfrenta?
Luiz Fernando Bongiovanni: Temos desafios de diferentes ordens. Tornar-se relevante para que o público queira ver a companhia em cena em todas temporadas; através dessa relevância conseguir viabilizar projetos de produção e circulação pelo Paraná e pelo país; buscar melhorar as condições de trabalho e aprimorar os processos internos de treino e produção… são muitos desafios que buscamos enfrentar diariamente.
Acho que o maior desafio é continuar produzindo algo analógico em um mundo que vai ficando cada vez mais digital. Será que a geração que mergulha nas redes sociais vai encontrar eco nas questões que propomos na cena? São perguntas que nos fazemos constantemente.
O que podemos esperar do Balé do Teatro Guaíra no futuro em termos de projetos e iniciativas que envolvem o público?
Luiz Fernando Bongiovanni: Sinto que a companhia está em um ótimo momento. Temos uma excelente sinergia entre os entes do governo e isso é fundamental para seguirmos produzindo com qualidade e quantidade. Em 2022, tivemos 6 temporadas, em 2023, foram 8 e em 2024 serão 8 novamente. Do início da nossa gestão até agora fizemos 3 remontagens, 8 novos balés, 5 programas com a orquestra sinfônica do Paraná, circulação no estado e fora dele. Recuperamos o público, a casa que é enorme - 2200 lugares - tem tido várias sessões esgotadas ao longo do ano. Acredito que seguir com o que temos construído é nosso maior objetivo. Teremos novas produções, parcerias com a orquestra, circulações estaduais, nacionalidade e quem sabe apresentações fora do país. Acho que a palavra fundamental para 2024 é: consolidar.
Sobre Luiz Fernando Bongiovanni
Com uma carreira de mais de 20 anos na dança, Luiz Fernando Bongiovanni é um renomado bailarino que atuou em várias companhias europeias e brasileiras,
incluindo o Cullberg Ballet e o Ballet da Ópera de Gotemburgo na Suécia, o Scapino Ballet em Roterdã, Holanda, e o Ballet da Ópera de Zurique, Suíça. Antes de sua jornada europeia, ele já havia deixado sua marca no cenário da dança no Brasil, notadamente no Balé da Cidade de São Paulo. Durante sua trajetória como bailarino trabalhou com coreógrafos de renome, como Mats Ek, William Forsythe, Jiri Kylian, Ohad Naharin, Nacho Duato, Oscar Araiz, Luis Arrieta, Jacopo Godani, Didi Weldman, entre outros. Ele também se envolveu em projetos culturais, oficinas e coreografias para diversas companhias nacionais e internacionais.
Luiz Fernando é diretor e coreógrafo do Núcleo de Pesquisas Mercearia de Ideias, um grupo dedicado à investigação em dança e artes cênicas. Ele ocupou cargos importantes na gestão pública, incluindo Mestre de Balé e Diretor Assistente no Balé da Cidade de São Paulo, e Coordenador Artístico da Escola de Dança do Theatro Municipal de São Paulo. Em 2021, assumiu a direção do Balé Teatro Guaíra, onde continua a contribuir significativamente para o cenário da dança.
Jornalista, bailarina e professora
Jornalista, bailarina e professora