Segundo trabalho da Gana Coletiva, o espetáculo de dança e performance ROXA reflete sobre a identidade de gênero de corpos não-binários e a condição de pessoas que vivem com HIV.
Com concepção e performance de Andrew Tassinari (Roxa) e direção e dramaturgia de Cassiano Fraga, a obra parte da autobiografia de Roxa para abordar questões fundamentais na existência de pessoas queer, como a não-generidade dos vestuários e o pensamento sobre seus usos sociais e artísticos, e a incomunicabilidade destes temas dentro de estruturas familiares conservadoras.
Ao mesmo tempo, o espetáculo explora as relações que desenvolvemos com as materialidades no nosso cotidiano e repensa o conceito de “lixo”, duas pesquisas muito importantes para a artista performer. “Eu sou uma acumuladora, tenho muita dificuldade de desapegar dos objetos. Por isso, fazer o ROXA faz parte de um processo de cura pra mim. Vou conseguir ressignificar e dar um uso real para algumas coisas da minha casa”, comenta Tassinari.
Para a construção da dramaturgia, Cassiano e Andrew partiram de algumas perguntas-dispositivo: como podemos repensar o mundo a partir da história de Andrew? Como dançar a violência e trazer a humanização dos corpos para um movimento? Como criar uma estética não-binária de movimento, considerando que a dança contemporânea, mesmo que alicerçada no princípio da neutralidade, foi construída e desenvolvida por corpos binários? Como a ideia da acumulação compulsiva pode ser um importante elemento performativo para a constituição do figurino? Como a ideia de um “corpo-criatura” nos provoca a pensar sobre uma estética “outra” para nossas corpas?
Sobre a encenação
Com essas ideias em mente, a cenógrafa Denise Fujimoto se uniu à iluminadora Nara Zocher para criar uma espécie de cenário-instalação que desse conta desses diversos materiais trabalhados por Roxa e Cassiano. O objetivo é fazer com que essa iluminação e essa cenografia potencialize a estética da Roxa, ditando seus discursos narrativos.
Enquanto se movimenta pelo palco, Roxa interage com uma escada, um carrinho de feira, manequins, origamis, latas, entre outros. E, seguindo uma proposta de upcycling, os figurinos assinados por Guma Joana foram desenvolvidos com diversas materialidades do acervo pessoal de Roxa, como cartões de crédito, tampinhas, plástico transparente e outros elementos que seriam facilmente descartados.
ROXA mescla elementos de balé clássico, dança contemporânea, performance e teatro. É uma síntese das linguagens que atravessam o dia a dia de Tassinari – todas unidas para a criação de uma experiência poética que toque no sensível mais profundo do ser humano: a sua capacidade de empatia. Assim, o trabalho busca humanizar os corpos tão marginalizados na nossa sociedade.
Para guiar a narrativa, a trilha sonora de Renato Navarro está sendo construída junto com o espetáculo. “Ele acompanha os nossos processos e nos apresenta composições que conversem bem com as cenas. E nesse diálogo entre os diversos elementos sonoros e as movimentações da Roxa, vamos encontrando sutilezas e potências para as nossas cenas”, explica o diretor.
Ao explorar sua estética única e construir uma experiência performática que atravessa o passado da Roxa, o grupo convida o público a se aliar na luta contra o ódio e o preconceito. “Não queremos trazer respostas prontas. Nossa ideia é fazer os espectadores refletirem sobre tudo o que estão vendo, repensando suas atitudes e crenças”, comenta Fraga.
Sobre a Gana Coletiva
Criada em 2022, a Gana é um coletivo de artes performativas que desenvolve uma pesquisa de linguagem localizada na intersecção entre teatro, dança e performance. Nosso trabalho de estreia, “LETI”, deu início às nossas investigações dentro do universo da autobiografia, criando os primeiros contornos de nossas pesquisas. Nossos processos criativos encontram nas biografias dos artistas os materiais necessários para desenvolvermos tanto nossas dramaturgias autorais como nossas pesquisas estéticas. Assim, nessa busca por uma poética que seja própria de cada história/corpo, encontramos nas nossas singularidades um eco para a coletividade. Através dos nossos trabalhos, queremos tocar, mexer, provocar, deslocar, desorganizar e reorganizar os olhares do público, e assim, convidá-los a pensar e repensar o mundo em que vivemos.
Sinopse
Andrew Tassinari, mais conhecide como Roxa Caótica, convida o público para conhecerem ROXA. Partindo de sua autobiografia, traz à tona questões elementares da sua história e do universo queer. Através de uma estética própria, Roxa nos provoca a olharmos para a identidade de gênero não-binária, para a condição das pessoas que vivem com HIV, e a partir dessa experiência, convoca a todes para, em resistência ao ódio e a intolerância, celebrarmos nossas corpas, nossas identidades e nossas vidas.
FICHA TÉCNICA
Concepção e performance: Andrew Tassinari (Roxa) Direção e dramaturgia: Cassiano Fraga Trilha sonora e desenho de som: Renato Navarro Cenografia: Denise Fujimoto Figurinos: Guma Joana Desenho de luz: Nara Zocher Provocação cênica: Marcelo D’Ávilla Preparação corporal: Valéria Mattos e Paula Firetti Fotografia: Chico Castro Audiovisual: Hugo Faz Redes Sociais: Patrícia Soso Cenotécnica: Flávia Ferreyra Ninha Monstro Design gráfico: Paco Vasconcelos Direção de Produção: Cassiano Fraga Assistente de Produção: Thatiana Moraes Assessoria de Imprensa: Canal Aberto Realização: Gana Coletiva
Informações do evento
Datas e Horários:
30 de agosto de 2024
até 1 de setembro de 2024
19:00 às 20:10 -
Domingo
20:00 às 21:10 -
Sexta-Feira
20:00 às 21:10 -
Sábado
Entrada Gratuita
Classificações: 16 anos
Acessibilidade: Com Acessibilidade
Site: https://www.sympla.com.br/roxa---teatro-arthur-azevedo-sala-multiuso__2529718
Formato do Evento: Presencial
Local: Teatro Arthur Azevedo - Sala Multiuso
Endereço: Avenida Paes de Barros, 955, até 1361 - lado ímpar - São Paulo / SP - 03115-020
Localização: