Lia Rodrigues Companhia de Danças estreia Fúria no Sesc Consolação

O espetáculo discute fragilidades sociais do Brasil e dá continuidade às pesquisas de linguagem que Lia Rodrigues desenvolve desde 2004, quando passou a atuar em atividades pedagógicas e artísticas no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.

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Desde 2004, ano que inaugura a parceria com a Redes da Maré, a companhia já criou Encarnado (2005), Contra Aqueles Difíceis de Agradar (2005), Pororoca (2009), Piracema (2011), Pindorama (2013), Para Que o Céu Não Caia (2016) e Fúria (2018). Com o Núcleo 2, criou Exercício M, de Movimento e de Maré (2013) e Exercício P, de Pororoca e Piracema (2017). Destacam-se ainda no repertório do grupo, fundado em 1991, os premiados espetáculos Ma (1993), Aquilo de que Somos Feitos (2000) e Formas Breves(2002)

Chega a São Paulo no dia 10 de outubro, quinta-feira, 21h, no Sesc Consolação, o espetáculo Fúria, 20º trabalho da Lia Rodrigues Cia de Danças e o nono após a companhia firmar parceria com a Redes da Maré, uma OSCIP (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) criada e dirigida por moradores e ex-moradores da Maré, que tem como principal foco a realização de projetos dedicados a interferir na trajetória sócio-educacional e cultural dos moradores de espaços populares. A peça estreou em novembro de 2018 em parceria com o Festival de Outono de Paris no Théâtre National de Chaillot (Paris) e no teatro Le Cenqquatre (Paris). Desde então, percorreu sete países, 16 cidades e fez 41 apresentações. No Brasil, Fúria passou pelo Festival de Curitiba em março.

Em Fúria, um mundo povoado de imagens de dor, beleza, violência, opressão e liberdade se constrói e se desmancha sem trégua, diante dos olhos do público. Os corpos dos nove intérpretes da companhia (Leonardo Nunes, Felipe Vian, Clara Cavalcante, Carolina Repetto, Valentina Fittipaldi, Andrey Silva, Karoll Silva, Larissa Lima e Ricardo Xavier) se destacam e se perdem em meio às roupas, sacos plásticos, rejeitos, em uma mistura de cores, formas e texturas. Um trecho de uma música tradicional dos povos indígenas Kanak, da Nova Caledônia, repetido infinitamente, acompanha grande parte da performance.

“Como espiar o tempo em um mundo dominado por uma infinidade de imagens contrastantes – medonhas e belas, sombrias e luminosas – atravessadas por uma infinidade de perguntas não respondidas e perpassadas por contradições e paradoxos?  Como espiar o tempo em um mundo de fúria? Como dar visibilidade e voz ao que está invisível e silenciado?”. Esses são alguns dos questionamentos que Lia destaca como desencadeadores da obra.

A peça dá continuidade às pesquisas cênicas de Lia que passam pela questão da alteridade, da reinvenção de um corpo a partir de suas energias primitivas e da necessidade de engajamento no Brasil contemporâneo. “Esse título se refere tanto a uma violência que vem de fora, na forma de um ataque, quanto a uma necessidade de oposição, de luta”, diz a coreógrafa.  

A obra de Lia também investiga relações de poder, evidenciando desde as dinâmicas do dominado e do dominador até questões raciais e de gênero. Para a artista, a fúria explorada em cena também remete diretamente à situação específica da favela da Maré, onde se dá sua produção artística das duas últimas décadas.


Sobre a Lia Rodrigues Companhia de Danças, o Centro de Artes da Maré e a Escola Livre de Dança

A Lia Rodrigues Companhia de Danças foi fundada no Rio de Janeiro em 1990. Durante esses quase 30 anos de existência suas criações foram apresentadas por todas as regiões do Brasil, nas Américas do Sul e Norte, na Europa e na Ásia. 

Desde 2004, apresentada por Silvia Soter, professora e dramaturgista, desenvolve ações artísticas e pedagógicas na Maré, no Rio de Janeiro, em parceria com a Redes da Maré. A Redes é uma OSCIP criada e dirigida por moradores e ex-moradores da Maré, que tem como principal foco a realização de projetos dedicados a interferir na trajetória sócio-educacional e cultural dos moradores de espaços populares. A Maré é uma das maiores favelas do Rio de Janeiro com mais de 140.000 habitantes. 

Da parceria entre a Companhia e a Redes da Maré nasceram o Centro de Artes da Maré em 2010 e Escola Livre de Dança da Maré em 2011. O Centro de Artes da Maré – também a sede da Lia Rodrigues Companhia de Danças – é um espaço direcionado para a formação, criação e difusão das artes, onde são realizados diversos projetos culturais e sociais. A Escola Livre de Dança da Maré realiza um trabalho continuado de atividades gratuitas, articulando dança, ações de formação e sócio educativas em torno de dois núcleos: Núcleo 1 que oferece oficinas e aulas diversas frequentadas por mais de 300 alunos por ano; e o Núcleo 2, de formação continuada em dança, que oferece a 20 jovens, selecionados através de audição, uma formação intensiva em dança, com aulas práticas e teóricas.


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