VIVER COM, MORRER COM

O trabalho é uma célula do projeto Fabulações Simpoéticas, que o coletivo circense A Penca desenvolve há cerca de 4 anos, investigando parcerias criativas entre mulheres e árvores.

Após passar um período acompanhando o serviço de poda de árvores de São Paulo e coletando troncos, galhos e histórias, as artistas propõem uma ressignificação das matérias naturais que seriam descartadas como lixo pela grande cidade.

Inspiradas por estudos sobre natureza e gênero, utilizando práticas de movimentação aérea. de circo e manipulação de objetos, transformam pedaços de árvores em protagonistas e parceiros cênicos, confabulando possibilidades de estar em relação e inventar mundos.

Na esteira do pensamento ecofeminista ou de autoras como Silvia Federici, nós, mulheres e/ou grupos e espécies que foram tiradas do caminho pelos processos de modernização, buscamos inventar mundos e ferramentas para garantir nossos espaços de existência.

Entre pânico e redenção, temos o fato que a natureza e suas feras também manejam a cidade, também manejam a humanidade. O que nos chega não somente pelas tragédias e riscos que vivenciamos em níveis globais, mas também pela comoção gerada quando, por exemplo, um humano representante da civilização é esmagado por uma árvore que tomba sobre sua cabeça ou se transforma em presa de um urso. Isso escancara ironicamente os limites de suas ferramentas, fazendo brilhar as encruzilhadas tecnomágicas em que se desenham os caminhos da vida e da morte. O ser humano também é artifício, afinal. No redemoinho das narrativas e operações que sustentam o Antropoceno, o que nos resta, nas palavras de Donna Haraway, é seguir com o problema, viver e morrer com responsabilidade e buscar outras formas de associação entre as espécies.

Como também colocam outras pensadoras relacionadas às epistemologias do sul, resta-nos criar novos mundos em arranjos multiespécies, como já vêm fazendo há muito tempo tantos grupos que foram historicamente excluídos da ideia de civilização.

FICHA TÉCNICA:

Concepção, pesquisa, direção e escrita cênica: A Penca @a__penca
Provocação dramatúrgica: Noel Rosas
Orientação no trabalho corporal: Ilana Elkis
Desenho e operação de luz: Letícia Trovijo
Trilha sonora original: Flaira Ferro
Produção: Fernanda Vilela
Fotos: Aline Braga
Em cena: Andréa Barbour, Bárbara Francesquine, Maria Carolina Oliveira.

*Excepcionalmente no dia 21/04 (sexta-feira) a apresentação acontecerá às 18h