Crédito das Fotos: Waldete Brito. Foto Manoel Pantoja
A coreógrafa Waldete Brito fala sobre sua trajetória de 25 anos à frente da Cia
. Experimental de Dança
Neste texto me distancio um pouco do meu diálogo principal, o audiovisual e a dança, para falar sobre o trabalho da coreógrafa paraense Waldete Brito. Há 25 anos, a artista pilota a sua Cia
Tive dois contatos recentes com a coreógrafa em seus espaços cênicos
No XI ECD participei das atividades na sede da Cia
O Encontro tem como característica ser independente, e é realizado para que as cias
No Oryba, por exemplo, Waldete organiza residências e imersões de criação em dança. “Em 2022, pela primeira vez em 11 anos, recebemos um artista internacional para conduzir a imersão. João Paulo, ministrou aula de dança durante três dias, explorando o ambiente natural, entrando e saindo do rio de água doce, fazendo trilhas, subindo nos açaizeiros, ou seja, buscando outros contatos entre corpo-arte e floresta”. O acesso ao Oryba é feito por meio de barquinhos que nós, da Amazônia
Para as residências, o ideal é chegar ao local e se hospedar lá mesmo, Oryba é um espaço amplo, onde é possível pousar nos chalés criados por Waldete e seu irmão Walter, se banhar no rio, lavar a louça com a com a água recolhida da chuva, esta que cai todos os dias no ecossistema de clima Equatorial amazônico, de forma mais ou menos caudalosa. A alimentação também pode ser combinada e regada a peixes de rio, caranguejos e açaís frescos que a própria região das ilhas pode proporcionar, e segundo ela o nascer do sol é um espetáculo esplêndido que vale a pena madrugar para apreciar. O Espaço também desenvolve projetos de dança e música para as crianças e adolescentes, moradores ribeirinhos daquela região, um novo passo que certamente celebra 25 anos de (fôlego) resistência do fazer dança na Amazônia paraense.
Pedi que me explicasse um pouco mais sobre essa experiência recente de coordenar um espaço cênico do outro lado rio. “Nas duas últimas edições do ECD, inserimos na programação a residência artística na Ilha foi um desafio conviver com 11 artistas, com distintas formações durante quatro dias imersos lá. Descobrindo o ato criativo em contato com o rio, mangue, árvores, sol, chuva, vento e o ritmo da maré, marcando a velocidade do tempo”, descreve Wal
Em 2021, a residência teve como resultado a produção do espetáculo “Encantados” dirigido pela artista Ana Mundim, da Universidade Federal do Ceará, e gerou um documentário sobre os processos de aula e criação, o qual foi editado por Michel Schettert. Acesso aqui: https://youtu.be/WIYAYp7XYak
Para caber a conversa longa que tivemos em ocasiões diferentes, organizo aqui seus depoimentos, afinal, além do Oryba, há a trajetória que a fez chegar hoje nesse espaço cênico no meio da floresta.
Waldete Brito. Crédito: Manoel Pantoja. Espetáculo só um solo
VH – Além das residências
WB – A vontade de termos um espaço para arte e cultura na Ilha do Combu, surgiu no meio da pandemia mais, especificamente, em 2021, quando aprovamos o projeto Dança Floresta na Lei Aldir Blanc. Então, atravessamos para o outro lado da cidade de Belém, para a ilha, no meio do rio, do mangue, da floresta e em contato com o cotidiano de ribeirinhos (a
Em 2021 e 2022, o Oryba recebeu a programação do projeto Dança Em Trânsito, em sua 19º e 20º edição, sob a coordenação da bailarina e coreógrafa Giselle Tápias- RJ. Nesta programação a comunidade ribeirinha assistiu grupos de dança do Brasil e Europa, entre eles, Grupo Tápias, Camaleão Cia
Aos poucos a comunidade ribeirinha vai recebendo e participando dos projetos realizados, afinal, este movimento artístico com maior frequência ainda é muito novo
VH – Agora, além do Oryba tu estás prestes a completar 25 anos de atuação, me descreva sobre o teu trabalho de pesquisa com a companhia.
WB – A Cia. Experimental de Dança Waldete Brito foi criada em 1998. Somos um núcleo de pesquisadores (a) da cena contemporânea, a Improvisação é o nosso principal caminho de criação para articular diferentes dramaturgias concebidas para espaços alternativos ou convencionais (teatro).
A concepção emerge do processo colaborativo com todos os integrantes da companhia, que neste momento é composta por sete intérpretes-criadores e mais uma diretora artística. Em geral, levamos cerca de cinco meses a um ano para a concepção de nova poética, estudamos juntos (a
VH – Como é dirigir uma das principais companhias de dança contemporânea do Pará ao longo desses anos? (uma ação de resistência, certamente).
Sim, sem dúvida manter uma companhia de dança independente que chega a marca de 25 anos de existência é, também, uma ação de insistência e resistência para se manter na cena local e nacional. Ganhamos alguns editais de circulação quando existia o Edital Klauss Vianna –
Além de gestora da dança, artista da dança, coreógrafa e professora de pilates, Waldete é professora da graduação e pós-graduação de dança na Universidade Federal do Pará. Te convido leitor (a) por meio deste texto, a saber mais sobre ela e o todo o caudaloso rio de dança que a Amazônia paraense pode te mostrar. Visite a dança paraense 😉
Para acompanhar o trabalho da Cia
Glossário:
Ilha do Combu: É a maior Ilha do sul do município de Belém, desde 1997, configura uma unidade de Conservação caracterizada como APA – Área de Proteção Ambiental, na lei nº 6.083, com a finalidade de proteger o ambiente e conter a derrubada de palmeiras de açaí, para extração de palmito.
Furo da Paciência: os furos são espaços navegáveis que ligam dois ou mais rios, neste caso o Furo da Paciência é o local onde se acessa o Oryba, este que fica sobre o Rio Benedito.
Popopô: Um pequeno barco de madeira, chamado de popopô pelos ribeirinhos amazônidas devido o barulho peculiar de seu motor.
*Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal MUD.