Foto: Nelson Miranda
A Taanteatro Companhia apresenta, de 10 a 14 de dezembro (quarta-feira a domingo) no Galpão do Folias, a OCUPAÇÃO DA VIOLÊNCIA: FANON, encerrando as atividades em homenagem ao centenário de nascimento de Frantz Fanon (1925–1961) – psiquiatra, escritor e militante anticolonial cuja obra influenciou profundamente os estudos sobre racismo, colonialismo e desumanização social. A programação gratuita reúne palestra do filósofo Peter Pál Pelbart, performances convidadas e o espetáculo Da Violência: Fanon, dirigido por Wolfgang Pannek com coreografia do moçambicano Mabalane Jorge Ndlozy.
A ocupação integra o projeto da companhia contemplado pela 36ª edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo e celebra o autor de clássicos como Pele Negra, Máscaras Brancas e Os Condenados da Terra. A iniciativa dá continuidade à trajetória dedicada ao centenário do pensador: em julho, a Taanteatro realizou a Ocupação Fanon 100 Anos, na Funarte SP, e, em setembro, estreou o espetáculo Da Violência: Fanon, aplaudido em temporadas nos Teatros Municipais e no Centro Cultural Vila Itororó.
As três performances, que integram a programação, ampliam o diálogo da Ocupação com poéticas corporais que atravessam ancestralidade, resistência e espiritualidade negra: Siaburu, de Dani Mara (13 de dezembro, sábado, 18h), costura dança-teatro e poesia para afirmar o corpo como território contra-colonial em movimento; Eco, Oco Preso no Peito, de Maria Emília Gomes (13 de dezembro, sábado, 19h), irrompe como um solo-manifesto que ecoa gritos coletivos silenciados pelas colonialidades, fazendo do corpo da mulher preta um espaço de confronto e pulsação ritual; e Negaça, de Urubatan Miranda (14 de dezembro, domingo, 18h), revisita memórias e narrativas ligadas à Umbanda, mobilizando a movimentação de Exu para reconstruir, em cena, um território de alteridade, ancestralidade e presença sagrada.
Cerimônia Coreográfica Audiovisual
Dirigido e dramaturgicamente concebido por Wolfgang Pannek, Da Violência: Fanon marca a estreia de Mabalane Jorge Ndlozy como coreógrafo no Brasil. O artista divide a cena com Mônica Bernardes, Gustavo Braunstein, Angela Mendes, Thaíse Reis e Acauã Soli.
Definida como “Cerimônia Coreográfica Audiovisual”, a obra estrutura-se em sete momentos – prelúdio, cinco movimentos e poslúdio – conduzidos por MC Fanon, alter ego ficcional que guia o público por camadas da história colonial e suas reverberações contemporâneas. Para Pannek, trata-se de uma experiência “poética e política”, capaz de atualizar a crítica fanoniana e conectar diferentes temporalidades da violência racial.
“O caráter cerimonial é pós-dramático. Em uma liturgia cênica híbrida, introduzimos Fanon como figura histórica, mas sobretudo atualizamos sua crítica. O arco dramaturgico vai do Código Negro de 1685 ao engajamento anticolonial dos anos 1950/60, chegando aos excessos da violência policial racista na atualidade”, afirma o diretor.
Corpo, dança e resistência
A coreografia de Ndlozy incorpora vocabulários de danças tradicionais africanas, especialmente o Xigubo, dança guerreira da província de Gaza (Moçambique). A fisicalidade dialoga com o taanteatro – teatro coreográfico de tensões – no qual a presença é atravessada por estados de conflito, enfrentamento e hipertensão muscular, conceito associado por Fanon aos efeitos da violência colonial sobre os corpos.
Entre os destaques cênicos estão o prelúdio Código Negro, que contrapõe imaginários coreográficos branco e negro, e a cena Não consigo respirar, ecoando a relação colonizador-colonizado e a permanência da violência policial na vida das populações negras.
Música, canto e paisagem sonora
A trilha sonora combina instrumentos acústicos africanos (timbila e tambores) a música eletrônica quadrofônica. O compositor Anderson Kaltner, em colaboração com Otis Selimane Remane e Mabalane Ndlozy, cria uma paisagem que atravessa referências pré-coloniais, coloniais e anticoloniais, incluindo afrobeat, reggae e sonoridades afrodiaspóricas brasileiras e caribenhas.
O tecido sonoro também incorpora ruídos urbanos, discursos políticos, coros multilíngues (criolo, changana, português e francês), além de respirações e batidas cardíacas. A cenografia audiovisual, executada ao vivo por VJ e criada sob curadoria visual do grafiteiro Thiago Consp, projeta textos e imagens sobre estruturas móveis, compondo um ambiente cênico em transformação contínua.
Programação:
10 de dezembro, quarta-feira.
19h – Da Violência: Fanon – Taanteatro Companhia.
20h30 – Pele árabe, máscaras judias: Dinâmicas coloniais na relação entre israelenses e palestinos – Palestra com Peter Pál Pelbart.
11 de dezembro, quinta-feira, 20h.
Da Violência: Fanon – Taanteatro Companhia.
12 de dezembro, sexta-feira, 20h.
Da Violência: Fanon – Taanteatro Companhia.
13 de dezembro, sábado.
18h – Siaburu – Dani Mara.
19h – Eco, Oco Preso no Peito – Maria Emília Gomes.
20h – Da Violência: Fanon – Taanteatro Companhia.
14 de dezembro, domingo.
18h – Negaça – Urubatan Miranda.
19h – Da Violência: Fanon – Taanteatro Companhia.
20h30 – Encerramento
Serviço:
OCUPAÇÃO DA VIOLÊNCIA: FANON
10 a 14 de dezembro, quarta-feira a domingo.
Ingressos gratuitos.
Galpão do Folias – Rua Ana Cintra, 213 – Santa Cecília, São Paulo.
Espetáculo

Foto: Nelson Miranda
Da Violência: Fanon
Com a Taanteatro Companhia
14 anos | 90 minutos
Ideia. Libreto e Direção – Wolfgang Pannek. Coreografia – Mabalane Jorge Ndlozy. Supervisão Artística – Maura Baiocchi. Elenco – Mabalane Jorge Ndlozy, Mônica Bernardes, Gustavo Braunstein, Angela Mendes, Thaíse Reis e Acauã Soli. Cenografia e Vídeo – Wolfgang Pannek. Operação de Vídeo – Flávio M. Silva. Desenho de Luz – Gabriele Souza.Operação de Luz – Murilo Goes e Sabrina Reis. Produção Musical – Anderson Kaltner. Ilustrações – Thiago Consp. Desenho Gráfico – Hiro Okita. Consultoria sobre Frantz Fanon – Deivison Faustino. Produção – Mônica Bernardes. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Fotos – Nelson Miranda. Assistência e Bilheteria – Cassiano Fraga e Thatiana Moraes.
Performances

Siaburu
Com Dani Mara.
30 minutos.
Performance de dança-teatro que entrelaça corpo, poesia e ancestralidade. Siaburu afirma o corpo como território contra-colonial, evocando memórias guiadas pela terra e pelo canto dos pássaros.
Criação e Dança – Dani Mara. Direção Musical – Siba Puri. Produção Musical – Rafa Synesthezk. Composição – Xipu Puri. Dramaturgia – Xipu Puri e Dani Mara. Caracterização – Jéssica Luiza Cardoso. Iluminação – Kai Vianna. Direção – Éden Peretta.

Eco, Oco Preso no Peito
Com Maria Emília Gomes.
20 minutos.
Solo-manifesto que dá voz à urgência dos gritos abafados pelas colonialidades estruturais. Uma performance de confronto, pulsação e resistência, em que a mulher preta reivindica sua presença ritual e política.
Concepção e Interpretação – Maria Emília Gomes. Percussão e Interpretação Sonora – Michel Yuri. Iluminação – Dida Genofre.

Negaça
Com Urubatan Miranda.
30 minutos.
Inspirado no universo de um terreiro de Umbanda, o solo reconstrói memórias ancestrais e mobiliza elementos da movimentação de Exu. Em cena, o corpo transita por cantos, rituais e narrativas ligadas às tradições afro-brasileiras.
Direção, Criação e Dança – Urubatan Miranda. Provocação Cênica – Deise Brito, Mônica Augusto e Verônica Santos. Fotografia – Denise Silva B. Trilha Sonora – Ricardo Mariani. Desenho de Luz – Rossana Boccia.
Portal MUD