MUSEU DA DANÇA

A comPaixão de Marc Chagall em corpos suspensos

Imagem: A comPaixão de Marc Chagall em corpos suspensos | Segunda, 30 de Janeiro de 2023 | por Nailanita Prette |

O ano de 2022 no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de Belo Horizonte - MG terminou de maneira afetuosa, apaixonante, romântica e repleta de compaixão. Desde o dia 12 de outubro de 2022 até a data de 16 de janeiro de 2023 a capital mineira pôde-se deliciar com a exposição do pintor russo, um dos grandes nomes da arte moderna, Marc Chagall (1887-1985). Com obras que marcaram o século XX e reverberam as mais variadas sensações em nós, pessoas viventes do novo milênio.

Em 1922 Chagall muda-se para Paris (França), cidade que o apaixonou e foi palco de suas diversas declarações de amor, o que pode ser constatado em suas obras, sendo esse sentimento elencado no título da exposição “Marc Chagall: Sonho de Amor”. O amor de Chagall vem embalado em diversas questões e dimensões políticas e sociais, a exposição, parafraseando um ditado popular “caiu como uma luva”, em tempos de fake news e ataques bárbaros à democracia brasileira. Nesse emaranhado de fantasia, paixão, amor e compaixão surge o corpo. Nas obras de Chagall o corpo tem destaque em inúmeras obras, mas para presentificar sua arte no corpo em movimento a Companhia Suspensa apresenta “Uma dança para Chagall”, performance inspirada nesse artista tão humano.

A Companhia Suspensa[1], com sede em Nova Lima, cidade localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, fundada em 1999. Com interesse nas relações entre a dança e o circo, sendo uma Cia. de dança reconhecida pelos seus pares no circuito mineiro, com participação em inúmeros eventos nacionais e internacionais.  A Companhia conta com três artistas: Lourenço Martins Marques, Patrícia Manata e Roberta Manata.

“Uma Dança para Chagall” foi apresentada nos dias 3, 4 e 8 de dezembro de 2022, mas sua estréia ocorreu em 2008, também em Belo Horizonte, no espaço cultural CentoeQuatro[2]. Em dezembro de 2022, quatorze anos depois da primeira apresentação, a obra coreográfica é presentificada junto com a exposição do artista que foi a inspiração para sua dramaturgia.

Uma das marcas de Chagall está na ilustração de fábulas, o universo da fantasia. Nos figurinos de “Uma Dança para Chagall” os elementos de mundos fantásticos ganham movimento, as mulheres de vestidos até os joelhos, com muitos forros que ao saltar, torcer e o girar do corpo ganhavam volume. Uma das dançarinas performou com uma cabeça animalesca que pareceu sair de uma das ilustrações de Les Fables de La Fontaine[3]. Os três dançarinos iniciam a obra coreográfica no pátio do CCBB BH e percorrem os três andares do prédio até chegarem ao hall da exposição.

Alguns objetos cênicos compõem “Uma dança para Chagall” como bancos e um colchão que os artistas utilizam. Além dos movimentos que enchem os olhos com os objetos cênicos, vale ressaltar que a conexão dança e circo é explorada pelos artistas o qual reverbera em movimentações exigentes, no sentido de solicitar do corpo treinamento e condicionamento específico a aquela proposta. Todavia o que fica é a compaixão daqueles corpos.

Três pessoas em cena, que se relacionam com objetos e entre si, um dança a partir do outro. Em uma das cenas a dançarina se projeta para cima do colchão que está na vertical em relação ao chão, mas a ação só é possível porque os outros dois dançarinos estão atrás segurando o objeto. Quando o dançarino anda sobre os bancos essa ligação só se torna real porque uma das dançarinas move os bancos. A dançarina com a cabeça animalesca que abre os caminhos para seus companheiros de cena. Uma dança de três que se torna unívoca. A compaixão de Chagall se presentifica naqueles três corpos, em uma obra que a princípio nos mostra a alegria e paixão de corpos tão abertos que fazem bancos e colchão dançarem, mas “Uma dança para Chagall”  nos fala da vida em sociedade, que é impossível vivermos só, sem a compaixão do outro e sem sermos compassivos. Precisamos um do outro para podermos performar a nossa história em sociedade com compaixão, paixão, amor e acima de tudo respeito.


*Este texto é de responsabilidade da autora e não reflete necessariamente a opinião do Portal MUD.


[1] Disponível em: Acesso em 16/12/2022.

[2]Disponível em:

Acesso em 12/12/2022.

[3] Fábulas de La Fontaine. Marc Chagall foi o ilustrador de "Les Fables de La Fontaine", edição de 1952, mas a editora brasileira Estação Liberdade (2004) disponibiliza uma versão que contém os quarenta e dois guaches que Chagall pintou.

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Nailanita Prette

Mestre em Artes da Cena



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